A revelação de Paula Vázquez sobre a saúde mental: "Tenho demasiadas portas e janelas abertas"

A condutora de TVE tem confessado numa entrevista com 'O País' como foi para ela enfrentar como a fama, sua brilhante carreira profissional e a maternidade não puderam coincidir no mesmo espaço-tempo

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Paula Vázquez, um dos rostos mais emblemáticos da televisão pública espanhola, tem vivido várias vidas dentro de uma mesma carreira. Com mais de três décadas de experiência no meio, a presentadora galega tem visto como o mundo audiovisual se transformava ao mesmo tempo que ela o fazia. Hoje, com 50 anos cumpridos, permite-se olhar para dentro e compartilhar, sem filtros, os claroscuros de uma vida dedicada às câmaras… e na que a maternidade ficou em suspenso.

Numa conversa sincera com O País, Paula joga a vista atrás e reconhece que, no caminho para o sucesso, algumas decisões se tomaram por ela sem que mal o notasse. Uma delas: pospor a ideia de ser mãe. Não por falta de desejo, sina por uma carreira que o exigia tudo.

Paula Vázquez: quando o sucesso não passa pela maternidade (quando não é prioridade nem opção)

A psicóloga Iratxe López explica que ainda persistem crenças profundamente arraigadas em torno da maternidade como mandato social: "É necessário entender que não todas as mulheres desejam ser mães, ou simplesmente não encontram o momento. E que não o fazer —já seja por eleição ou por circunstâncias— não as faz menos completas", afirma. A dor que pode surgir ao confrontar essa ausência se amplifica quando a sociedade faz questão de te dizer que "perdeste o comboio", um eco que Paula reconhece ter escutado mais de uma vez em seu interior.

Durante anos, a narrativa dominante —amplificada inclusive desde os meios mais influentes— sustentou que uma mulher sem filhos não podia atingir a felicidade plena. Hoje, essa ideia começa a resquebrajarse, mas o estigma ainda pesa: segue-se olhando com lupa às mulheres que decidem viver fosse do molde.

A pressão de ter que ser mãe… e exitosa

O mito de que toda a mulher deve ter filhos para se sentir realizada tem feito mella em muitas gerações. Assumir que a maternidade é uma meta imprescindível pode derivar em frustración, culpa ou baixa autoestima, especialmente quando as circunstâncias ou o desejo não acompanham.

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Paula sabe-o bem. Enquanto conduzia programas de enorme audiência como Fama A Dançar! ou, mais recentemente, o Benidorm Fest e Bake Off, o relógio biológico e a pressão social seguiam seu curso. No entanto, longe de lamentar-se, a presentadora considera que ter podido se focar plenamente em sua trajectória tem sido uma mordomia. "Influi muito o facto de que eu não tenho tido filhos, porque tem tido muitas colegas que têm tido que sacrificar anos de sua vida", reflexiona com serenidad.

Sucesso profissional, juventude entregada

Mas não todo foi gratificante. Paula também confessa que sua exposição pública lhe roubou parte de sua liberdade mais básica. "Nunca me emborraché, não me drogué, sempre temi que qualquer desliz acabasse com minha carreira", relata. Nessa etapa, o preço da fama foi alto: ansiedade, pressão constante e a sensação de ter cedido trozos de sua juventude em nome da imagem e a audiência.

Hoje, reconhece sem tapujos que a ambição desmedida e a necessidade de sustentar uma carreira impecable lhe passaram factura. "Já não vivo obsedada com a audiência ou com estar em primeira linha. Tenho aprendido a desfrutar de coisas mais simples", conta.

Saúde mental: uma luta silenciosa

"Tenho demasiadas portas e janelas abertas, penso muitas coisas ao mesmo tempo, o qual num momento de minha vida me gerou muito estrés e isso terminou numa depressão", confessava sobre o caro B de tanta exposição e fama.

Seu depoimento também abre a porta a uma conversa urgente: a saúde mental em meios de alta exigência. Paula revela que durante anos sofreu ansiedade e depressão, derivadas de um estrés permanente que não soube identificar até que foi demasiado evidente. Foi um vídeo em TikTok o que a ajudou a se dar conta de que possivelmente vive com TDAH, um diagnóstico que deu sentido a muitas de suas vivências passadas.

Com voz firme, recorda também suas lutas internas por trás de câmaras, onde não duvidou em alçar a voz pela igualdade salarial e por um trato justo num meio tradicionalmente dominado por homens.

Reconciliação e renacimiento pessoal

A seus 50 anos, Paula encontra-se num novo ponto de inflexão. Sente-se mais livre, mais conectada com sua verdade, e lista para viver sem os condicionamentos de dantes. "Tenho chegado a uma conclusão clara: é o momento de viver a vida que eu eleja, não a que outros esperam que viva", assegura.

Quiçá não tenha filhos em sua história, mas há legado. Um construído a base de autenticidad, valentia e a capacidade de dizer "não" ao que parecia obrigatório. E isso, também, é bem-estar.