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O desaparecimento das bases de copos (ou a perda da elegancia)

Os consumidores, os restauradores e os especialistas do sector contam a extinção deste acessório essencial para beber cerveja de forma cuidada.

Teo Camino

A espuma da cerveja pinga numa mesa sem bases para copos / PEXELS

Desapareceram. Já não decoram as mesas de bares e restaurantes. Nem sequer com o vermelho de Damm e Cruzcampo, o dourado de San Miguel ou o verde de Heineken. A sua superfície aveludada já não apanha as gotas que emanam do copo de cerveja gelada. Gotas que agora caem para as calças e encharcam uma zona incómoda.

Por que os bares e restaurantes já não põem bases de copos? Perguntamos a restauradores, consumidores e peritos do sector hostelero sobre este desaparecimento silencioso que impede beber cerveja pura. Elegantemente.

Adeus às bases de copos

Até há pouco, era habitual que os funcionários colocassem o copo de cerveja fria sobre uma base de copos promocional do fabricante de turno. No entanto, este gesto tão popular uns anos atrás "foi-se perdendo", aponta Manel Morillo, cofundador de Con Gusto Consulting.

Base de copos de San Miguel / TODOCOLECCIÓN

"As bases de copos estão a desaparecer paulatinamente", concorda Manolo Fernández, diretor da Gestora Hostelera Global, que atribui a perda deste prático acessório a dois motivos.

Um tema económico e ecológico

Talvez seja uma questão de redução de merchandising por parte dos grandes fabricantes de cerveja, ou talvez seja uma questão de redução de resíduos? O desaparecimento das bases de copos deve-se, evidentemente, a uma questão ecológica e económica”, afirma Fernández E acrescenta: "Por isso as cervejeiras já não as presenteiam e mal as fabricam, porque já não há tanta procura e têm um custo importante. Agora vendem-as". De facto, a última base de copos que desenhou San Miguel data de 2016.

Base de copos retro à venda na Milanuncios

Segundo Victoriano Porto, inspector da Guia Michelin durante 35 anos, "é um tema de poupança de custos e de comodidade (menos trabalho)".

“Acho que é terrível”.

“Já não se encontram. Acho horrível porque a água escorre toda a água e tenho de dizer ao empregado para secar a mesa”, critica a consumidora Mª Jesús Cid em declarações à Consumidor Global. “Em vez de gastarem noutras coisas, podiam comprar bases para copos, se não as dão”, sugere. 

"A contribuição de valor, de uma verdadeira elegancia, foi-se perdendo e produziu-se um desaparecimento silencioso", aponta Morillo.

Uma montanha de guardanapos

“Acabo por pôr guardanapos debaixo do copo para não me molhar, mas gasto uma montanha de guardanapos...”, diz Cid.

Uma base de copos no restaurante do clube Padel Tibidabo de Barcelona / TEO CAMINHO

Nesta altura, ambos os especialistas concordam que o consumidor acaba por deitar fora os guardanapos, pelo que a causa ecológica do desaparecimento das bases de copos perde força.

Os defensores das bases de copos

"Cada vez encontras menos bares e restaurantes com esse ponto clássico no qual te põem bases de copos de qualidade, sabendo inclusive que há pessoas que até as colecciona", aponta Iván Morais, cofundador do Grupo Arzábal.

Em locais movimentados, “pode ser uma despesa excessiva colocar bases para copos em cada copo de cerveja, mas nós somos defensores das bases para copos. Gostamos muito delas e talvez devêssemos empenhar-nos em recuperar este elemento tão identificador de locais de qualidade”, acrescenta Morales.

O último reduto

"Conservam-se em bares de cocktails e cervejarias artesanais por um tema de prestígio", lembra Morillo. Assim é, o comensal praticamente só encontrará bases de copos neste tipo de locais e em restaurantes com estrela Michelin ou similares.

Depois de vários dias à procura de uma triste base de copos numa mesa de bar, a da imagem acima foi a única que este colunista encontrou. “É uma pena, porque faziam o seu trabalho e davam um certo prestígio ao estabelecimento”, diz Fernández.