Tenho de dizer que ainda recordo certa frase que dizia minha mãe quando era pequena de que "há pessoas capazes de vender gelo a um esquimal" quando escuto os discursos de Mark Zuckerberg, sobre o dispositivo que —segundo ele e seu critério empresarial— todos deveríamos comprar se não queremos nos ficar fora dos avanços "cognitivos" e tecnológicos.
Poderíamos dizer-te querido consumidor que dada sua experiência no sector tech e seu avispado olfacto para os negócios o CEO de Meta tem a verdade absoluta sobre esta matéria… mas o verdadeiro é que a julgar pelo acumulado de perdas (que ronda os 70.000 milhões de dólares desde faz escassos cinco anos de seu lançamento) igual confiar em sua palavra não resulta tão boa ideia. Ainda que a dizer verdade, ele não se baixa de seu discurso de que o futuro da humanidade passa por adquirir este curioso invento baseado —como não— na IA.
Zuckerberg antecipa um futuro dominado pelas gafas com IA
Mark Zuckerberg, CEO de Meta, lançou recentemente uma predição que não tem passado desapercibida: nuns anos, quem não utilizem gafas potenciadas com inteligência artificial estarão em clara desvantagem em frente a quem sim o façam. A afirmação chegou durante a apresentação de resultados do segundo trimestre, onde o executivo compartilhou como espera que estes dispositivos transformem a maneira em que nos relacionamos com a informação.
Segundo o fundador de Facebook, as gafas inteligentes converter-se-ão na forma mais natural de interacção com a IA, ao permitir que a tecnologia "veja, escute e converse" com o utente em tempo real. Meta não descarta incluir ecrãs nestes acessórios, o que abriria a porta a experiências tão variadas como interfaces holográficas ou desenhos mais discretos para o dia a dia.
O ecossistema de hardware de Meta
A companhia leva anos investindo milhares de milhões em construir a próxima grande plataforma tecnológica. Um exemplo tangível são as Ray-Ban Meta e as Oakley Meta, gafas que integram funções como reprodução de música, captura de fotos e vídeos ou acesso direto a Meta AI. Aposta-a não é menor: as vendas têm-se triplicado em comparação com o ano passado, segundo cifras do grupo EssilorLuxottica.
@nilojeda pov: as novas gafas de @raybanmeta #RayBanMeta ♬ som original - Nil Ojeda
Por trás desta estratégia está Reality Labs, a divisão de Meta focada em realidade aumentada, virtual e interfaces inmersivas. Pese a acumular perdas que se contam em milhares de milhões de dólares desde 2020, Zuckerberg faz questão de que esta despesa é um investimento em longo prazo para dar forma ao futuro tecnológico.
@fechu Ray-Ban Meta (2023). Anteojos inteligentes que provei pela primeira vez em CES 2023 e agora tenho em sua segunda edição. Que querem saber deste dispositivo!? Leio-os em comentários! #meta #smartglasses #tech #tecno #review #tech #tecno #fyp #parati #hardware ♬ som original - Federico Ini
Vantagem competitiva e adopção cultural
Zuckerberg sustenta que as gafas com IA têm muitas mais possibilidades de se consolidar que outros dispositivos experimentais como pines ou colgantes inteligentes. O razonamiento é simples: boa parte da população já está habituada a usar gafas, o que suaviza as barreiras de aceitação social.
Ademais, a posição destes dispositivos —justo em frente aos olhos e ouvidos— converte-os num canal privilegiado para recopilar dados visuais e sonoros, fundamentais para aplicativos avançados de inteligência artificial.
O diretor também vinculou este desenvolvimento com sua visão do metaverso. Em sua opinião, as gafas serão a interface perfeita para unir os mundos físico e digital, acelerando a convergência graças ao poder da IA.
A conexão com o metaverso
Zuckerberg não perde de vista seu grande projecto: o metaverso. Para ele, as gafas não só serão uma ponte para a IA, sina também a interface essencial para ligar o mundo físico com o digital. "A outra coisa fascinante das gafas é que serão a forma ideal de fundir os mundos físico e digital. De modo que toda a visão do metaverso acabará sendo importantíssimo, e a IA o vai acelerar", afirmou.
Neste sentido, aposta-a de Meta não se limita a criar um novo gadget, sina a construir um ecossistema que integre inteligência artificial, realidade aumentada e realidade virtual num sozinho meio.
Uma desvantagem cognitiva para quem não se adaptem
Quiçá a declaração mais provocadora de Zuckerberg foi sua advertência sobre as consequências de não adoptar esta tecnologia. Em sua opinião, não usar gafas com IA —ou algum dispositivo equivalente— poderia significar uma "desvantagem cognitiva significativa" com respeito a quem sim o façam.
Em outras palavras, a brecha digital do futuro não estará marcada unicamente pelo acesso a internet ou a dispositivos móveis, sina também pela capacidade de aproveitar tecnologias portáteis que ampliem a mente humana mediante inteligência artificial.
Mark Zuckerberg afirma que o futuro tecnológico estará em nossos sentidos
A mensagem de Zuckerberg é claro: o futuro da computação não passará só pelos telefones móveis nem pelos computadores, sina por dispositivos que literalmente acompanhem nossa mirada e ouvidos. As gafas com IA, segundo sua visão, não serão um acessório opcional, sina uma ferramenta indispensável para manter a competitividade pessoal e profissional num mundo a cada vez mais mediado pela inteligência artificial.
O repto, como sempre, será convencer à sociedade de que a promessa tecnológica compensa as dúvidas sobre privacidade, custo e dependência da tecnologia. Mas, se de algo está convencido Zuckerberg, é que o tempo joga em prol de esta transformação.