Escritoras silenciadas na escola

Uma nova proposta não legislativa do PSOE denuncia o preconceito de género nos manuais escolares e propõe uma revisão profunda do currículo para dar visibilidade a autoras historicamente ignoradas.

As escritoras silenciadas / CONSUMIDOR GLOBAL
As escritoras silenciadas / CONSUMIDOR GLOBAL

9,5% das referências literárias nos manuais escoares espanhóis corresponde a mulheres.  Em contrapartida, os homens ocupam 90,5% do canône literário que se ensina nas salas de aula.

Com estes dados, o Partido Socialista Operário Espanhol (PSOE) apresentou uma proposta não legislativa no Congresso dos Deputados para instar ao Governo a acabar com esta disparidade e promover activamente a presença de mulheres escritoras no sistema educativo.

705 escritores face a apenas 74 escritoras

Segundo um estudo citado pelos socialistas, elaborado por Sánchez Martínez e publicado na Sala de Encontro (2020), as editoriais com maior presença nas salas incluem 705 escritores face a apenas 74 escritoras. Este desequilíbrio, afirmam, não é casual; trata-se de uma "injustiça sistemática" que tem silenciado durante séculos autoras fundamentais na história da literatura espanhola.

La escritora Gloria Fuertes EP
A escritora Glória Fortes / EP

“Este cânone académico continua a reproduzir padrões patriarcais que omitem, de forma interessada, a presença de mulheres escritoras”, alerta o texto.

O canône escolar em foco

A iniciativa, que debater-se-á proximamente na Comissão de Educação, Formação Profissional e Desportos, alerta de que a literatura ensinada nas salas continua a excluir autoras essenciais, perpetuando uma visão preconceituosa da cultura e reforçando os estereótipos de género.

O PSOE defende que é tempo de rever em profundidade a seleção de autores e obras que figuram nos manuais escolares, tal como estabelecido no espírito da LOMLOE, a atual lei da educação.

Basta olhar para a Geração de 27 ou de 50 para ver por si próprio

“Basta olhar para a Geração de 27 ou para a Geração de 50 para constatar a ausência sistemática de figuras femininas”, salientam.

O grupo socialista cita exemplos claros desta exclusão:

  • Na Geração do 27, rara vez menciona-se a Concha Méndez, Ernestina de Champourcín ou Carmen Conde.
  • Na literatura de pós-guerra, Glória Fortes, Mariluz Escribano ou Ángela Figuera Aymerich continuam a ser as grandes esquecidas.
  • A poesia contemporânea também arrasta esta falta de reconhecimento, deixando de fora autoras como Raquel Lanseros, Yolanda Castaño, Ana Merino ou Carmen Jodra.

Medidas concretas: mais autoras nas salas de aula e formação de professores

O PSOE não se limita a denunciar, mas propõe soluções concretas. Entre elas:

  • Fomentar a visibilidade das mulheres escritoras em todas as etapas educativas, desde infantário até bacharelato.
  • Desenvolver programas educativos que introduzam a perspectiva de género no ensino literário.
  • Oferecer formação específica aos professores para incluir autoras nas programações e actividades docentes.
Un libro abierto/ PEXELS
Um livro aberto/ PEXELS

O objetivo, concluem, é que os estudantes deixem de absorver acriticamente um cânone masculino que marcou gerações e comecem a descobrir vozes femininas que também fazem parte da identidade cultural espanhola.