Os maiores das residências outorgam suas Oscar particulares aos filmes de sua vida
Octogenarios e nonagenarios das residências recordam como lhes marcaram alguns dos grandes clássicos da história do cinema

"A Deus ponho por testemunha que jamais voltarei a passar fome". A imagem, num claroscuro extremo, a silhueta negra sobre fundo laranja de Escarlata Ou'Hara agachando sobre a terra baldia de Tara ficou-se na retina de María, Concepção e Mari Carmen.
Por essa cena e por "o bem que está rodada, porque os actores o fazem muito bem", "porque a protagonista tem um papel com muita força (além de pelo vestuário)", O que o vento se levou (1939) é seu filme favorito de todos os tempos. E com todos os tempos falamos a mais de nove décadas no caso de María (92 anos) e Concepção (91), e de oito no de Mari Carmen (81).
'O que o vento se levou'
Para Concepção, que vive na residência de maiores Bouco Zaragoza, O que o vento se levou tem, ademais, umas connotaciones especiais porque foi a ver com seu marido, já falecido. Também conta que nunca esquecerá nesse dia. Foi em Laujar, Almería, e durou cinco horas. "Era a primeira vez que projectavam um filme no povo. Durou tanto de todas as vezes que se parava. Rimos-nos muito por todos os problemas que teve".
A mítica produção de David Ou. Selznick ganhou oito prêmios Oscar na gala celebrada em 1939 e tem resultado também ganhadora entre as votações dos residentes de diferentes centros de Bouco, seguida pela também inolvidable A lei do silêncio (1954), dirigida por Elia Kazan.
'A lei do silêncio'
Desde Bouco Valdemarín, Martín Díaz, um aposentado que tem trabalhado em diferentes cargos e com diferentes responsabilidades nos apartados de maquillaje e vestuário, assegura que A lei do silêncio "me marcou e foi a que me impulsionou a dedicar minha vida ao cinema. Gosto dos filmes que me deixam pensativo ao sair do cinema e está foi uma delas".
Esta história de máfia protagonizada por um Marlon Brando em estado de graça é também a favorita de Antonio Martín, de Bouco Ponte Romano, quem recorda a frase "aquela era minha noite", pronunciada pelo protagonista enquanto reflexiona sobre as oportunidades perdidas de sua vida.
As mulheres não pagavam
Para 1950, Mari Carmen visitava com frequência o Cinema Plus de Málaga. Tinha sete anos e "custava uma gorda e uma garota, e podiam-se ver dois filmes". Sua mãe pagava-lhe a sessão a mudança de que se levasse consigo a seu irmão pequeno, de dois anos.
Por aquela época, conta Milagres, de Bouco Meco, as mulheres não pagavam se iam acompanhadas, "pelo que aos cinco anos ia com minha irmã e lhe dissemos a dois senhores que nos passassem".
Primeiros beijos em frente ao ecrã
Amalia recorda a seus 91 sua primeira superproducción: Sinhué o egípcio. Foi durante sua projeção quando seu marido lhe deu o primeiro beijo, e por isso a tem num lugar privilegiado de sua memória. Esta nonagenaria cinéfila também é fã de Só o céu o sabe e de Rod Hudson, protagonista junto a Jane Wyman deste drama romântico de amores impossíveis no que a sociedade se ceba contra o amor de uma viúva e seu atractivo e amável jardineiro.
Agora, graças à sala de cinema da que dispõem em Bouco Madri Aravaca, pode ver filmes mais modernos, ainda que não gosta de tanto. Não obstante, não se perde uma destas sessões dominicales.
'Rebeca' e 'Cidadão Kane'
Rebeca e Cidadão Kane saem também a relucir entre os clássicos imortais que deixam impressão. Memórias de África é a favorita de José Manuel "porque trabalham Meryl Streep e Robert Redford, meus actores favoritos".
Richard Gere, recente ganhador de um Goya por sua trajectória internacional, é o preferido por Mari Carmen, que cita, como não podia ser de outra maneira, Pretty Woman.
As estrelas do tapete vermelho
O citado Marlon Brando, James Stewart, William Hurt, Yul Briner ou Steve Mcqueen são algumas das estrelas do tapete vermelho que competem na categoria de melhor actor masculino nesta figurada gala dos Oscar dos maiores das residências.
As vencedoras femininas, com empate incluído, são as bellísimas e majestuosas Vivian Leight e Elisabeth Taylor. E ainda que trate-se de cinema e de prêmios americanos, saem também a relucir figuras nacionais como Paco Martínez Soria ou Joselito, "que deixa impressão pela ternura com a que canta. A criatura parece verdadeiramente um rouxinol".