Um logotipo indicar-te-á as emissões dos voos quando os vás reservar: Útil ou blanqueo?
A Comissão Européia acha que isto permitirá aos consumidores "tomar decisões de compra mais informada" e proteger-lhes-á "das declarações de ecopostureo", mas é uma medida voluntária

Segundo os cálculos da Comissão Européia, se a soma de toda a aviação mundial fosse um país, figuraria entre os 10 principais emissores de gases de efeito invernadero a nível global. Há quem rebajan a cifra, mas é um facto que cada vez são mais as vozes que denunciam o impacto climático de apanhar aviões. A indústria tem tratado de pôr parches, mas segue deixando que a responsabilidade recaiga nos utentes.
Ainda que alguns lho tomem a cachondeo: em 2022, Kylian Mbappé recebeu muitas críticas por reagir entre risos à pergunta de se seria possível que seu clube (o PSG nesse momento) usasse o comboio em vez do avião privado para suas deslocações curtas.
Aumento das emissões
Segundo um estudo da Universidade Metropolitana de Manchester, o transporte aéreo representa o 3,5% do conjunto de todas as actividades humanas que impulsionam a mudança climática global. E a coisa tem ido a pior nos últimos tempos: as estimativas publicadas por Ecologistas em Acção refletem que, em União Européia, o sector da aviação aumentou suas emissões um 30% entre 2013 e 2019 a raiz do aumento exponencial do tráfico aéreo.

Os jets privados são os que mais contaminam. Segundo um relatório de Greenpeace, estes veículos para ricos emitiram um total de 5,3 milhões de toneladas de CO2 entre 2020 e 2023, uma quantidade de dióxido de carbono, de acordo com Euronews, superior à que Uganda produz num ano.
Quanto contamina cada voo
Pode que saber quem o faz pior influa a alguns já convencidos, mas não está claro que vá ser assim. O caso é que, dentro de uns meses, os consumidores poderão saber quanto contaminam alguns dos voos que estejam a valorizar apanhar no momento dos reservar.
A Comissão Européia adoptou o 18 de dezembro um Regulamento pelo que estabelecia uma etiqueta de emissões de voo (FEL), uma nova medida que pretende "oferecer uma metodologia clara e fiável para calcular as emissões de voo". Isto é, que os indicadores estejam unificados e não seja um guirigay: mostrar-se-á um logotipo específico e único. O árbitro que estimará as emissões será a Agência da União Européia para a Segurança Aérea (AESA).

Comparar as emissões
Deste modo, os passageiros terão a possibilidade de ver e comparar as emissões estimadas de gases de efeito invernadero (GEI) de seus voos, "o que permitir-lhes-á tomar decisões de compra mais informadas", celebra a Comissão.
Agora bem, não é uma medida obrigatória: as companhias aéreas que operem voos dentro da UE ou que saiam da UE poderão se aderir voluntariamente a esta etiqueta, que estará plenamente operativa a partir de julho de 2025.
Falta de critérios comuns
Desde Bruxelas recalcaron que, até agora, "a falta de uma metodologia e critérios comuns para estimar as emissões dos voos leva às companhias aéreas e aos vendedores de bilhetes a notificar os níveis de emissão utilizando metodologias dispares que não são necessariamente comparáveis".

O Centro Europeu do Consumidor em Espanha crê, quiçá com demasiado optimismo, que esta medida "fomenta a renovação da frota e a transição do sector para um novo modelo de transporte aéreo que utilize combustível sustentável, com zero emissões netas e que garanta a concorrência leal entre as aerolíneas".
Melhoras ao comparador
Cristina Arjona é engenheira civil e responsável pela campanha de Mobilidade em Greenpeace Espanha, e explica a este medeio que o indicador que propõe a UE só permite comparar internamente cada viagem, de maneira que quiçá seria mais interessante subir a aposta e mostrar, em voos nacionais, um comparador que refletisse quanto contamina a viagem se se elege o comboio ou o autocarro.
Ademais, também assinala que para o consumidor seria mais útil contar com algum sistema de classificação, tipo Nutriscore, que classificasse a quantidade de emissões por cores. "Algo em formato semáforo porque, se não, pode que o cliente leia o dado e fique assim, em abstrato", argumenta. Por isso, Arjona acha que publicar o número em frio sem dar contexto nem explicação poderia ser "um pouco de lavagem de imagem".
Decisões mais informadas
Por sua vez, Isabel Sánchez, professora da Universidade Carlemany, acha que a medida é positiva. "Cada vez mais consumidores estão a valorizar a sustentabilidade e o impacto ambiental de suas decisões de compra e o etiquetado de carbono é uma iniciativa que fomenta o poder tomar decisões mais informadas", afirma.

"A tendência global para uma maior consciência ambiental sugere que a inclusão de uma etiqueta de emissões será valorizada por um número significativo de consumidores", agrega. A professora relaciona esta medida com a nova diretora da UE contra o greenwashing, que se espera para 2026 e obrigará às empresas a "proporcionar informação ambiental veraz e verificable".
Dispostos a pagar algo mais
Ainda que o preço e a duração dos voos seguirão sendo factores cruciais para muitos viajantes, reconhece Sánchez, "há um segmento crescente de consumidores que estão dispostos a pagar mais ou a eleger opções menos convenientes se isso significa reduzir seu impacto ambiental. Este grupo, ainda que não maioritário por falta de concienciación, está em aumento".
Uma consequência negativa desta etiqueta, reconhece a experiente da Universidade Carlemany, poderia ser "que algumas aerolíneas utilizem sua adopção como uma justificativa para aumentar os preços, especialmente se podem demonstrar que estão a investir em tecnologias mais limpas e sustentáveis. No entanto, isto dependerá da concorrência no mercado e da disposição dos consumidores", conclui.