Como afecta a solidão não desejada ao bolso do consumidor

Existem multidão de negócios, desde os videojuegos ao bem-estar, dirigidos a pessoas de todas as idades que se sentem sozinhas ou que procuram encaixar com alguma comunidade

Un grupo de personas durante un retiro espiritual   FREEPIK
Un grupo de personas durante un retiro espiritual FREEPIK

Lidiar com a solidão não é fácil a qualquer idade. Mas na desgraça de uns, outros encontram proveito. É por isso que a cada vez surgem mais negócios que vendem ao consumidor a sensação de pertencer a uma determinada comunidade ou que o melhor investimento é um mesmo.

Consumidor Global tem entrevistado a Eduardo Irastorza, experiente em marketing e o responsável pelo relatório O negócio da solidão não desejada nas sociedades desenvolvidas, de OBS Business School. Trata-se de uma investigação na que se põe de relevo o vínculo entre a solidão não desejada e o grande repertório de negócios que sacam tajada disso.

Prioridade às experiências

"A solidão é uma das maiores ameaças nas sociedades desenvolvidas", confessa Irastorza em seu relatório. Uma ameaça que a indústria do lazer tem sabido reconhecer. Neste sentido, além das farmaceúticas com a venda de antidepresivos, destacam especialmente os videojuegos e as experiências.

O experiente faz questão de que os jovens valorizam mais a experiência de viajar e conhecer outras culturas. "Preferem ter 15 selos em seu passaporte a um Mercedes na garagem", confessa. Umas experiências que também incluem cursos de formação, retiros espirituais e todo o tipo de negócios conectados com o bem-estar.

Os videojuegos, um dos sectores mais importantes

Quanto aos videojuegos, só há que jogar um vistazo às cifras mil milionárias que maneja o sector. Segundo o relatório de OBS Business School, em Estados Unidos este mercado move 46.400 milhões de dólares. Em Chinesa, 44.000 milhões de dólares. O resultado costuma ser pessoas que passam horas e horas encerradas em quartos jogando com um ecrã.

"Nunca como até agora a juventude tem estado mais sozinha que agora. Podes ter 5.000 seguidores em TikTok e estar mais sozinho que a uma. Os psicólogos afirmam que muitos jovens não sabem como se relacionar ou interatuar. O mundo dos videojuegos, que é um dos que mais se beneficia dessa solidão, gera uma atitude pouco social, de comando", confessa o experiente.

"Porque eu o valho"

Actualmente, existe "uma enorme pressão para convencer à gente de que se não desfruta de uma atitude juvenil permanente, não pode ser feliz", detalha Irastorza. E é, precisamente, o motivo pelo que os consumidores têm uma maior predisposición a pagar por viver experiências ou produtos que prometem lhes mudar a vida ou encontrar sua eu interior.

"Poderíamos dizer que a oferta quase supera à demanda. Faz-te sentir que se não temos vivido determinadas experiências sentimentais, palcos, não temos percorrido o mundo o suficiente ou não temos satisfeito alguns desejos materiais, pois somos uns fracassados. Fazem-te sentir assim", argumenta o experiente. E acrescenta: "O 'porque eu o valho' de L'Oréal justifica qualquer esforço económico".

Os aplicativos de citas

Outro filão encontra-se nos aplicativos de citas. "O matching, aquela actividade baseada em acercar pessoas para estabelecer uma relação mais ou menos séria ou comprometida, está presente tanto no mundo off-line como o on-line", confessa o experiente. Segundo sua investigação, baseada em dados de 2021, o negócio do matching supõe em Espanha 41 milhões de dólares. Uma cifra que se dispara a 83,2 milhões de dólares no França ou 99,1 milhões em Alemanha.

E, como cabia esperar, Tinder é o favorito dos utentes. O número de descargas em países como Brasil ascende a 359.147 ou em México a 148.614. No entanto, o matching também se cuela, uma vez mais, no sector do turismo. Prova disso é a crescente demanda de cruzeiros sozinho para solteros ou segmentados por género, por exemplo.

Uma delgada linha entre a boa vontade e a manipulação

O último grande negócio que detalha Irastorza é o das mascotas e as despesas associadas a elas. "O verdadeiro é que as mascotas acompanham a solidão de muitas pessoas, pessoas de todas as idades, classes sociais e géneros", afirma o experiente no relatório. Mas nossas mascotas, ademais, são um extraordinário negócio para fabricantes de comida bem como seguros médicos, centros de beleza e peluquería de animais ou residências de férias.

A maioria das actividades que sacam tajada da solidão não desejada não têm preços prohibitivos. São cursos, videojuegos, tratamentos estéticos, retiros espirituais, antidepresivos ou caprichos para nossas mascotas asequibles. E, de não o fazer, não demora em surgir o sentimento de culpa, sobretudo no consumidor médio, que procura se sentir reconhecido e integrado numa comunidade. Não quer dizer que esses serviços não sejam necessários. Em muitas ocasiões, o são. Mas, tal e como sublinha Irastorza "é muito difícil estabelecer a linha entre a boa vontade e a manipulação que muitos destes negócios põem em marcha".