As suspeitas podem ou não se confirmar, mas quase sempre mancham. É o que está a suceder à multinacional tecnológica chinesa Huawei, que, segundo Estados Unidos, poderia servir como um vetor do governo chinês para levar a cabo tarefas de espionagem ou sabotagem. Trata-se, desde depois, de uma acusação muito grave que tem tido impacto nos negócios de Huawei.
Ademais, o governo de Estados Unidos incluiu à marca em sua 'Entity List', o que restringiu, para as empresas americanas, a venda de tecnologia e componentes de Huawei. Em Europa, a companhia asiática tem sido objeto de uma investigação depois de ser acusada de promover subornos e exercer como lobby ilícito. De facto, Bruxelas tem recomendado aos países da UE "restringir ou excluir a Huawei de suas redes 5G", porque a companhia chinesa "representa um risco muito maior" que outros provedores.
Contrato de 12 milhões de euros
Em Espanha a situação é particularmente delicada, já que o Ministério do Interior adjudicou recentemente a Huawei um contrato de 12,3 milhões de euros para alojar interceptaciones telefónicas judiciais, isto é, informação extremamente sensível. Esta adjudicação causou receios em Washington e Bruxelas, e também foi muito criticada pelo Partido Popular.
Agora, Huawei tem assegurado que todos seus produtos cumprem "estritamente" com as leis e regulamentos locais. Ademais, tem defendido que não tem acesso aos dados de seus clientes.
OceanStor Dourado
Com respeito ao produto assinalado pelo PP, OceanStor Dourado, Huawei tem indicado que se trata de um hardware de armazenamento flash comum que cumpre com a regulação aplicável no Esquema Nacional de Segurança e com a guia de Segurança TIC de CCN-STIC.
Assim mesmo, tem proclamado que a ciberseguridad "é a principal prioridade de Huawei" e que toda a informação alojada no hardware "pertence ao cliente e está a sua exclusiva disposição".
Vínculos com Chinesa
A tecnológica tem respondido assim às críticas do Partido Popular sobre o contrato adjudicado para a gestão e armazenamento das escutas policiais, e que, segundo o PP, se deve aos supostos vínculos do expresidente do Governo, o socialista José Luis Rodríguez Zapatero, com Chinesa. Por sua vez, desde o Governo, o titular de Exteriores, José Manuel Albares, tem defendido que a segurança "está garantida".
Em qualquer caso, a polémica se enmarca num conflito que vai bem mais lá da rivalidad entre dois partidos políticos espanhóis: é uma mostra da tensão comercial e tecnológica entre Estados Unidos e Chinesa. Ademais, a pressão que exerce Estados Unidos pára que seus aliados, incluída Espanha, actuem como considera apropriado, propõe um debate sobre a soberania. Por último, o incidente volta a pôr de manifesto a vulnerabilidade da UE ante a dependência de provedores tecnológicos estrangeiros.