Continuam as críticas ao Plano Estatal de Moradia e os experientes alertam de risco de 'borbulha'
Um relatório põe de relevo que quatro em cada dez operações se fecham sem financiamento hipotecaria, uma proporção muito elevada em comparação com décadas anteriores

O preço da moradia disparou-se nos últimos anos, submetendo a boa parte da população a uma asfixia económica e social que avaria projectos vitais, expulsa a vizinhos e leva a milhares de famílias a viver ao limite. O Governo, consciente, anunciou em setembro o Relatório do Ministério de Moradia e Agenda Urbana sobre os avanços do Plano Estatal de Moradia (PEV) 2026-2030.
A ministra do ramo, Isabel Rodríguez, declarou que este PEV era "um novo instrumento para marcar uma política contundente e eficaz de moradia desde o público".
Subida de preços
No entanto, muitos inquilinos e hipotecados consideram que a actuação do Governo (que chegou ao poder faz sete anos) não se pode qualificar nem de contundente nem de eficaz: os dados mostram que o preço da moradia em Espanha se encarece o duplo que na UE e, como publicou Idealista, comprar uma moradia em Espanha exige todos os rendimentos familiares a mais de seis anos.

Assim, simultaneamente que em três anos o preço da moradia de compra tem subido um 25%, os salários o fizeram só um 7%, segundo reflete um relatório de Infojobs e Fotocasa. Por todo isso, resulta llamativa a confiança das autoridades numas políticas que se estão a revelar ineficaces.
Risco "regional e específico" de borbulha
O esforço hipotecario para adquirir moradia já se acerca a níveis de 2006-2007, depois de subir os preços residenciais algo mais de 10% interanual no segundo trimestre. Os experientes, apesar do amenazante destes dados, descartam que o mercado se aproxime a um palco de 'borbulha' generalizada, ainda que avisam de risco "regional e específico".
Assim se recolhe na XXII edição do Observatório da Valoração da Associação Espanhola de Análise de Valor (AEV). O 66% dos panelistas das sociedades de tasación e o 75% dos externos acham que, pese à magnitude das subidas, estas respondem a fundamentos sólidos: demanda solvente, perfil de comprador mais prudente que dantes de 2008 e condições de financiamento bem mais estritas.

Pressão em Baleares ou Canárias
Com tudo, em territórios como Baleares ou Canárias, onde a demanda estrangeira supera o 30% das operações, a pressão sobre preços é notável e em alguns segmentos se detectam "dinâmicas especulativas vinculadas ao aluguer turístico e ao investimento com fins de rentabilidade".
Estas situações, ainda que ainda minoritárias, refletem que o risco de borbulha pode "ser regional e específico, mais que generalizado em todo o país". Por isso, o secretário geral da AEV, Jorge Dolç, tem urgido a uma estratégia a meio e longo prazo que combine financiamento, solo e moradia asequible para equilibrar o mercado.
Cidades médias tensionadas
A diferença de etapas anteriores, a pressão não se limita já às grandes capitais, sina que se estende a cidades médias e a zonas onde a demanda de compra não pode se materializar por falta de acesso a financiamento.

Ademais, todos os panelistas coincidem em que os alugueres seguirão encareciéndose nos próximos trimestres. Enquanto alguns antecipam certa moderación no ritmo, nenhum prevê uma correcção significativa em curto prazo. Entre as causas mais citadas destacam a escassez de oferta estrutural, o trasvase de demanda desde compra-a para o aluguer ou a pressão do aluguer turístico, que compete com a moradia de residência habitual.
Operações sem financiamento hipotecaria
O relatório põe de relevo que quatro em cada dez operações se fecham sem financiamento hipotecaria, uma proporção muito elevada em comparação com décadas anteriores, o que penaliza a quem carecem de poupança prévia e dependem de hipotecas.
Por isso, o 62% dos panelistas internos considera necessário reforçar as ajudas públicas, mediante avais, subvenções ou hipotecas específicas para jovens. Ademais, acham que a política de moradia deve priorizar a moradia acessível em frente a fórmulas puramente de mercado.

Propostas da Federação de Consumidores e Utentes
Por sua vez, a Federação de Consumidores e Utentes (CECU) tem indicado que o investimento público no Plano Estatal de Moradia 2026-2030 deve ser ainda maior para enfrentar os reptos demográficos e cumprir com os objectivos europeus de renovação energética.
Entre outras coisas, esta entidade tem pedido protecção permanente e real da moradia pública, financiamento garantido para a reabilitação e "luta contra a especulação e controle de preços". Sobre este último ponto, CECU expõe que, a fim de evitar que as ajudas públicas "derivem em enriquecimento pessoal, se exige o desenvolvimento de um regime sancionador efetivo contra quem aluguem as moradias a um preço superior ao permitido".