Se pensarmos nas cenas mais famosas da Segunda Guerra Mundial, podemos pensar nos combates ferozes nas ruas em ruínas de Estalinegrado, nos desertos do Norte de África por onde passaram Montgomery e Rommel, nas densas florestas e montanhas da região das Ardenas ou nas praias de Normandía. O que é invulgar é pensar em Huelva.
Mas as costas desta província andaluza tiveram uma importância estratégica muito significativa durante o conflito. De facto, um cadáver encontrado aqui, concretamente na praia de El Portil, facilitou a conquista da Sicília pelos Aliados. Este enigmático corpo sem vida foi encontrado entre os municípios de Punta Umbría e Cartaya. Trazia consigo uma série de documentos que levaram os alemães a acreditar que os Aliados desembarcariam na Grécia e não na Sicília, o que os levou a dividir as suas forças e, consequentemente, a salvar milhares de vidas.
'A arma do engano'
Foi, em suma, uma magnífica manobra dos serviços secretos britânicos para confundir Hitler. Este facto é contado no filme The Deception Weapon, realizado por John Madden e protagonizado por Colin Firth e Matthew Macfadyen, que se baseia na chamada Operação Mincemeat.
"Na primavera de 1943, uma descoberta na costa de Huelva mudou completamente o curso da Segunda Guerra Mundial. Era o cadáver de um capitão da Marinha Real britânica, William Martin, na posse do qual se encontravam documentos que revelavam informações decisivas para o futuro do conflito: os planos dos Aliados no Mediterrâneo", explica a RTVE. O que é relevante é que nem William Martin existiu “nem esses planos foram levados a cabo”.
Documentos para enganar
Para que os alemães mordessem o isco, o grupo de inteligência britânico especializado em contraespionagem e desinformação que concebeu a operação incluiu uma série de documentos no casaco do falecido William Martin: uma fotografia da sua namorada, fotografias, cartas de amor, um molho de chaves, bilhetes de teatro recentes.....
Praia de El Portil, em Punta Umbría (Huelva) / EP - CONSELHO MUNICIPAL DE PUNTA UMBRÍA
Atualmente, a sepultura de William Martin (cuja verdadeira identidade é desconhecida, mas pensa-se que poderá ter sido um vagabundo galês) encontra-se no cemitério de Huelva.
Pegada do conflito
Atualmente, a praia de El Portil é um areal com cerca de 4 quilómetros de comprimento e cerca de 40 metros de largura. A marca do conflito está também presente numa série de bunkers construídos por volta de 1943, em resposta à invasão do Norte de África pelos Aliados, que teve lugar em novembro de 1942.
Além disso, a praia dispõe de instalações para desportos náuticos e existem vários pontos de onde partem ferries que levam os viajantes até Flecha del Rompido. “A sua localização, na foz do rio Odiel e a dois passos da paisagem natural da Laguna de El Portil, torna-o um destino ideal para os amantes da natureza”, explica a Barceló Experiences.
Águas calmas
Nesta praia, as águas são calmas e há muitas zonas de sombra, bem como casas de banho públicas.
Não há qualquer razão para acreditar que, há mais de 80 anos, a descoberta do corpo de um mendigo que se fazia passar por oficial da marinha britânica tenha contribuído para a derrota do Terceiro Reich.