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O chat Cupido de Vodafone, um extra que a companhia cobra a seus clientes sem que saibam que pagam

Esta opaca e pouco conhecida aplicativo apresenta-se como uma sorte de Tinder, enquanto sua contratação por parte do consumidor não é clara nem segura

Juan Manuel Del Olmo

Una clienta de Vodafone descubre los cobros del Chat Cupido

Na mitología clássica, Cupido é o deus do enamoramiento e tem a forma de um menino alado armado com arco e carcaj. Adorable, mas perigoso. Aparece em alguns quadros magníficos de Tiziano, Caravaggio ou Velázquez. Também é o nome de uma banda de electropop e o de algo muito menos agradável e artístico: um serviço de chat que Vodafone tem cobrado a muitos clientes sem que estes tivessem nem ideia de que o tinham contratado.

Tal e como descrevem vários consumidores, sua sensação é que o chat Cupido se activa quase por arte de magia. Em mudança, desde a empresa telefónica acham que não há armadilha nem cartón. Todo o vale, diz-se, no amor e na guerra.

Um serviço que se contrata sem o saber

Primi Escobar é um dos clientes de Vodafone que se percató de que estava a pagar este produto sem saber que era. Tem mostrado a Consumidor Global qual foi a resposta da empresa quando pediu explicações: desde a companhia alegavam que o extra Cupido "é um serviço de Chat & Dating gerido por Mondia e no que Vodafone faz de passarela de pagamento. O serviço não se empurra nem promove por parte de Vodafone. A única maneira de cadastrar-se é fazê-lo desde os banners que se mostram nas campanhas de captación realizadas pelo terceiro, pelo que só se pôde gerir através do dispositivo. Sentimos informar-te que não procede abono por este motivo".

Logo de Vodafone numa loja da companhia telefónica em Madri / EUROPA PRESS - EDUARDO PARRA

Isto é, que a culpa era sua por clicar num banner e que se apañase. "Não me devolveram nada, segundo eles não lhes compete, de modo que eu, quando mo cobraram, chamei para me descadastrar. E 3 meses demoraram em tramitá-la", acrescenta. Agora falta por ver, relata, se não lho carregam no extracto do último mês. "O curioso é que eu não contratei em nenhum momento este serviço nem sei de que se trata, me dei conta ao ver a factura", sublinha Escobar.

Chat entre utentes registados

O site não é bem mais esclarecedora. Diz-se que o chat Cupido "oferece aos utentes, mediante a app e o lugar site, o acesso limitado a um banco de dados através da qual podem se conhecer para estabelecer relações pessoais. O banco de dados contém perfis com fotos e informação sobre o resto dos utentes. Os utentes registados podem consultar estes perfis e informação e pôr-se em contacto com outros utentes mediante o chat ou através de videollamada". Isto é, uma sorte de Tinder, com a possibilidade de acrescentar um ponto mais picante.

Ángel Marco é outro afectado por estas estranhas cobranças. Explica que, quando se reclama a Vodafone por este motivo, a entidade alega que os responsáveis são os clientes. "Tenho realizado vários telefonemas e sua última resposta é que o chat passa a factura a Vodafone", afirma.

Uma pessoa olha seu móvel / PEXELS

Três cliques em diferentes ecrãs

Este consumidor acha que há muitos afectados por este chat, o que lhe levou a propor a possibilidade de apresentar uma demanda coletiva. Mas ao final não fructiferó porque "10€ ou 8€ é muito pouco, e claro, a gente muda de companhia e pronto. Mas se Vodafone tem realizado estas cobranças indevidas ao longo dos anos, são quantias económicas bastante grandes", precisa.

Consumidor Global tem perguntado a Vodafone por isto, e fontes da companhia explicam que, para que um cliente contrate o chat Cupido, é necessário que faça até três cliques em diferentes ecrãs, pelo que consideram que é um processo seguro. De facto, afirmam, o último clique é um enlace à App Store, onde o cliente pode descarregar o aplicativo. Não obstante, admitem que pode ter casos nos que a assinatura não seja intencionada, e por isso tratam individualmente a cada situação. Chegado o caso, asseguram desde Vodafone, efectuam a devolução do dinheiro. Ademais, afirmam, cedo mudarão suas condições para que cancelar as assinaturas a estes serviços seja mais singelo e ágil para seus clientes.

Um engano desde o ponto de vista jurídico

Samuel Parra é um advogado especializado em Direito Tecnológico, tecnologia relacionada com a informática e transparência. Este experiente opina que a assinatura a este tipo de serviços se faz de forma opaca. A ele mesmo lhe ocorreu, ainda que não com o chat Cupido. "Não é que o consumidor aceite algo sem querer, sina que a empresa consegue que se subscreva aproveitando algum tipo de vulnerabilidade", expressa.

Um edifício de Vodafone / EUROPA PRESS

Ademais, tal e como indica, ainda que Vodafone actua como passarela de pagamentos, fica uma parte, de modo que o lucro é evidente. Por isso, se a assinatura não é transparente nem bilateral, "desde o ponto de vista jurídico, seria um engano".

"Se fincas, ainda que seja por erro, já te realizam o cargo"

Os pais de Juan González também caíram nesta rede. "Meus pais são os que têm contratado com Vodafone e os que manejam as linhas e as facturas. Por sorte, meu pai maneja-se muito bem com as tecnologias, pelo que foi ele quem detectou a cobrança deste serviço na factura", expressa. Pesquisou um pouco, e deu-se conta de que não eram os únicos. Ademais, precisa González, o cargo aparece especificado na factura do aplicativo de Vodafone, mas "é enrevesado aceder" e comprová-lo.

Assim as coisas, González foi junto a seus pais a uma loja física a pedir explicações, onde lhes disseram que ao navegar por internet aparecem janelas emergentes nas que "se fincas, ainda que seja por erro, já te realizam o cargo e directamente ativas a assinatura mensal". Todo este enredo, remacha este afectado, está "permitido pelas grandes telecos, que são as únicas que se beneficiam com isto".

Clientes de vodafone / VODAFONE

Uma quantidade pequena pela que não sai a conta reclamar

A Laura Mustang também lhe cobraram o chat Cupido, e protestou por redes sociais com menção a Vodafone incluída. "Em Vodafone não rectificaram, sim que é verdade que a quantia é pequena, creio recordar que eram 2 euros, mas não me deram explicações, simplesmente desactivaram esta opção e já", expressa. Por uma quantidade tão escassa, afirma, não lhe saía a conta reclamar, e supõe que é precisamente disso de "do que se aproveitam".

Há quem sim reclamaram. Existe uma sentença da junta arbitral de Consumo das Ilhas Baleares que evidência a responsabilidade de Vodafone. Nesse documento recolhe-se que a uma mulher "se lhe cobram uns serviços chamados 'chat Cupido', que a reclamante nega ter contratado". Esta entidade diz também que, "como é Vodafone quem facturar e cobra ditos mensagens, deve cumprir o estabelecido na Carta de Direitos do Utente dos Serviços de Comunicações Eletrónicas e fazer factura separada desses serviços para que o utente decida se os paga ou não". Por isso, se estimaram as pretensões de anulação dos cargos, e se determinou que Vodafone devia abonar 14 euros à afectada.