Apesar de que desde o Governo se diga que Espanha "vai como um foguete" e que as cifras macroeconómicas são envidiables, o 25,8% da população, isto é, 12,5 milhões de pessoas, estão em risco de pobreza. A taxa reduziu-se com respeito a 2024, mas não melhora de forma apreciable para proteger à população que vive em condições mais precárias.
Segundo Cáritas, Espanha atravessa "um processo inédito de fragmentação social: a classe média contrai-se deslocando a muitas famílias para estratos inferiores". E os preços do aluguer têm muita culpa disso: o preço acumulativo da moradia em aluguer tem subido em Espanha um 94% em 10 anos e um 27% em 5 anos, segundo os cálculos de Fotocasa. Os salários, por suposto, têm subido muitíssimo menos.
O aluguer sobe quatro vezes mais que os salários
De facto, segundo o estudo Relação de salários e moradia em aluguer em 2024 baseado nos preços médios da moradia em aluguer do Índice Imobiliário Fotocasa e os dados dos salários médios das ofertas de emprego da plataforma InfoJobs, o aluguer tem subido quase quatro vezes mais que os salários nos últimos três anos.
Por sua vez, o IX Relatório FOESSA sobre Exclusão e Desenvolvimento Social em Espanha, realizado por uma equipa de 140 pesquisadores procedentes de 51 universidades, centros de investigação, fundações e entidades do Terceiro Sector, alerta de que Espanha conta já com uma das taxas de desigualdade mais altas de Europa. Assim, a integração social se erosiona e a exclusão grave permanece muito acima dos níveis de 2007.
Dificuldade para sair da exclusão severa
Os que pior estão tentam sair do buraco, mas não o conseguem: o relatório reflete que, pese às dificuldades que enfrentam a diário os lares em exclusão severa, três em cada quatro activam estratégias de inclusão, isto é, procuram emprego, se formam, activam redes e ajustam despesas, "mas chocam com barreiras estruturais, se topam com dispositivos fragmentados, com recursos escassos e muito pouco personalizados".
Raúl Flores, secretário técnico da Fundação FOESSA e coordenador do relatório, tem assinalado que a vivenda é um factor tão determinante que expulsa a um de quatro lares de uma vida digna, e tritura "o difícil equilíbrio das classes médias". Este experiente tem afirmado que vivemos numa sociedade "ecologicamente vulnerável, anímicamente desasosegada e socialmente rasgada".
O 45% dos que vivem de aluguer, em risco de pobreza
Neste sentido, o relatório reflete que o 45% da população que vive em regime de aluguer se encontra em risco de pobreza e exclusão social, a cifra mais alta da UE. "O aluguer converteu-se numa armadilha de pobreza", indica, contundente.
Um terço de toda a exclusão severa em Espanha corresponde a menores de idade, cuja taxa de pobreza se situa no 29%, a mais alta de todos os grupos de idade e das maiores de Europa. A eles se suma boa parte da juventude que vive uma situação de bloqueio vital: 2,5 milhões de jovens estão atrapados numa precariedade estrutural.