Sprinter irrita ao proibir as devoluções para "melhorar a atenção ao cliente"

A corrente de venda de material e roupa desportiva desata a polémica com uma decisão legal mas que muitos consideram que carece de "sentido"

Una tienda de Sprinter   SPRINTER
Una tienda de Sprinter SPRINTER

Alguns passaram de longo sem se fixar. A simples vista, nada parecia fora do comum e, por dentro, tudo seguia funcionando como de costume. No entanto, desde novembro passado, algo tinha mudado em todas as lojas da corrente Sprinter.

No escaparate, um discreto cartaz informativo passou inadvertido para muitos até que chegou o 7 de janeiro, quando captou a atenção de todos e se desatou uma onda de comentários nas redes sociais. A mensagem, breve mas contundente, rezava: "Para oferecer um melhor serviço de atenção ao cliente não poder-se-á realizar mudanças ou devoluções nos dias 7 e 8 de janeiro de 2025".

O eco do descontentamento com Sprinter

Um dos clientes que se percató tarde do cártel foi Juan Manuel da Rosa, quem expressou sua crítica para a corrente de venda de material e roupa desportiva na rede social X (dantes Twitter). "Na loja de Sprinter do shopping WAY em Duas Irmãs (Sevilla) proíbem as devoluções até o 9 de janeiro. Dizem-me que não é ilegal e que me aguente", enfatiza.

El cártel de Sprinter CEDIDA (2)
O cártel de Sprinter / CEDIDA

Mireia G., quem também trabalha no sector retail, critica a decisão: "Segundo eles, esta medida é para melhorar a atenção ao cliente. Mas, a quantidade de gente que virá a se queixar não conta? Parece-me surrealista".

A perspectiva de trabalhadores do sector

Para Mireia G., a decisão de Sprinter de proibir temporariamente as devoluções carece de sentido. "Dizem que é pelas rebajas, mas eu também trabalho em loja e sei perfeitamente que no dia 7 sempre há devoluções. Habilitas um espaço para gerí-las e assunto resolvido. É um sinsentido absoluto", clama.

"Como pode ser isso? É a primeira vez que escuto algo assim, e levo mais de 12 anos trabalhando numa loja de roupa", realça também Sara Osorio. "Sempre se soube que no primeiro dia de rebajas é quando mais devoluções recebemos, porque a gente aproveita para comprar em rebajas e devolver o anterior. É que não tem nenhuma lógica", contribui sua perspectiva.

"Não o entendo"

Um trabalhador de um estabelecimento de Sprinter, que preferiu manter o anonimato, detalha a Consumidor Global como se gestó a decisão e como foi comunicada. "Isto se avisou com tempo. Quando a gente comprava pensando nos Reis, se lhes informava de antemão. O motivo, a verdade, não o sei. Supõe-se que é para evitar aglomerações, mas se o 7 e o 8 não tinha devoluções, o 9 a loja estava cheia. De modo que, sinceramente, não o entendo", declara.

"Quanto à legalidade, a verdade é que não me meto. Se fazem-no, suponho que será legal. Informou-se com suficiente antelación, desde novembro ou inclusive dantes; o problema é que alguns não prestam atenção ou simplesmente não se importam", assinala o empregado a este meio

Legalidade e direitos do consumidor

A Lei Geral para a Defesa dos Consumidores e Utentes (Real Decreto Legislativo 1/2007) garante o direito a devolver produtos não defeituosos em comércios físicos dentro de um prazo mínimo de 14 dias desde a compra, ampliado em muitas lojas até 30 dias, desde que assim o tenha anunciado previamente o estabelecimento.

Ainda que esta legislação não proíbe expressamente a suspensão temporária de devoluções por razões operativas, sim exige que os consumidores sejam informados de maneira clara e com suficiente antelación. Neste caso, Sprinter colocou cartazes e avisou nas caixas desde faz meses

A mensagem deve ser clara

"A mudança de artigos não defeituosos em loja não é obrigatório para os comércios, é uma condição preferente para o consumidor que melhora seus direitos", aclara Jesús P. López Pelaz, diretor do Bufete Advogado Amigo. "Portanto é legal que uma loja o ofereça e também que outra não o faça. Sendo possível não o oferecer, é possível também suspender este direito", assinala.

El interior de una de las tiendas Sprinter en España
O interior de uma das lojas Sprinter em Espanha

"Agora bem, quando uma corrente tem oferecido este direito de forma recorrente de forma que o consumidor confia na devolução, porque é uma condição conhecida do comércio, o anúncio tem que ser especialmente claro, expresso e visível para que possa opor ao cliente, não porque seja ilegal não o ter senão porque deve ser informado da mudança de condições na compra a realizar", conclui López.