Não o sabias: esta foi a musa espanhola que inspirou a Serrat para compor "Mediterraneo"

Tossa de Mar foi bem mais que uma paisagem para Joan Manuel Serrat: foi a musa que inspirou a cada verso de "Mediterráneo"

Diseño sin título (22) (1)
Diseño sin título (22) (1)

Quando Joan Manuel Serrat compôs Mediterráneo, não só plasmó seu amor pelo mar. De forma bem mais íntima e pessoal, capturou a esencia de um lugar muito concreto: Tossa de Mar, uma jóia costera da província de Girona que foi, sem matizes, a musa que deu forma e alma a uma das canções mais emblemáticas da música em espanhol.

Tossa de Mar não é um simples decorado nem um palco genérico. É o coração palpitante do que brotaram as emoções de Serrat. Foi ali, entre calas escondidas e casas brancas em frente ao mar, onde o cantor encontrou algo que não só o inspirou, sina que o transformou. Aquele instante de conexão com a natureza, com a história e com a esencia mediterránea foi tão poderoso que acabou plasmado para sempre em sua música.

Tossa de Mar: onde nasceu o "Mediterráneo" de Serrat

Corriam nos anos 60 quando um jovem Serrat, ainda na etapa temporã de sua carreira, visitou uma das muitas calas escondidas de Tossa de Mar. O que viu —e o que sentiu— foi uma revelação. As barcas de pescadores descansando sobre a areia, as casas brancas em frente ao azul do mar, a silhueta do castelo medieval recortada contra o céu… Todo aquilo não só lhe impressionou: comoveu-o profundamente.

Foi nesse instante, em frente ao mar turquesa e a brisa da Costa Brava, quando nasceu a semente de Mediterráneo. Não foi um mar abstrato o que lhe falou. Foi esse mar concreto, o que banha a costa de Tossa, o que lhe susurró versos.

A musa que não foi pessoa, senão lugar

A diferença de muitas canções que nascem de amores humanos, Mediterráneo surgiu do amor por uma paisagem emocional e físico. Tossa de Mar, com sua combinação de beleza natural, história e autenticidad, encarnava para Serrat todo o que significava crescer junto ao mar, viver com o mar e se sentir parte dele.

Tossa de Mar / Wikipedia
Tossa de Mar / Wikipedia

Quando canta "quiçá porque meu niñez segue jogando em tua praia", não fala de uma metáfora longínqua. Fala de uma praia real, de uma experiência íntima, de uma visão que se gravou para sempre em sua memória: o reflexo do sol sobre o água, o perfume a salitre, o rumor das ondas rompendo suavemente na orla. E essa orla era a de Tossa.

Um povo com alma de artista

Tossa de Mar não é alheia à inspiração artística. Foi lugar de retiro para poetas, refúgio para pintores, e plató natural para o cinema clássico. A lista de povos catalães que têm marcado a criadores é longa: Cadaqués com Dalí, Tarragona com Els Pets… e Tossa com Serrat.

Playa de Tossa del Mar / Wikipedia
Praia de Tossa do Mar / Wikipedia

A diferença está em que, enquanto outros encontraram inspiração, Serrat encontrou uma musa total. Tossa de Mar não só lhe ofereceu imagens formosas, sina uma conexão espiritual que acabou cristalizando numa das canções mais sentidas e sinceras do panorama musical espanhol.

Elementos que o inspiraram

Serrat ficou prendado de vários elementos muito concretos de Tossa de Mar:

  • A praia principal, onde descansam as barquitas de pescadores, foi sua imagem primeira.
  • As casas caiadas em frente ao mar, que evocam a harmonia entre o ser humano e a natureza.
  • O castelo medieval, símbolo de história e resistência, que dá uma força visual ao conjunto.
  • Cala-las escondidas que ofereciam silêncio, intimidem e recogimiento.

Todos esses detalhes, quase cinematográficos, se transformaram em sons, conformes e versos.

A canção: um mapa emocional para Tossa

Mediterráneo foi publicada em 1971. Desde então tem sido versionada, interpretada, estudada e venerada. Mas poucos sabem que, por trás de sua letra, há um mapa geográfico que aponta directamente para Tossa de Mar.

Joan Manuel Serrat en el Palau de la Musica Catalana en 1967 / Instagram
Joan Manuel Serrat no Palau da Música Catalã em 1967 / Instagram

Frases como "levo tua luz e teu cheiro por onde queira que vá" ou "e ainda que o vento me arraste, não arrancar-me-á do mar" adquirem uma nova dimensão quando se sabe que esse "mar" é o de Tossa. Essa é a costa que o marcou, que o impulsionou a compor, que o devolvia uma e outra vez a suas raízes.

Tossa de Mar hoje: uma homenagem silenciosa

Hoje, Tossa segue ali. Seu castelo, suas ruas empedradas, suas calas, seguem respirando o mesmo ar que conquistou a Serrat. Mas para além do turismo, para além dos verões bulliciosos, há um respeito não escrito por seu legado artístico.

Caminhar por suas praias é, em certa maneira, percorrer os versos de "Mediterráneo". Observar as barcas, olhar o horizonte, perder-se na Vila Vella… Todo convida a reviver essa inspiração que um dia mudou a história da música espanhola.

A diferença de outros povos que presumen de sua relação com artistas famosos, Tossa não precisa placas conmemorativas nem estátuas de Serrat em seu passeio marítimo. Sua relação com o artista é mais profunda, mais calada, mais essencial. Está no ar. Na luz. Nas ondas. E assim deve ser. Porque as musas não se exibem. Sentem-se. E Tossa, mais que um povo, é um sentimento.