Madri é a única capital européia cujos vinhos contam com uma Denominação de Origem própria. Não obstante, trata-se de uma zona vitivinícola ainda por descobrir, apesar dos esforços da DO Vinhos de Madri, e seus caldos são desconhecidos pela maioria dos bebedores nacionais.
Para romper estas barreiras, a empresa A Pachas selecciona os melhores viñedos da zona de Arganda do Rei, ali onde se cruzam os caminhos do Henares, o Tajuña, o Jarama e o Tajo, e envia vinhos de qualidade a lugares remotos. Entrevistamos a Juan Llopart, diretor de exportação da Pachas, a marca que fundou seu filho Luis.
--Como nasceu A Pachas?
--Começamos modestamente. Foi em 2020. Eu trabalhava no departamento de exportação de uma grande adega de Rioja, mas uma manhã me chamou meu filho e não pude lhe dizer que não.
--Que foi o primeiro que fizeram seu filho e você?
--Registamos a marca, mas custou-nos. No registro diziam-nos que era uma expressão popular. 'Está livre ou não?', perguntamos. 'Sim, mas é tão popular que é como se registas Madri ou Barcelona', nos disseram. Brigamo-lo, ganhamos e pusemos-nos a trabalhar.
--Há boa uva em Madri para fazer vinho?
--Nós estamos em Arganda do Rei. Nesta zona há viñedos, de aproximadamente 60 anos, com diferentes lugares. Os situados no páramo têm condições propícias para o cultivo do Tempranillo com o que fazemos os tintos: jovem, criação e reserva, que passa 18 meses em barricas de roble americano.
--E depois tendes o Malvar…
--Apostamos por esta uva típica de Madri que faz uns anos estava praticamente perdida. Não é uma uva extremamente aromática, mas tem uma acidez moderada e um alto conteúdo em açúcares. Quando começamos, ficavam 12 hectares em todo mundo, e todas estavam na Comunidade de Madri. As poucas parcelas eram propriedade de uns agricultores muito maiores. Agora o Malvar segue sendo uma uva minoritária, mas é a bandeira do alvo de Madri.
--Quantas adegas e marcas estão acolhidas à DO Madri?
--45 adegas e ao redor de 200 marcas.
--E como pode ser que das 45 adegas e as 200 marcas que tem a DO Madri só uma tenha exposto na feira Barcelona Wine Week 2025?
--As adegas de Madri são pequenas, daí que não possam vir. Nós somos uma adega média e temos apostado desde o primeiro dia por esta feira, e isso que é uma feira muito cara para o que te dão. É muito internacional, mas uma mesita e sete metros quadrados valem 4.000 euros. É uma loucura. Por isso temos procurado aliados. No ano passado viemos a médias com o Conselho Regulador, e neste ano apontaram-se mais três adegas, ainda que não apareçam no cartaz.
--A DO de Madri é jovem e pequena, não?
--Em Rioja há quase 70.000 hectares de viñedos, enquanto em Madri não chegamos às 9.000.
--Tenho visto que tendes a página site em inglês…
--Vendemos o 92% de nossas garrafas fora de Espanha.
--Que países são vossos principais compradores?
--Os países escandinavos (Dinamarca e Suécia), EUA, Alemanha, Suíça e Canadá. Também está a subir como uma moto o duty free do aeroporto de Madri e no outro dia vieram a ver do aeroporto de Barcelona.
--Em Espanha não se podem encontrar vossos vinhos, para além do duty free?
--Vendemos em Canárias e Baleares, mas não temos revendedores em Espanha. Espanha é nosso sétimo mercado.
--Vamos, que não é fácil conseguir vossos vinhos na península…
--Vendemo-lo quase todo fosse. Vendemos em lugares raros. A mulher de Trump é de Eslovénia, não? Pois vendemos em Eslovénia, em Filipinas, em Massachusetts (Boston), em New Camisola e em Illinois. Vamos aos mercados onde não vai ninguém.
--Qual é o lugar mais raro onde se bebem os vinhos da Pachas?
--Vendemos até em Nebraska. Tive que o procurar em Google Maps quando assinamos. É uma zona pouco povoada. A ver se vou algum dia. É mais fácil entrar por estes mercados. Em menos de três anos representamos o 5% do total do vinho da DO de Madri que se vende fora de Espanha.
--A Pachas está a fazê-lo bem…
--Elaboramos 50.000 garrafas ao ano e seguimos crescendo. Com os vinhos jovens podemos crescer, mas também com os de edição limitada de criação e reserva. Sky is the limit!
--E ao resto da DO de Vinhos de Madri falta-lhe visibilidade internacional…
--Temos um problema. Na DO não o estamos a fazer. Há que ir mais às feiras. Trata-se de dar a conhecer uma DO que não é todo o conhecida que deveria. E ajudar-nos-ia a todos. Somos o único vinho da DO Madri presente a Filipinas, por exemplo.
--Qual é vossa garrafa mais vendida?
--O criação. Temos vinhos jovens de 2023-2024, o criação de 2021 e um reserva de 2020.
--Em que forquilha de preços se movem?
--Entre 13 e 14 euros.
--E ides sacar uma nova faixa, não?
--Agora sacamos uns novos da Serra de Gredos onde prima mais a Garnacha, que é a uva local branca. São vinhos mais minerales.
--Por levar tão pouco tempo, não vos vai nada mau…
--Estamos felizes.
--Como é trabalhar lado a lado com seu filho?
--Combinamos experiência e juventude. Entre os dois falamos seis idiomas. Há roces, claro que há roces. Como não os vai ter com a confiança que nos temos! Mas temos percurso e caminho por fazer.