Fabio Nardella (Souvenir Expo Spain): "Torrons Vicens é uma loja de souvenirs"
Entrevistámos o diretor da feira para conhecer a situação atual de um sector, o dos presentes turísticos, que conta com mais de 57.000 lojas especializadas em Espanha.

Há toalhas com a Sagrada Família impressa e abre-garrafas com a forma de uma caneca de cerveja. Há bijutarias, leques com a linha do horizonte da cidade e placas do Messi. Há flamencas por todo o lado. Há, evidentemente, souvenirs made in China, mas também há moleiros e oleiros que fazem artesanato.
"Muitos turistas não se conformam com o típico íman de frigorífico nem com a t-shirt de Pablo Escobar e procuram uma lembrança que capture a esencia da sua viagem e os momentos vividos em cada destino", explica o diretor de Souvenir Expo Spain, Fabio Nardella, que entrevistámos na feira de Barcelona.
--Como vai a primeira edição de Souvenir Expo Spain?
--A receção foi boa e os corredores estão cheios de pessoas, mas, no final, os expositores têm que assinar novos clientes e fazer negócio, e isso vê-se durante os dois meses posteriores à feira.
--Além de fazer negócio, qual é o objectivo da feira?
--Todo o que um turista possa comprar, meter numa mala e levar para o seu país, é um souvenir. Por isso temos expositores que vão desde a cosmética, as velas e os brinquedos, até produtos de artesanato, o melhor azeite de Espanha e um vermut de primeira. Além do íman de frigorífico, claro. Porque o souvenir é algo muito amplo e os turistas, cada vez mais, procuram produtos de qualidade. Todo isso tem espaço na nossa feira.
--Até já vi um suporte de isqueiro Clipper...
--Clipper está em todos ss tabacarias de Espanha, mas os turistas também os compram por 1 euro e levam-os para os seus países. Também há multinacionais de retail e grandes marcas que vendem gadgets em pontos turísticos de Espanha... O sector dos souvenirs é uma motor chave do turismo.
--A que marcas se refere?
--A Torrons Vicens, por exemplo. Torrons Vicens é uma loja de souvenirs.

--Os turistas também vão a Mango e Zara independentemente de se estão em Barcelona, Londres ou Florença...
--É uma despesa turística, sim, mas não os incluímos como lojas de souvenirs. Não são o objeto da feira. Em Espanha há 57.000 lojas que vendem souvenirs em zonas turísticas, tirando as de cadeias de supermercados, Mango, Zara ou Torrons Vicens. Mas nós damos uma montra à loja que tem uma localização turística e tem que ter rentabilidade. O nosso são os negócios familiares de souvenirs.
-Como os oleiros cordoveses, os chapeleiros gregos e os artesãos turcos?
--Exato. Com os souvenirs passa como com os restaurantes: pensamos que se é para turistas, tem que ser de baixa qualidade. E a verdade é que há souvenirs e presentes para turistas que detrás têm muita história. São empresas pequenas, artesanais e de qualidade. Se o produto demora a fazer-se e é pintado à mão, sobe o preço, claro. Porque competir no preço é complicado em Espanha, mas também há turistas que procuram esse objeto com um valor acrescentado. E é aí onde fica o artesanato de Cerâmica Yelu (Córdoba), dos chapéus Stamatis Ioannidis (Grécia) e das carteiras de Kule Cappa Docia (Turquia), que estão presentes na feira e também se vendem em Espanha.

--E também estão as importações 'made in China'...
--Há um montão, sim. É muito difícil, como em qualquer peça de roupa que estamos a vestir, competir em preço com os produtos chineses. Para as empresas espanholas é muito difícil competir com a China na hora de fazer um íman, mas nem todos os ímans são iguais. A qualidade do desenho e do produto importam.
-Há vermutes com a Sagrada Família no rótulo e com uma cabeça de touro dourada a servir de rolha...
--São produtos que antes só se viam nas zonas de produção, como Porto ou La Rioja. Mas agora está a mudar orque a própria destilaria está a tentar diferenciar-se, a procurar um local turístico e a optar por um design original. São verdadeiros produtores locais que estão a tentar entrar no sector turístico à procura de paladares refinados. Pensam que, se o turista o tomar e gostar, pode sempre voltar a encomendá-lo na loja online.

--Os souvenirs são uma ponte entre os turistas e as tradições locais?
--Muitos turistas procuram uma lembrança bonita, procuram uma peça de artesanato de Menorca para pôr na sua casa e exibi-la. Procuram algo que possam guardar das suas férias. E se comprarem algo para a vossa casa, querem que seja de qualidade.
--Então, há vida para além dos ímans de frigorífico e das t-shirts de Pablo Escobar?
--Claro. Embora os produtores de ímanes me venham a atacar mais tarde, também eles alargaram a sua gama e vendem muito mais do que ímanes.