Calo solar, a moda "malinterpretada" que arrasa em TikTok

Natalia Olmo, fundadora da marca de cosmética natural Maminat, se sincera sobre esta tendência que convida a tomar o sol sem usar protecção

Una persona practica el callo solar   Eduardo Parra   EP
Una persona practica el callo solar Eduardo Parra EP

Há uma nova palavra no vocabulário de Instagram e TikTok que aboga por tomar o sol progressivamente, sem protecção, até que a pele se volte férrea e impenetrável. "O calo solar é vital. No outro dia um me disse que lhe perguntou a seu dermatólogo e que não existia tal coisa. Eu contestar-lhe-ia que também não acho que existam os aviões, pois o erro é comparável". Esta é a afirmação infudamentada do influencer @carlos_stro, que conta com 322.000 seguidores.

"Se geras calo solar podes receber o sol sem problemas como todos os animais da terra. Não há um sozinho animal ao que o sol lhe faça dano e nenhum utiliza protetor solar. O sol não causa cancro, nunca o causou e nunca causá-lo-á", defende @nutridoctor em TikTok. Soa rotundo, quase provocador. Enquanto, dermatólogos, cosmetólogos e experientes de marcas de beleza estão escandalizados ante esta perigosa tendência.

Calo solar, uma prática "malinterpretada"

Em 2024, registaram-se 7.881 novos casos de melanoma cutáneo em Espanha, segundo dados da Sociedade Espanhola de Oncología Médica (SEOM) e a Rede Espanhola de Registros de Cancro (REDECAN). O 86% dos melanomas no país estão relacionados com a radiação ultravioleta solar e falta de uso de fotoprotectores. Ademais, um 25% da população espanhola reconhece sofrer queimaduras solares com regularidade, cifra que ascende ao 38% em jovens dentre 16 e 24 anos.

Una persona se aplica protector antes de tomar el sol /PEXELS
Uma pessoa aplica-se protetor dantes de tomar o sol /PEXELS

Natalia Olmo, fundadora da marca de cosmética natural Maminat, não se considera experiente em calo solar. No entanto, como defensora de uma exposição solar responsável, compartilha seus conhecimentos com Consumidor Global sobre uma prática que, segundo ela, está a ser "malinterpretada" por certos sectores.

Verdades a médias

"Calo solar não significa deixar de usar protecção solar. Não é uma alternativa", enfatiza Olmo. "Significa permitir que a pele se exponha de forma controlada, por exemplo, durante os primeiros raios do amanhecer oel entardecer, para activar a produção de vitamina D", aclara. A polémica está servida porque, como ela mesma lamenta, muitos consumidores têm interpretado esta prática como "não usar protecção solar nunca". E isso, adverte, "é pôr em risco a saúde".

O auge do calo solar tem sido promovido por influencers do bem-estar e por quem criticam o uso excessivo de protetores. Para alguns, este hábito representa uma volta à relação ancestral com a natureza; para outros, uma irresponsabilidad com envoltorio alternativo. O verdadeiro é que, como tantas vezes na era da infoxicación, a verdade não cabe num sozinho tuit.

A importância da Vitamina D

A síntese de vitamina D é um dos principais argumentos a favor do calo solar. Uma quantidade preocupante da população européia apresenta deficiências desta vitamina, essencial não só para o sistema inmune e a absorção do calcio, sina também para o estado de ânimo. Vivemos encerrados, trabalhamos baixo luzes artificiais, e quando saímos ao exterior o fazemos embadurnados com um protetor SPF 50.

"Estamos a receber a cada vez menos luz direta. E se em cima usamos protetor solar o tempo todo, a capacidade do corpo para gerar vitamina D reduz-se muitíssimo", explica. Não obstante, para a fundadora de Maminat, a solução não é prescindir do protetor solar, sina o usar com critério. Também sublinha a importância de complementar a exposição ao sol com uma alimentação rica em vitamina D, como pescados grasos e ovos, bem como considerar o uso de suplementos quando seja necessário.

Nem dogma solar nem cruzada química

No marco deste debate sobre o calo solar, não se pode passar por alto a discussão sobre os tipos de protetores solares mais adequados. Enquanto alguns defensores do bem-estar natural abogan por produtos sem químicos, outros argumentam que os filtros solares químicos seguem sendo uma opção válida. "Nós utilizamos sozinho filtros físicos, como o dióxido de titanio ou o óxido de zinco sem nanopartículas", explica Olmo. Estes actuam como uma barreira que reflete a radiação, a diferença dos filtros químicos, que a absorvem e a neutralizam desde dentro da pele.

Os químicos como a oxibenzona ou o octinoxato –habituais em protetores convencionais– têm sido assinalados por estudos por seu possível papel como disruptores endocrinos e por seu impacto ecológico. "Há países onde já se proibiram porque danificam os corais e a fauna marinha", recorda a entrevistada. Então, por que se seguem usando em Europa? "Porque sejam legais não significa que sejam seguros. Ocorre o mesmo que com os ultraprocesados: estão autorizados, mas isso não quer dizer que sejam bons para a saúde", aclara.

A pele também pensa

Longe de demonizar o sol, Maminat recomenda uma exposição sensata. "Eu mesma pratico esse equilíbrio. Exponho-me à luz natural sem protecção durante uns minutos ao amanhecer ou ao entardecer, mas uso protetor solar físico durante o resto do dia", confessa Olmo. "Não se trata de viver com medo ao sol, mas também não de fazer do sol uma religião", assinala.

Una mujer aplicándose protector solar ante los peligros de la exposición del sol / PEXELS
Uma mulher aplicando-se protetor solar ante os perigos da exposição do sol / PEXELS

No meio do ruído, o difícil não é só proteger a pele, sina também proteger ao consumidor do excesso de informação e da desinformación. "Vejo a cada vez mais pessoas que se sentem perdidas. Que não sabem se se pôr creme para ir a pelo pão ou se devem a evitar por completo. E essa confusão é perigosa", destaca.

Sol, pele e consciência

Maminat, fundada por Olmo em 2017 depois de um diagnóstico de acné cosmético, especializa-se em produtos ecológicos e naturais, e promove uma mudança na forma em que os consumidores pensam sobre a fotoprotección. "Nós defendemos um uso moderado e responsável pelo sol. A fotoprotección é essencial, mas deve fazer-se com consciência e elegendo produtos que respeitem nossa pele e o meio", afirma a profissional.

A chave, quiçá, está nas palavras finais de Natalia Olmo: "Não sou experiente em calo solar. Sou experiente em proteger a pele. Mas também sei que o medo mau dirigido pode fazer tanto dano como a negligencia. E que, dantes de opinar, há que entender".