Raúl González, fundador de Ecodicta: "O resíduo têxtil não desaparece, só muda de geografia"

Em Espanha superam-se os 20 kg por pessoa e ano deste tipo de restos de roupa, dos que se recolhe uma parte mínima

Una imagen elaborada con IA muestra residuos textiles en la playa de La Concha   ECODICTA
Una imagen elaborada con IA muestra residuos textiles en la playa de La Concha ECODICTA

A empresa Ecodicta, especializada no aluguer de roupa e na venda de prendas segunda mão, tem lançado uma campanha para concienciar sobre o drama dos resíduos têxteis, um problema com frequência ocultado ou invisibilizado que tem um gravísimo impacto meio ambiental.

Graças ao consumo em massa de fast fashion, a cada ano geram-se milhões de toneladas de resíduos têxteis a nível mundial. Uma grande parte desta roupa termina em desaguadouros do Sur Global, como têm denunciado em ocasiões entidades ecologistas. Por exemplo, Greenpeace publicou um estudo no final de 2024 no que demonstrava que as prendas que os consumidores levam aos contêiners de grandes marcas (como Zara ou H&M) para que se reciclem "poucas vezes têm uma segunda vida".

Praias contaminadas

Assim, Ecodicta tem voltado a lançar a campanha #CleanBeachesForAll com imagens realizadas com IA que a cada vez custa menos imaginar: a praia da Barceloneta, a Concha em San Sebastián, O Orzán na Corunha ou A Caleta de Cádiz cobertas por montões de roupa usada, "ao estilo do que já sucede em Ghana ou o deserto de Atacama", denunciam.

Una de las imágenes de la campaña / ECODICTA
Uma das imagens da campanha / ECODICTA

"O resíduo têxtil não desaparece, só muda de geografia. Hoje contamina outra costa; amanhã, poderiam ser as nossas. Não falamos de ciência ficção, sina de um sistema de fast fashion que já tem colapsado", tem exposto Raúl González, cofundador de Ecodicta.

Recolhida de roupa usada

A partir de 2025, a recolhida de roupa usada será obrigatória em todos os municípios espanhóis. Uma boa notícia que, no entanto, chega no meio de uma crise: plantas saturadas, roupa de tão baixa qualidade que não pode ter segunda vida, e um reciclaje têxtil ainda em pañales. A rede estatal AERESS e outras entidades da economia social têm alçado a voz: sem financiamento urgente, o sistema não aguentará. Nem a reutilização, nem o emprego social que a sustenta.

Residuos textiles / UNSPLASH
Resíduos têxteis / UNSPLASH

"É necessário uma transformação total da indústria para produzir menos, e não só se focar na parte final da corrente. Se seguimos produzindo mais roupa da que podemos reutilizar, as praias não encher-se-ão de bañistas, sina de t-shirts de baixa qualidade sem saída", tem advertido González.

À beira do colapso

Segundo dados da ONU, mais de 92 milhões de toneladas de resíduos têxteis geram-se a cada ano, e grande parte dos mesmos termina nos oceanos e nas praias de todo mundo.

Nesta linha, o mencionado estudo de Greenpeace denunciava que actualmente "não existe uma economia circular que possa sustentar este modelo desaforado de comprar e atirar. Os impactos da indústria da moda rápida são muitos e um deles é o que ocorre com a ingente quantidade de prendas que eliminamos. Tanto é assim, que a Confederação Européia de Indústrias de Reciclaje tem advertido que a reutilização e o reciclaje de têxteis estão à beira do colapso em toda Europa".

16 kg por pessoa

Assim mesmo, um relatório da Agência Européia do Medioambiente (EEA) de 2024, que utiliza dados de 2020, conclui que nesse ano a União Européia gerou 6,95 milhões de toneladas de resíduos têxteis, uns 16 kg por pessoa.

"Espanha está acima da média em geração de resíduos têxteis. Superamos os 20 kg por pessoa e ano e, em mudança, tão só recolhemos selectivamente 2,1 kg por pessoa e ano", denunciava Greenpeace.