A febre pelos produtos de origem vegetal tem conquistado os lineares do supermercado e as redes sociais: hamburguesas sem carne que "sangran", leites com creme que fazem a mesma espuma no café de avena e uma avalanche de bolachas, snacks e cereais vegan friendly ou proteicos-vegetais. No entanto, um estudo publicado em The Lancet Regional Health — Europe acaba de pôr o travão a tanta euforia pela comida que se disfarça de sã.
Depois de seguir a 118 000 britânicos de 40 a 69 anos durante mais de uma década, os pesquisadores concluíram que a cada incremento do 10 % na ingestão diária de alimentos vegetais ultraprocesados eleva um 5 % o risco de doença cardiovascular e um 13 % a probabilidade de morte prematura. É a primeira vez que se demonstra de forma direta esta associação, e os envolvimentos para a saúde pública são notáveis.
Que significa "ultraprocesado"? Podem ser veganos?
O grupo de investigação empregou a classificação NOVA, que distingue os alimentos segundo seu grau de transformação:
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Sem processar ou minimamente processados: frutas, verduras frescas, ovos, leite, legumes demolhados, ervas…
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Ingredientes culinarios: azeites, sal, açúcar, especiarias.
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Processados tradicionais: queijos curados, pan artesanal, encurtidos; combinam básicos do grupo 1 e 2.
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Ultraprocesados: fórmulas que passam por múltiplas operações industriais (extrusão, hidrogenación, fraccionamiento de proteínas) e levam aditivos —saborizantes, colorantes, emulsionantes, edulcorantes— desenhados para recrear texturas e sabores "adictivos".
Na prática, isto engloba refrescos, bebidas energéticas, snacks salgados, bollería, cereais aromatizados, pães de molde, "leites" vegetais azucaradas, barritas substitutas de comidas e, por suposto, as imitações de carne e embutidos veganos.
O vegano não sempre é cardio saudável
"Não podemos assumir que algo é são sozinho por ser de origem vegetal; o açúcar também o é", adverte Duane Mellor, professor da Aston Medical School. A chave está na densidade nutricional versus a densidade calórica. Muitos produtos "plant‑based" oferecem calorías rápidas —almidones refinados, jarabes, azeites hidrogenados— com escasso contribua de fibra, vitaminas ou fitoquímicos protetores.
Ademais, os aditivos e contaminantes industriais (por exemplo, restos de embalagens ou de processos de aquecimento a altas temperaturas) geram estrés oxidativo e inflamación crónica, duas rotas bioquímicas estreitamente unidas à ateroesclerosis e o infarto de miocardio, explicou Fernanda Rauber, coautora brasileira do estudo
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Achados finque do estudo sobre os processados vegetais: Não convencem aos experientes
A pesquisadora principal, a médico Renata Levy (Universidade de São Paulo), resume-o assim: "Os alimentos baseados em plantas podem ser medicina ou risco; o determinante é quanta fábrica há entre a terra e o plato".
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Dados: questionários de frequência alimentar vinculados a historiais hospitalarios e certificados de morte.
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Resultados: os ultraprocesados vegetais contribuíam em media o 30 % da energia diária da mostra. Dentro deste grupo, os pães e doces empacotados dominavam, enquanto as carnes vegetais representavam só o 0,5 %.
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Análise de substituição: substituir um 10 % desses produtos por fruta, verdura, legume ou grão integral fresco ou congelado reduziu um 7 % a incidência de eventos cardiovasculares e um 13 % a mortalidade por doença cardíaca.
O experimento de Paul Kita: o jornalista que só comeu processados de proteína
Para ilustrar as consequências quotidianas de uma dieta industrial rica em proteínas, o jornalista de Men's Health Paul Kita suplantó durante três semanas suas comidas caseiras por brownies fortificados, yogures hiperproteicos e cereais com isolados de guisante:
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Semana 1: dulzor omnipresente (stevia, sucralosa) e forte dor intestinal ao saltar a metabolizar —não sem esforço— uns 150‑200 g de proteína/dia.
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Semana 2: menos moléstias, mas uma saciedade tão prolongada que deslocaria quase por completo a fruta e a verdura.
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Semana 3: mais vontades de treinar e aumento de 1,25 cm em perímetro torácico; sem mudanças de importância nem de bíceps.
Sua conclusão reflete a mensagem de muitos nutricionistas: os pós e snacks proteicos são úteis para contextos concretos —desportistas em viagem, pessoas com pouco tempo—, mas não replicam a complexidade sensorial nem o leque de micronutrientes que contribui um plato de legumes com verduras e azeite de oliva.
Radiografia da cesta de compra-a espanhola
Segundo dados do Ministério de Agricultura, os ultraprocesados já supõem quase o 25 % das calorías que ingere um adulto médio em Espanha. E a tendência cresce impulsionada pela percepção —às vezes equívoca— de que "vegetal" é sinônimo de saudável ou sustentável. Não obstante, a Agência Espanhola de Segurança Alimentar (AESAN) recorda que:
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As guias oficiais recomendam entre 400 e 600 g de frutas e verduras frescas ao dia.
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O consumo de bebidas azucaradas, bollería, snacks e preparados cárnicos (vegetais ou animais) deve ser ocasional.
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A dieta mediterránea —rica em alimentos pouco processados, azeite de oliva virgen extra e legumes— segue sendo o padrão com maior evidência de protecção cardiovascular.
Chaves para uma compra saudável
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Revisa a lista de ingredientes: se o primeiro componente é açúcar, jarabe ou azeite refinado, desconfia.
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Conta os aditivos: a mais E‑números, maior ultraprocesamiento.
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Prioriza a despensa básica: legumes secos ou em bote, verduras congeladas, frutos secos naturais, cereais integrais.
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Reserva os sustitutivos de carne para momentos pontuas; uma hamburguesa caseira de garbanzos e avena tanto faz de vegetal e menos processada.
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Recorda a regra do plato: ao menos a metade que seja verdura ou fruta, umas quarto proteínas (vegetais ou animais pouco processadas) e um quarto carbohidratos integrais.
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Hidrátate com água; os refrescos "zero" e as bebidas energéticas seguem sendo ultraprocesados.
O boom "plant‑based" tem democratizado opções sem carne, mas também tem aberto a porta a uma nova geração de comida rápida com halo verde. O estudo britânico confirma que a saúde do coração não depende só de excluir produtos animais, sina de eleger matérias primas pouco manipuladas. Em última instância, a fórmula ganhadora permanece intacta: mais comida que sai do solo e menos alimento de fábrica, ou o que é o mesmo, mais faca e menos sobre. Porque, como reza a máxima mediterránea, a melhor dieta é a que se cozinha, não a que se abre.