O presidente número 47 dos Estados Unidos, Donald Trump, que anteriormente qualificou às criptomonedas como uma ameaça para a estabilidade económica, agora as adoptou com exaltación, inclusive lançando a sua própria, $TRUMP. Este movimento, respaldado por figuras finque do mundo tecnológico como Elon Musk, Mark Zuckerberg e Jeff Bezos, tem capturado a atenção dos mercados financeiros, incrementando o valor das criptomonedas um 35% desde sua eleição.
Para abordar este tema, Consumidor Global entrevista a Uxío Fraga, CEO de Material Bitcoin, que analisa o papel das criptomonedas na economia global, seu potencial integração nos sistemas bancários tradicionais e os reptos que enfrentam tanto investidores como reguladores. Fraga, experiente em blockchain, oferece uma visão completa sobre o impacto destas tecnologias, o papel de figuras públicas como Trump em sua popularización e conselhos práticos para quem procuram iniciar neste sector que está a redefinir as regras do jogo económico global.
--Para começar, poderia explicar que são as criptomonedas?
--As criptomonedas são uma forma de dinheiro eletrónico, ainda que a maioria não se usam realmente como tal. O termo prove/provem de Bitcoin, que sim foi concebido especificamente como dinheiro. Actualmente existem muitíssimas criptomonedas com diferentes propósitos; algumas têm aplicativos úteis, enquanto outras não têm nenhum valor prático. Também há pessoas que entram neste mundo simplesmente com a esperança de que seu valor aumente e poder vender a um preço maior.
--Então, o Bitcoin é…
--Bitcoin é mais fácil de explicar. Bitcoin é um ativo digital que existe em internet e se distribui através de uma rede global de computadores. Não pertence a nenhum país nem governo, sina que é uma tecnologia de alcance mundial, como internet ou o correio eletrónico. A diferença de redes sociais ou aplicativos como WhatsApp, que dependem de uma empresa, Bitcoin é uma ferramenta aberta e acessível para todos. Permite trocar dinheiro de forma rápida entre pessoas de qualquer país e idioma, em só uns minutos e com um custo muito baixo. Ademais, não requer de bancos para o alojar, podes o guardar tu mesmo em teu móvel, computador ou outros dispositivos. Inclusive podes alojá-lo fora de um dispositivo eletrónico se prefere-lo.
--Em que se diferencia das moedas tradicionais como o euro ou o dólar?
--A diferença do dinheiro tradicional, que tende a devaluarse devido à inflação gerada pelos bancos centrais ao plotar mais dinheiro ou emitir dívida, com Bitcoin isto não ocorre. Bitcoin tem uma característica fundamental, e é que sua oferta é limitada. Só existirão 21 milhões de Bitcoin em todo mundo, e não se podem criar mais. Isto significa que não se pode inundar o sistema com dinheiro adicional, evitando de modo que o valor do que já existe diminua. Se queres Bitcoin, deves comprar-lho a alguém que já o tenha.
--Poderia aclarar quais são as vantagens?
--Bitcoin é uma ferramenta muito útil que a cada vez mais pessoas estão a adoptar como uma forma de investimento e poupança. A nível global, cresce constantemente o número de pessoas interessadas em possuir Bitcoin, já que muitos reconhecem seu potencial como uma tecnologia eficiente e como uma maneira de preservar valor. Este aumento da demanda contribui a que seu preço tenda a subir com o tempo. Outra vantagem é que, ainda que seu fornecimento seja limitado e actualmente um Bitcoin completo possa custar ao redor de 100.000 euros, não precisas comprar uma unidade inteira. Podes adquirir pequenas fracções, como médio Bitcoin, um quarto, uma décima parte, ou inclusive quantidades menores, como uma milésima ou uma cienmillonésima parte de um Bitcoin, conhecida como "Satoshi". Isto permite que qualquer possa investir em Bitcoin, inclusive com montes pequenos, como 5 euros ou menos.
--Permite ter mais autonomia e optimizar a poupança…
--Efectivamente. Por verdadeiro, um detalhe interessante sobre Bitcoin é que o custo de realizar uma transacção é praticamente o mesmo, independentemente do monte que envies. Por exemplo, se decides enviar 50 euros em Bitcoin, o custo da transacção poderia ser, digamos, uns 38 céntimos em equivalentes de Bitcoin. O surpreendente é que esse custo será igual se em lugar de 50 euros decides enviar 50 milhões de euros. Isto se deve a que o custo está sócio ao funcionamento da tecnologia em si, o que pagas é simplesmente o custo de usar a rede para realizar a transacção.
--É possível usar este dinheiro de forma completamente livre, para qualquer propósito?
--O Bitcoin funciona fora do sistema financeiro tradicional. Não depende de bancos, governos nem intermediários como notários. É um sistema completamente descentralizado que depende unicamente das pessoas que o usam. Isto significa que ninguém pode te impedir usar teu dinheiro como queiras. Podes enviá-lo a alguém, o presentear, o doar, ou lho transferir a teus filhos sem que ninguém possa o bloquear ou o controlar. Por esta razão, Bitcoin converte-se numa espécie de salvavidas ou plano B em frente aos sistemas financeiros tradicionais, oferecendo liberdade e autonomia sobre teu dinheiro.
--O atual presidente de Estados Unidos Donald Trump, que dantes estava na contramão das criptomonedas, tem decidido lançar sua própria moeda digital, $TRUMP, e apostar por este mercado. Por que?
--Basicamente, porque tarde ou cedo, até a Igreja deve-se actualizar. Quero dizer, os governos já se deram conta de que Bitcoin desempenha um papel muito relevante na economia global. Não só as pessoas o estão a utilizar como reserva de valor e forma de poupança, sina que as empresas levam tempo o adoptando, e agora os governos também estão a começar ao fazer. No entanto, há uma desconexão entre suas palavras e suas acções. Por exemplo, o governo de Estados Unidos tem sido um dos principais tenedores de Bitcoin durante muitos anos, ainda que agora o estão a fazer mais oficial. De facto, tanto o governo chinês como o estadounidense se encontram entre os maiores poseedores de Bitcoin a nível mundial desde faz bastante tempo.
--Mas, que significa que Donald Trump tenha criado sua própria criptomoneda?
--O que tem feito Trump é um exemplo interessante de como monetizar uma marca pessoal ao lançar uma criptomoneda vinculada a seu nome. É como se Trump estivesse a cotar em carteira. Se alguém quer o apoiar, só tem que comprar seu token, o que no fundo equivale a lhe enviar dinheiro directamente. O especial deste enfoque é que, ao adquirir esse token —um ativo respaldado por milhares de milhões de dólares e grandes empresas—, não só apoias sua causa, sina que participas num modelo inovador de financiamento. Este mecanismo permite a figuras públicas como Trump captar fundos de maneira direta e criativa. É um movimento bastante inteligente. Algo similar fez Elon Musk quando aproveitou sua influência para promover Dogecoin, uma criptomoneda que, ainda que não muito relevante tecnicamente, ganhou visibilidade ao associar com seu nome.
--Que significa que $TRUMP seja uma memecoin? Que diferença há entre uma memecoin e criptomonedas como Bitcoin ou Ethereum?
--Um memecoin é um tipo específico de criptomoneda. Ainda que, as criptomonedas são moedas digitais que originalmente serviam como meio de pagamento, como é o caso de Bitcoin, hoje em dia, a maioria já não se utiliza principalmente para isso. Existem milhares e milhares de criptomonedas, e a cada dia criam-se muitas mais. De facto, Trump lançou dois recentemente. Uma com seu nome e outra com o da primeira dama Melania. No entanto, em realidade, estas não têm um valor real ou um propósito para além de ser uma espécie de broma de internet, similar a um meme. Baseia-se simplesmente na especulação e a moda. A maioria destas moedas não geram nenhum interesse e terminam no esquecimento.
--Pese a que não a que não tem um uso prático, a realidade é que milhares de utentes se lançaram ao mercado para se fazer com um memecoin de Trump o que tem causado que o preço de capitalización atinja os quase 15 milhões de dólares. Por que acha que o lançamento de uma criptomoneda como $TRUMP gera tanto interesse se não tem um uso prático?
--Ainda que a maioria destas moedas não geram nenhum interesse e terminam no esquecimento, no caso de Donald Trump, sua influência global faz que este tipo de moedas faça sentido. Muitas pessoas que o apoiam agora têm uma forma fácil do fazer, comprando sua criptomoneda, ou melhor dito, sua token.
--Como se pode distinguir uma criptomoneda útil de uma que não tem nenhum propósito prático?
--É uma boa pergunta. A chave está em estudar o projecto que há por trás da cada criptomoneda. Em realidade, as criptomonedas que têm um impacto real e útil são muito poucas. Estamos a falar de umas 20, 30 ou 40 que levam anos focadas em melhorar a sociedade ou em servir para algum propósito específico. Se entra-se na página site da cada criptomoneda, poder-se-á ler sobre o projecto, o propósito, como funciona e para que se utiliza.
--Desde o lançamento de $TRUMP, as criptomonedas estão a atingir máximos históricos incrementando seu valor um 35%. Como influem figuras públicas como Donald Trump, Elon Musk ou Mark Zuckerberg no valor e popularidade das criptomonedas?
--Estas personagens públicas com sua popularidade e capacidade de gerar interesse, conseguem atrair capital para seu criptomoneda. Se decidem abandoná-la, perderá tracção, irá ficando no esquecimento e seu valor diminuirá. Por outro lado, se mais pessoas começam a adquirí-la e seu valor se revaloriza, poderíamos entrar numa nova fase do mercado, onde o entusiasmo generalizado acelere ainda mais sua adopção. Em esencia, é um jogo de marketing. O que estas figuras façam ou digam publicamente terá um impacto direto na cotação, de forma similar a como as acções de uma empresa se vêem influenciadas por suas decisões e anúncios públicos.
--Poderiam as criptomonedas chegar a ser utilizadas como dinheiro comum, substituindo ao efetivo?
--Não, é simplesmente uma ferramenta mais. É como perguntar se o e-mail substitui ao correio tradicional. Não o faz. É verdadeiro que o e-mail é bem mais cómodo e se utiliza no 99% das situações, mas não elimina por completo ao correio tradicional. Do mesmo modo, isto não substitui, sina que complementa.
--E acha que os bancos terminarão adoptando esta tecnologia como um complemento a seus serviços tradicionais?
--Até agora, os bancos, especialmente os europeus, se tinham visto limitados pela falta de regulação que lhes permitisse ingressar a este mercado. No entanto, isso tem mudado. Agora contam com um marco regulamentar, e é muito provável que nos próximos meses vejamos como mais e mais bancos começam a oferecer Bitcoin, principalmente, junto com outras criptomonedas principais a seus clientes. Bitcoin, em particular, consolidou-se como uma reserva de valor impressionante, algo que nem os bancos nem as grandes empresas podem ignorar. De facto, muitas empresas já estão a começar a ter reservas próprias de Bitcoin e, em alguns casos, de outras criptomonedas.
--Que conselho dar-lhe-ia a alguém que quer começar a investir em criptomonedas mas não tem experiência?
--O primeiro, além de formar-se um pouco, seria centrar-se única e exclusivamente em Bitcoin. E começar com uma quantidade pequena. O ideal é adquirir uma quantidade muito reduzida, aprender a alojá-la de forma segura, consultar o saldo, movê-la, retirá-la e entender como fluctúa seu valor. O importante é que seja uma quantidade que não te importes perder, um monte destinado unicamente a experimentar e aprender. Isto é, se o pior palco é perder todo o dinheiro, te assegura de investir só uma quantidade pequena enquanto aprendes.
--Quais são as plataformas mais seguras e fáceis de usar para comprar criptomonedas?
--Há várias formas de comprar criptomonedas, e a mais comum é através dos exchanges centralizados. Estes funcionam como brokers na carteira, isto é, tu lhes entregas euros e eles te dão Bitcoin, ou vice-versa. Além de Bitcoin, podes trocar muitas outras criptomonedas de maneira similar. Existem diferentes tipos de exchanges: alguns são nacionais, outros internacionais, alguns estão regulados e outros não. Também os há que permitem o intercâmbio direto de efetivo por criptomonedas. A cada opção tem suas particularidades, mas em general, não é um processo excessivamente complicado.
Em conclusão, todos deveriam conhecer que é Bitcoin e experimentar com ele, investindo uma quantidade que estejam dispostos a perder. Não é um "ouro digital" no sentido tradicional, mas é uma tecnologia inovadora que tem chegado para ficar. Deveríamos aproveitar esta oportunidade única que nossa geração tem de ser parte de uma mudança tecnológica tão significativo.