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Abandonam carteiras com dinheiro em 40 países para ver se o devolvem: estes são os mais honestos.

Através de uma experiência de campo única, os investigadores procuraram medir a “honestidade cívica” de cidadãos de diferentes culturas.

Ana Carrasco González

Uma das carteiras que foram abandonadas / WIKIMEDIA

Um estudo internacional pôs em causa um dos principais pressupostos das abordagens racionalistas da economia: a ideia de que as pessoas tendem sempre a agir no seu próprio interesse, especialmente quando podem obter um benefício material. 

Através de uma experiência de campo única, os investigadores procuraram medir a “honestidade cívica” de cidadãos de diferentes culturas abandonando 17.000 carteiras com dinheiro em 355 cidades de 40 países e observando quantas foram devolvidas aos seus proprietários.

A realidade foi diferente

Os resultados foram surpreendentes e revelaram uma vontade notável de devolver as carteiras, especialmente as que continham grandes quantias de dinheiro. Esta descoberta contraria as previsões racionalistas, que antecipam que quando uma pessoa encontra uma carteira com uma quantia considerável de dinheiro, o seu interesse próprio prevalecerá, levando-a a ficar com o dinheiro. No entanto, a realidade foi diferente.  

Honestidade e egoísmo em diferentes culturas / SCIENCE

“Em praticamente todos os países, os cidadãos eram mais propensos a devolver carteiras que continham mais dinheiro”, refere o estudo. Esta tendência comportamental demonstra que o altruísmo e a preocupação de não se verem como “ladrões” influenciam fortemente a tomada de decisões, especialmente quando o valor do dinheiro é significativo.

A "honestidade cívica"

A “honestidade cívica”, que define o compromisso dos indivíduos com um comportamento honesto que beneficia a sociedade em geral, é essencial para o desenvolvimento do capital social e económico, explicam os investigadores. No entanto, está frequentemente em conflito com os interesses próprios, o que torna este comportamento ético ainda mais admirável. 

Nas palavras dos autores: “A honestidade cívica é essencial para o capital social e o desenvolvimento económico, mas entra frequentemente em conflito com os interesses materiais.

Os níveis de honestidade entre os países

Os números revelam que os níveis de honestidade cívica variam consideravelmente de país para país. Na Dinamarca, Suécia e Nova Zelândia, por exemplo, a percentagem de carteiras devolvidas com dinheiro excedeu os 80%, demonstrando um forte empenhamento cívico e um elevado nível de ética social. Por outro lado, entre as opções de carteiras com e sem dinheiro, a Suíça, a Noruega e os Países Baixos foram os países com as taxas de devolução mais elevadas.

A Espanha, juntamente com países como a França, a Alemanha, a Austrália e o Canadá, faz parte de um segundo grupo de países onde mais de 50% das carteiras foram devolvidas. No caso das carteiras com dinheiro, a taxa de devoluções neste grupo ultrapassou os 60%. Os investigadores observam que nem os economistas nem o público em geral tinham previsto estes resultados.