"Viu-se-lhe, caminhando entre fuzis, por uma rua longa, sair ao campo frio, ainda com estrelas da madrugada. Mataram a Federico quando a luz assomava". Estes versos do crime foi em Granada de Antonio Machado recordam ao trágico final do poeta, dramaturgo e prosista mais influente do século XX em língua espanhola.
Federico García Lorca, nascido o 5 de junho de 1898 em Fonte Vaqueiros (Granada), foi membro destacado da Geração do 27 e renovou o panorama literário com obras como Casamentos de sangue, Erma e A casa de Bernarda Alba. A noite do 18 de agosto de 1936, durante os primeiros compases da Guerra Civil, Lorca foi detido em sua terra natal, transladado e fuzilado entre Víznar e Alfacar, num assassinato que tem permanecido como símbolo da repressão franquista.
Uma viagem às últimas horas de Federico
Quando se cumprem 89 anos de seu assassinato chega ao Teatro Pavón de Madri uma obra inacabada de Lorca que revive suas últimas horas de vida.
A obra, titulada A Comédia Sem Título, poder-se-á ver de 3 ao 8 de setembro e não só completa o texto que Lorca deixou inconcluso, sina que também se apoia em recentes investigações sobre seu assassinato. Assim, o público é testemunha das horas prévias a sua morte, desde sua detenção na casa da família Rosales em Granada, até o momento de seu fusilamiento.
Uma reconstrução com novos dados
A montagem tem utilizado os dados dos pesquisadores Ian Gibson e Miguel Caballero, quem têm contribuído detalhes cruciais sobre o crime. A obra baseia-se nos expedientes militares e policiais dos que estiveram presentes a noite do assassinato.
A trama arranca o 16 de agosto de 1936, enquanto Lorca ensaya a obra O sonho de uma Noite de Verão de William Shakespeare com a família Rosales. Nesse momento, um grupo de homens, liderados por Juan Luis Trescastro, detêm-no. Ainda que o objectivo inicial era ir a pela família Rosales, terminam levando-se a Federico.
A confesión de um sobrinho neto
Um das descobertas mais impactantes utilizados na obra prove/provem de Miguel Caballero, quem achou o depoimento de um sobrinho neto da primeira mulher do pai do poeta, Matilde Palácios. Seu nome, Antonio Benavides, quem confessou ter disparado a Lorca na cabeça. Graças a esta documentação, a montagem recreia as conversas que o poeta pôde manter com seus verdugos em suas horas finais.
Com um elenco de 12 actores, entre os que se encontram Juanma Díez Diego, César Lucendo, Valentín Paredes, Alberto Closos, Rebecca Arrosse, Bárbara Caffarel, Antonio Ponce e Enrique Simón, a obra tem cosechado uma grande ovação do público e a crítica em sua gira por Espanha. Sua estréia no Teatro Campoamor de Oviedo foi um sucesso rotundo, com uma ovação a mais de sete minutos.