"A mnha moto chinesa Mash ficou parada indefinidamente por falta de peças"

A falta de peças sobresselentes nas marcas emergentes e não estabelecidas deixa os consumidores sem poderem utilizar as suas motas durante meses.

Uma mota Mash sem peças sobresselentes / WIKIMEDIA
Uma mota Mash sem peças sobresselentes / WIKIMEDIA

Uma infundada crise dos quarenta incitou a Nacho J. a comprar –como ele diz– "uma moto chinesa". O modelo que o cativou foi uma Mash Seventy 125, também conhecida como Mash 77, um modelo fabricado na China que ganhou adeptos pelo seu desenho vintage e a sua acessibilidade para condutores com carnet B de carro, já que se pode conduzir com uma licença A1 ou superior. Este capricho, avaliado em Espanha por um preço aproximado de 2.599 euros, permitiu a Nacho percorrer com liberdade as curvas do Tibidabo e sentir-se rejuvesnecido ao estacioná-la quase ao lado da porta do seu trabalho, para que os seus colegas a pudessem contemplar. Mas a alegria acabou em julho passado, quando Nacho teve um acidente

“Depois de uma queda, o espelho retrovisor esquerdo da mota partiu-se. Embora parecesse uma pequena reparação, a minha mota chinesa ficou parada por tempo indeterminado devido à falta de peças sobressalentes”, disse o motociclista à Consumidor Global. Após o incidente, o proprietário levou o veículo para a oficina VN Vehículos (que, até o momento, não respondeu a esta reportagem), e foi lá que ele foi informado de que não havia previsão de receber a peça necessária. A oficina, depois de tentar contactar o distribuidor, não conseguiu obter uma data concreta para a chegada da peça, o que veio complicar ainda mais a situação. 

O barato sai caro

A sua Mash 77 é parte de uma tendência crescente na qual fabricantes chineses ganham terreno no mercado europeu, oferecendo produtos mais económicos em comparação com marcas tradicionais. No entanto, como assinala Nacho, "o barato sai caro a longo prazo". Esta afirmação não só é certa para os custos de reparação, mas também para a disponibilidade e confiabilidade das reposições, é que estas marcas ainda não estão bem estabelecidas.

Una exposición de motos Mash MASH
Uma exposição de motos Mash / MASH

A falta de peças, especialmente nos modelos menos conhecidos, é uma queixa recorrente entre os proprietários. Enquanto alguns utilizadores escolhem estas bicicletas pela sua acessibilidade, outros descobrem, demasiado tarde, que as vantagens económicas iniciais podem traduzir-se em custos elevados devido à falta de disponibilidade de peças. 

Uma carência da própria marca

Ana Jiménez Zarco, professora de Economia e Empresa na Universitat Oberta de Cataluña (UOC) esclarece que, em casos de carêncoa de peças em sectores como o automobilístico ou tecnológico, o problema costuma estar relacionado com a escassez de matérias primas, como ocorreu com os semiconductores nos últimos anos. "Qualquer peça que leve esse tipo de material vê-se afectada, sejam motos, carros ou produtos tecnológicos", explica. No entanto, no caso de Nacho e a sua Mash 77, onde a peça afectada é um retrovisor, a escassez não parece estar vinculada a este tipo de materiais.

"A parte técnica, como os semiconductores, não afecta aqui", destaca Jiménez Zarco. Neste caso, ela sugere que a verdadeira causa do problema poderia estar na carência própria de uma marca pouco consolidada. "Muitas marcas chinesas começaram a expandir-se rapidamente em novos mercados, mas o problema surge com a manutenção e as reparações. É fácil estabelecer um canal de vendas, mas o que chega tarde é a infraestrutura necessária para oferecer suporte pós-vemda, como oficinas especializadas e peças sobressalentes", declara.

Há previsão de que a situação melhore?

Na mesma linha Cristian Castillo, professor de Economia da Universitat Oberta de Cataluña (UOC) perito em logística, salienta que não há rutura de stocks a nível mundial, mas os atrasos provocados por problemas logísticos e a dependência de peças asiáticas podem levar à rutura de stocks de certas marcas. No caso de motos como a Mash 77, que dependem de um único fabricante ou distribuidor, estas tensões podem ser mais evidentes.

"A solução deste problema depende muito do tipo de peça e da marca", indica Castillo. Para o perito, a única opção é esperar. Alternativamente, alguns concesionários permitem que os proprietários procurem as suas próprias peças através de lojas online ou canais secundários. No entanto, como alerta Castillo, esta opção pode ser arriscada, já que a instalação de peças adquiridas fora da rede oficial pode não estar coberta pelas garantias do fabricante.

As alternativas para os consumidores

Jiménez Zarco também destaca a opção de comprar as peças directamente online. "Resulta curioso que para uma peça como um retrovisor não exista a opção da adquirir directamente da China através de internet. Há muitas peças que se podem conseguir por essa via, seja através do próprio fabricante ou de lojas especializadas que permitem realizar pedidos online", menciona.

"O problema com marcas emergentes como Mash é que, ao tomar a decisão de compra, o consumidor corre o risco de enfrentar a uma falta de fornecimento de peças sobresselentes se o veículo se avaria. Isto pode levar a que muitos optem por marcas mais estabelecidas, ainda que sejam mais caras", argumenta. O contraste com marcas europeias é claro. "Por exemplo, se compras um Volkswagen, sabes que sempre terá uma oficina próxima ou um revendedor oficial que te possa consertar o carro. Com muitas marcas chinesas, essa rede de distribuição e suporte ainda não está bem consolidada", conclui Jiménez Zarco.

Há uma lei que obriga a garantir a disponibilidade de peças sobresselentes

O advogado Iván Rodríguez do escritório Abogado destaca que ainda que a Lei de Classificação do Comércio Varejista obrigue as marcas a garantir a disponibilidade de peças sobresselentes durante pelo menos cinco anos, na prática nem sempre se cumpre. Esta situação, explica, não só afecta a marcas emergentes como as chinesas, mas também a fabricantes mais consolidados. "Inclusive com marcas grandes há peças que só estão disponíveis através do revendedor oficial, o que complica seu acesso em muitas regiões", comenta Rodríguez.

O advogado acrescenta que a falta de oficinas oficiais ou pontos de venda próximos pode agravar o problema, sobretudo no caso de marcas pouco estabelecidas. "Nem sempre há oficinas que possam oferecer este tipo de reparações, nem sequer para marcas reconhecidas, pelo que com uma moto chinesa a situação é ainda mais complexa". Segundo o advogado, esta carência pode violar os direitos do consumidor, ainda que as sanções às marcas nem sempre são aplicadas de forma eficaz.

Até ao encerramento desta reportagem, a Consumidor Global não recebeu resposta alguma da Mash.