Adidas 'plagia' a Nike e diz adeus à pele de canguro em suas botas de futebol

A cada ano, milhões destes animais são abatidos em Austrália, no que se considera a maior matança comercial de animais silvestres no mundo

Unas botas de fútbol de Adidas   UNSPLASH
Unas botas de fútbol de Adidas UNSPLASH

Durante décadas, a ligereza e resistência do couro de canguro considerou-se o regular dourado na fabricação de botas de futebol de alto rendimento. Era o material elegido por estrelas da bola e a peça cobiçada nos laboratórios de desenho de marcas como Adidas, que apostava por esta pele para seus modelos mais icónicos.

No entanto, essa era tem chegado a seu fim.

Como Nike, Puma e New Balanço

Adidas tem confirmado que tem eliminado por completo o uso de pele de canguro em sua produção de calçado desportivo. Trata-se de uma decisão longamente esperada por organizações defensoras dos animais e ativistas, que durante anos denunciaram as práticas por trás do fornecimento deste material.

Com esta medida, marca-a alemã soma-se a outras companhias do sector, como Nike, Puma e New Balanço, que já tinham anunciado compromissos similares. A mudança, mais que uma inovação, parece agora uma rectificação.

O preço do rendimento

Cada ano, milhões de canguros são abatidos em Austrália, no que se considera a maior matança comercial de animais silvestres no mundo. Ainda que esta actividade está regulada pelo governo australiano, múltiplas investigações têm documentado práticas alarmantes. Entre elas, disparos imprecisos que provocam feridas graves, mortes lentas e o sacrifício rotineiro de crianças, que não podem sobreviver sem suas mães.

Segundo estimativas, cerca do 40% dos canguros caçados não morrem ao instante. Muitos ficam malheridos, com fracturas e hemorragias, agonizando durante horas. Esta realidade tem sido denunciada por entidades como FAADA, Kangaroos Alive e World Animal Protection, que sustentam que o uso comercial da pele –principalmente para a indústria do calçado desportivo– perpetua uma corrente de sofrimento incompatível com qualquer regular ético contemporâneo.

A pressão que mudou o rumo

A decisão de Adidas não se produziu no vazio. Tem sido o resultado de uma campanha sustentada por organizações internacionais e movimentos cidadãos. Petições como #LosCangurosNoSonZapatos e #KangaroosAreNotShoes têm recolhido milhares de assinaturas em todo mundo. A narrativa mudou: o que dantes era sinônimo de qualidade técnica começou a se associar com sofrimento animal e falta de sustentabilidade.

"Temos grandes notícias", comunica FAADA depois do anúncio de Adidas. "Depois de anos de pressão por parte das entidades de protecção animal, Adidas tem anunciado finalmente que tem deixado de utilizar pele de canguro em suas botas de futebol", assinala no comunicado. Para estas organizações, a medida marca uma meta, ainda que reconhecem que ainda fica caminho por percorrer para erradicar por completo o uso de peles exóticas na indústria.

Couro vegano e tecidos reciclados

Desde a empresa alemã, a mudança comunicou-se sem grandes alardes, como parte de uma estratégia mais ampla para materiais sintéticos de nova geração.

Nos últimos anos, Adidas tem investido em soluções alternativas como o couro vegano e tecidos reciclados, uma aposta que responde tanto a considerações meio ambientais como às expectativas de um consumidor cada vez mais exigente.