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As grandes marcas que estão por trás da cerveja local que tanto gostas

Companhias como Mahou-San Miguel ou Heineken servem de apoio à distribuição de algumas bebidas artesanais muito vinculadas às cidades e o seu imaginário cultural

Vários tipos de cerveja local e artesanal num bar / PIXABAY
Vários tipos de cerveja local e artesanal num bar / PIXABAY

Alguma vez paraste para ler o rótulo da cerveja local que tanto gostas? Perguntaste-te como chegou ao teu bar de confiança a garrafa dessa cerveja típica que pensavas que só estava em Madrid? A resposta tem que a ver com a presença, algumas vezes mais disimulada que outras, das grandes cervejeiras e marcas como Mahou-San Miguel e Heineken.

Existem cada vez mais casos em Espanha de pequenas empresas que se aliam com gigantes do setor para chegar a mais cervejeiras. Com a intenção de respeitar a receita e o sabor original que há anos iniciaram numa pequena garagem. Ao puro estilo startup. Em Espanha, a indústria cervejeira é dominada por Mahou-San Miguel, Grupo Damm e Heineken, principalmente. A estes gigantes seguem-lhes Hijos de Rivera (Estrela Galiza), a Companhia Cervecera de Canárias e Ágora (Âmbar e Moritz).

As cervejas locais ou de cidade, um doce para as gigantes

As cervejas locais e de bairro tornaram-se um ponto em doce para os tubarões da indústria. No início, este tipo de bebida estava muito dirigida aos cervejeiros mais especializados, mas, pouco a pouco, começou a apanhar num público mais geral e oi aí que os grandes cervejeiros viram uma oportunidade de negócio que lhes tinha escapado.

"Quando se dão este tipo de absorções e acordos é para controlar o mercado e o comércio local da zona", comenta a respeito Francisco Martínez, da loja Más que Cervezas de Madrid, especializada nesta bebida artesanal. Martínez sublinha o interesse, além disso, pelos que fazem turismo na zona e são amantes desta bebida. "Se visitas uma cidade em concreto, vão recomendar-te a cerveja dali ou que tem a marca do lugar", afirma. Por isso, tal como sublinha Raúl Tejerina, diretor do programa Cervecería da Universidade de Alicante, que as grandes cervejeiras se tenham aliado, ou comido nalguns casos, estas marcas mais locais é "um movimento muito inteligente e é uma tendência que teve muito peso nos últimos anos".

Industrial e artesanal, são tão diferentes?

Tejerina fala da rivalidade que enfrenta o artesanal e o industrial: "Parece-me uma tolice que haja polémicas com isto. As cervejas de microcervejarias têm o seu momento e as macro o seu", conta. "Além disso, os métodos de produção são ligeiramente diferentes", lembra.

Fábrica de la cerveza local La Virgen / CG
Fábrica da cerveja local La Virgen / CG

A verdade é que, ainda que em muitos casos apareça no rótulo em letra pequena, "as cervejeiras não se escondem e nalgum lado figura o grupo que as fabrica e/ou distribui", afirma Tejerina. Na verdade, o professor sublinha que ainda que "alguns consumidores não gostem de ler a letra pequena e é verdade que a Damm lhe interessa que se veja pouco, nalgum lugar está sempre a dita informação", conclui.

De fabricar para amigos a receber um telefonema da Heineken

O boom do artesanal calcou forte em Espanha no início de 2010. Familiares e amigos, amantes deste sumo de cevada, lançaram-se desde sua quinta particular a fabricar em pequenas quantidades para vender a conhecidos. "Começamos a elaborar para os amigos até que nos demos conta de que tínhamos mais amigos que cerveja", lembra sobre a origem da cerveja La Cibeles Vicente Álvarez, responsável pelo marketing da empresa.

Varios clientes toman cerveza local en una terraza / CG
Vários clientes tomam cerveja local num terraço / CG

O da La Cibeles é um dos exemplos de cerveja local que conta com o apoio de uma grande marca por detrás. Neste caso, da Heineken. O grupo adquiriu em 2018 51% desta Sociedade Limitada através de um acordo de distribuição . "Precisávamos crescer e estávamos num período de expansão. A Heineken apresentou-se e vimo-lo como o melhor colaborador pela sua rede de distribuição no canal da hotelaria, sobretudo em Madrid", enfatiza Álvarez, insiste que estes acordos "nunca afectaram a produção e o sabor da La Cibeles" e permitem expandir mais longe os seus produtos.

Fazer marca e mais marca

Uma concorrente directa da La Cibeles em Madrid é La Virgen, que tem por detrás o grupo belga Ab InBeeb. A ideia de negócio estava clara desde o primeiro momento: fabricar uma cerveja local que chegasse a mais consumidores. César Pascual, um dos fundadores da La Virgen, conta à Consumidor Global que, "o normal é procurar revender e exportar, mas nós entendemos que para fazer marca e ocupar o coração do consumidor tínhamos que atacar o secor de bares e restaurantes".

La cerveza local La Virgen está muy vinculada al imaginario local de Madrid / CG
A cerveja local La Virgen está muito vinculada ao imaginário local de Madrid / CG

De forma que produziam pela manhã e pela tarde iam vender a cerveja aos estabelecimentos da capital para conseguir esse "boca a boca" e ter contacto com os hoteleiros. O projecto cresceu e em 2016 o grupo belga AB InBeb comprou 100% do capital, "mas nós continuamos com o controle da produção e a direcção" da marca. "No incício não tínhamos pensado vender a empresa porque era o nosso projecto, mas demos-nos conta de que com os próprios meios não podíamos contiuar", reconhece Pascual.

Quando Mahou entra no jogo

Como resultado desta aquisição, Mahou-San Miguel entrou no jogo. O grupo chegou a um acordo com a AB InBeb para oferecer a sua rede de distribuição. Segundo explica Pascual, este acordo usa-se para aproveitar os contactos de Mahou em grandes superfícies como Carrefour ou El Corte Inglês. No entanto, "para bares e restaurantes contnuamos com a nossa própria equipa comercial", enfatiza.

Mas a lista de cervejas locais e/ou artesanais não se reduz só a Madrid. Espanha conta com uma grande variedade de marcas que têm o seu sabor o imaginário cultural das cidades mais emblemáticas do país. Algumas mais independentes, mas outras com apoio industrial.

Varios clientes beben cerveza local en la fábrica de La Virgen / CG
Vários clientes bebem cerveja local na fábrica da La Virgen / CG

Colmatar as lacunas que os concorrentes podem ocupar

A Cervesa del Montseny, sediada na Catalunha desde 2007, chegou a assinar acordos de distribuição com grandes superfícies como El Corte Inglês. E, como a La Cibeles, Montseny também trabalha com a Heineken para cobrir esta rede de estabelecimentos. "Faz-nos a distribuição do canal Horeca e assim eles contam com uma cerveja local para tampar os buracos nos quais possa entrar a concorrência", afirma Xavier Pereira, diretor comercial da marca.

Guineu é outra marca catalã artesanal com presença também no mercado internacional, em países como França. No entanto, no seu caso, os acordos com as principais marcas não se concretizaram. "Tentou-se fechar algo com a Heineken, na verdade,  certa altura estávamos nos seus catálogos, mas agora custa um pouco mais", admite Sergi Vendrell, da equipa comercial.

Tonel de aluminio para la fabricación de cerveza local / CG
Tonel de alumínio para a fabricação de cerveja local / CG

"Aceitaríamos acordos com grandes, apesar do que digam os puristas"

Em Córdoba, a Califa é outra das cervejas favoritas. Alejandro Díaz, gerente da companhia, explica a este meio que em tempos também tentaram chegar a um acordo com Mahou, mas não se fechou "porque agora preferem criar as suas próprias marcas". "Além disso, nós também não os incomodamos muito", brinca.

Botellines de cerveza local Califa en su fábrica / CG
Garrafas de cerveja local Califa na sua fábrica / CG

No entanto, Díaz reconhece que aceitaria sem pensar acordos com grandes marcas para distribuir a sua cerveja. "Haverá algum purista que diga que isso é vender-se, mas se quero chegar ao maior público possível preciso de meios", explica. Jesús León, gerente da Arriaca, uma cerveja de Guadalajara, presume que o seu produto foi o primeiro em Espanha de fabrico artesanal que começou a engarrafar-se em latas. Sobre o contexto atual, León reivindica a posição das independentes e afirma que vivem tempos complicados: "As pequenas, e especialmente as que não contam com acordos macro, a subida de preços é insuportável", lamenta. Espera que a crise e os efeitos gerados pela guerra na Ucrânia se revertam cedo. A não ser assim, também cairão as que ficam em mãos das gigantes?

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