Dentes de tiburón e caracolas: o passado marinho do albero da Feira de Abril

Se um se detém sobre um punhado deste sedimento ocre, poderá entrever diminutas partículas de restos fósseis marinhos de faz cinco milhões de anos

Una cuadrilla de trabajadores cubriendo las calles de albero del recinto ferial   Eduardo Briones
Una cuadrilla de trabajadores cubriendo las calles de albero del recinto ferial Eduardo Briones

Pela madrugada da próxima segunda-feira, quando o alumbrao prenda a Feira de Abril e o Real se tiña de luzes e sevillanía, sob os pés de quem dancem sevillanas terá bem mais que pó dourado; terá história, geologia e um vínculo milenario com o mar que antanho cobria a campiña andaluza.

O albero, essa terra que confere à Feira de Sevilla seu inconfundível estética, esconde em seu interior os ecos de um oceano desaparecido. Se um se detém sobre um punhado deste sedimento ocre, poderá entrever diminutas partículas de restos fósseis marinhos que contam uma história escrita faz cinco milhões de anos, durante o Terciário, quando a atual bacia do Guadalquivir era uma plataforma marinha pouco profunda.

Que é o albero?

Este material é uma calcarenita, uma rocha sedimentaria exclusiva desta região do mundo, forjada pela acumulação de sedimentos marinhos que, com o passo das eras, se compactaron até converter na terra que hoje tapiza as praças de touros, os jardins sevillanos e, por suposto, o Real da Feira.

Unos jóvenes bailan en la Feria de Abril (Sevilla) / EP
Uns jovens dançam na Feira de Abril (Sevilla) / EP

Sua composição, rica em calcita, cuarzo, feldespato e goethita –mineral que lhe outorga esse resplendor entre dourado e albero que apaixona à vista–, o converte num sustrato tão nobre como resistente.

O uso do albero

Originario das canteras dos povos alcoreños (Alcalá de Guadaíra, Mairena do Alcor, O Viso do Alcor e Carmona), o uso do albero consolidou-se depois da Exposição Iberoamericana de 1929, o albero já era protagonista no urbanismo andaluz, em pistas desportivas, pátios señoriales, e até como revestimento arquitectónico em lugares como o castelo de Alcalá de Guadaíra, onde a pedra conversa com a história.

A poucos dias do começo da Feira, o albero volta a estender-se sobre o Real como cada ano, alfombrando a festa com uma capa que é, ao mesmo tempo, beleza e fóssil. Porque em Sevilla, inclusive a terra sobre a que se dança tem séculos de história sob suas capas douradas.