Víctor Santos (Lavazza Espanha): "A gente não sabe que não está a tomar uma mistura de cafés"

Este experiente acha que o sector dirige-se para uma sofisticación e põe o foco no labor do hostelero

Un establecimiento de Lavazza en el que se sirve café
Un establecimiento de Lavazza en el que se sirve café

Quando Luigi Lavazza fundou sua empresa em 1927, o engenheiro Alphonso Bialetti já tinha posto em marcha sua oficina de produtos de alumínio do que sairia a icónica cafetera, mas faltavam décadas para que se começassem a vender cápsulas de café ou para que nascessem Bonka e Starbucks; e se ao empresário italiano tivessem-lhe falado de latte art, quiçá teria pensado que se tratava da última ocorrência de Giorgio de Chirico ou de Giacomo Balla.

Agora, quase um século depois, Lavazza tem apresentado em Espanha Tais of Italy: quatro inovadores blends premium (isto é, misturas de grãos de café procedentes de diferentes origens, neste caso Robusta Fermentada e Arábica Cereja Apasita) que combinam o característico grande corpo do café italiano tradicional "com um bouquet aromático excepcional", asseguram.

Perfil de café mais suave

A ideia é que esta nova colecção, que oferece um perfil de café "mais suave e acessível", substitua pouco a pouco parte da faixa atual. Os novos produtos são os seguintes: Galleria - Milano (um blend 100% Arábica certificado por RainForest Alliance com toques de mel e passas); Canal Grande - Venezia (um blend com notas de chocolate e almendra); Trastevere - Roma (blend com toques de chocolate negro e canela com grande corpo) e Riviera dei Chiaia - Napoli (blend com notas de cacau, caramelo e um excelente corpo).

La nueva gama de Lavazza / LAVAZZA
A nova faixa de Lavazza / LAVAZZA

Em Consumidor Global temos falado com Víctor Santos, Iberian Regional Manager de Lavazza.

–Pergunta: Em Espanha bebemos mau café?

–Resposta: O sabor mais repetido é o sabor de referência. E, em Espanha, durante muitos anos, tem existido a tendência para um café torrefacto, tostado com açúcar. Tem sido assim, sobretudo, no centro de Espanha e na zona sul. Mas na parte de restauração é algo que está a desaparecer, fruto de todo este exercício de culturización a respeito do café. Afinal de contas, o café que se tem estado tomando em Espanha até agora é um café que não tem uma altísima qualidade, porque vai tostado com açúcar, é muito escuro, e não permite extrair todo o potencial do produto.

Dos tazas de café / PEXELS
Duas xícaras de café / PEXELS

–E o que se vende nos supermercados?

–No caso do retail, isto se dá ainda em maior medida, porque existe a denominação 'café mistura'. É um café que se vende de forma amplísima, mas como não há um labor por parte de nenhuma marca de fazer uma comunicação em massa do que realmente é um café mistura, a gente não sabe que não está a tomar uma mistura de cafés, que é o que seria um blend. A mistura que oferecem é açúcar com café. É importante que o consumidor saiba o que está a tomar, está em seu direito. E ademais, só desta maneira conseguiremos que o café se entenda em toda sua expressão, com todos seus matizes. Pensemos que um café torrefacto numa máquina superautomática, de home, produz a caramelización do açúcar nos próprios condutos da máquina. Isto é, o caramelo faz uma capa que isola completamente o produto dos aromas e sabores.

Granos de café / UNSPLASH
Grãos de café / UNSPLASH

–Você tem afirmado que o bom café pode ser um "luxo asequible". Poderia desenvolver a ideia?

–Dentro do espectro de produtos que podemos comprar, o café segue tendo um ticket razoável, ainda que é de certa qualidade. Um pacote de café premium pode-te custar no linear 7 ou 8 euros. E 7 ou 8 euros, quando realmente sabes de onde vem o que estás a comprar e valorizas a qualidade, segue sendo um desembolso que se pode enfrentar.

–Que percentagem de consumidores de café em Espanha aposta por cafés de especialidad ou de certa qualidade?

–O consumo de café de especialidad como tal, certificado, é muito minoritário. É um café menos democrático, tem uns preços muito altos. Inclusive uma xícara num speciality coffee pode estar para perto de os quatro euros. E a geração Z, que é a que vai procurando esse perfil de sabor mais doce, menos amargo, tem que enfrentar uma despesa alta se quer esse café de especialidad como tal. De maneira que nós em Lavazza estamos a oferecer um produto que é capaz de aunar esse tratamento extraordinário da matéria prima com um preço bem mais adaptado à maioria dos bolsos.

Una taza junto a un paquete de café / PEXELS
Uma xícara junto a um pacote de café / PEXELS

–Que dizer-lhe-ia ao consumidor que opina que todos os cafés são praticamente iguais, e que não lhe vale a pena investir num um pouco melhor?

–Penso que o consumidor, sobretudo no canal horeca, está muito influenciado pela decisão do hostelero. Ao final, não é tanto uma decisão do consumidor como do bartender ou do dono do ponto de venda. Neste sentido, num bar podes perguntar que marcas de cerveja tem o hostelero para eleger tua favorita, mas no caso do café é uma proposta única. Se o hostelero é o primeiro que não está a apostar, quiçá por desconhecimento, por esse café, está a limitar a capacidade do consumidor de provar outras coisas. Por isso é importante que tenha uma culturización e que a figura do barista comece a tomar peso, ou inclusive que os chefs incorporem o café, que pode ser também um ingrediente. Isso é o que fará que o consumidor comece a lhe dar valor.

–Qual acha que é, em curto prazo, o futuro de Lavazza?

–Nosso objectivo é converter na marca premium número um de Espanha em todos os canais. Acho que o futuro do café passa por uma premiumización: produtos mais sustentáveis, com maior qualidade, tratamentos bem mais refinados… E depois está a parte da experiência: a cada vez estamos a impulsionar mais, desde o training centre de Lavazza, mas também desde entidades como o Basque Culinary Center, a proposta gastronómica: como as diferentes tipologias de extracção podem complementar o menu de um estabelecimento. Supõe dar uma volta de porca à forma na que se consome café.

Un profesional prepara un café / PEXELS
Um profissional prepara um café / PEXELS

–Por curiosidade, quantos cafés toma você ao dia?

–Demasiados. Normalmente, quatro ou cinco cafés. É algo que realmente gosto.