Vanetta Food, a marca 'plant-based' que apela à tradição com sua zorza e sua cachopo vegano
Águeda Ubeira aposta por alimentos elaborados por ingredientes "da maior proximidade possível"

Aunar tradição e inovação é algo que com frequência se podem propor e se propõem chefs, arquitectos ou pintores, mas não parece algo fácil para uma marca de alimentação plant-based. No entanto, isso é o que faz Vanetta Food, uma empresa a cujos promotores, com sua comida vegana a domicílio, lhes "encanta" se manchar "as mãos comendo, cuidar do planeta, dos animais e de nossa saúde".
"É por isso que não queremos renunciar a nossas raízes e te oferecemos uma experiência culinaria com produtos típicos galegos e regionais mas transformados em plant-based", explicam em sua página site. A empresa nasceu em 2023 com o objectivo de "revolucionar o sector" e actualmente emprega a 9 pessoas. Águeda Ubeira é seu CEO e fundadora.
Da 'food truck' ao restaurante
Dar vida a Vanetta Food não foi em absoluto singelo. Não há grandes multinacionais detrás. "Em 2020 tivemos a buenísima ideia de empreender e gastar todas nossas poupanças numa food truck que inauguramos o 13 de março de 2020. Poder-te-ás imaginar que passou o 14", conta a este meio Ubeira. Forçados pelas circunstâncias, deram voltas e voltas de porca até que, no final de 2020, conscientes de que tinha "um oco e um nicho na cidade", montaram em Vigo um local físico.

"Um pequeno restaurante no que oferecíamos alternativas vegetais. Só veganas", rememora. Esta experiência serviu-lhes para testear a resposta dos clientes, afinar as receitas até a excelência e apanhar impulso simultaneamente que o fazia o sector da alimentação de origem vegetal. "Mentir-te-ia se dissesse-te que não foi muito duro", reconhece Ubeira.
Proposta diferencial
Quando a situação começou a normalizarse, modificaram sua carta e assumiram que o que realmente queriam oferecer eram produtos diferenciais. De facto, a ideia era montar algo que fosse o mais parecido possível a uma tasca ou uma taberna de tapeo tradicional, fugindo assim do sota, cavalo e rei composto por hamburguesas, nuggets e salchichas vegetais.
"Sem renunciar ao sabor nem à textura, procurávamos criar algo que fosse parecido a um furancho", diz Ubeira, que em Galiza é um estabelecimento de hotelaria peculiar e tradicional: com frequência trata-se de moradias particulares que, durante uns meses, abrem suas portas ao público para oferecer o excedente de sua produção de vinho caseiro acompanhado de platos típicos.

Produtos escalables
E fizeram-se especialistas. Chegou um momento no que eles mesmos desenvolviam quase a totalidade das alternativas cárnicas presentes na carta. "Não éramos hosteleros, e sabíamos que quando nos primeiros anos de incerteza pós-Covid passassem, podíamos oferecer algo mais: nossos produtos eram escalables, aos clientes gostavam, tivemos de alguma mostra de interesse por parte de alguma loja…", expõe.
De maneira que puseram-se mãos à obra e deram forma ao projecto Vanetta Food como uma start-up do sector food tech.
Projecto validado
Em dezembro de 2022 apresentaram o projecto a uma aceleradora da Xunta de Galiza, foram passando filtros e em setembro de 2023 entraram na mesma. "Dantes de que soubéssemos que nos tinham eleito, em junho de 2023, já tínhamos decidido traspassar o restaurante e apostar por Vanetta Food. Estava completamente validado e sabíamos que funcionaria no mercado", conta Ubeira.
Sua proposta inclui empanadillas veganas (11,99 euros), croquetas "como as de toda a vida" vegetais (7,90 euros, 250 gramas), soja texturizada estilo zorza galega (6 euros, 400gr), que é a estrela do portfolio, e três modalidades de seitán "estilo cachopo asturiano". Cedo sacarão uma morcilla. "Procuramos revalorizar a cultura gastronómica de diferentes regiões", assegura.
Origem espanhola
"Para alguns, fazer cachopo vegano ou uma zorza supõe um fusilamiento da receita. Mas quando essa pessoa nos dá uma oportunidade e prova o produto, o conceito muda completamente", assegura Ubeira.

A grande maioria de seus produtos estão elaborados com ingredientes de origem espanhola. "Tentamos inclusive que sejam da maior proximidade possível. Se podem ser galegos, melhor. Ao final é uma questão de cálculo de impressão de carbono, gostamos de auditar-nos nesse sentido", diz a fundadora. A excepção é a soja texturizada, "pelo paradoxo de que em Espanha não temos soja texturizada, toda se importar".
Consumidores flexitarianos
O perfil de consumidor de Vanetta é uma pessoa flexitariana dentre 30 e 50 anos, maioritariamente mulher. "O 80% de nossos consumidores não são veganos nem vegetarianos, senão pessoas que decidem aumentar a ingestão de verduras ou legumes em seus dietas ou que procuram alternativas um pouco mais saudáveis", indica a empresária galega.
À hora de afinar não têm precisado fazer uma infinidad de provas: seu processo de laboratório foi ter o restaurante durante dois anos. "Aí foi quando aperfeiçoamos todas e a cada uma das receitas, de modo que Vanetta, quando se fundou, já tinha um portfolio bastante bem desenvolvido".
Futuro do sector
"No outro dia redigia um correio e via que em abril de 2023 éramos três pessoas, de modo que as coisas se estão a fazer bem e o trabalho está a valer a pena", diz esta empresária ao ser perguntada pelos desafios de seu dia a dia. Sublinha sua vontade de "resgatar a cultura gastro", algo no que têm apostado, ela e seu sócio, "toda nossa vida".
Apesar de que recentemente se produziu um verdadeiro descenso de consumo de alimentos plant-based que se corresponde com uma consolidação do mercado, Ubeira augura que ao sector ir-lhe-á bem. "Acho que o mercado seguirá crescendo a duplo dígito, que é o que se prevê. Veremos que é o que passa com as políticas européias, mas acho que é um movimento imparable. Todos sabemos que a sustentabilidade tem que estar presente às eleições de nossa vida, e em nossa mesa também".