O compromisso de Correios com a entrega de pacotes depende de quanto se pague

A empresa pública de transportadora e paquetería indigna a clientes que elegem a opção de envio ordinário, já que não garante que os pedidos cheguem a seu destino

Un trabajador atiende a un cliente en una oficina de Correos   Rober Solsona   EP
Un trabajador atiende a un cliente en una oficina de Correos Rober Solsona EP

Se optas pelo envio ordinário, jogas-ta. Pagas por um serviço, mas não tens direito a reclamar se não chega a destino. Soa absurdo, mas isso foi exactamente o que lhe sucedeu a Berta González com Correios.

O 16 de janeiro, González chegou à janela de um escritório da empresa pública para enviar um pacote. O empregado pesou-o e ofereceu-lhe duas opções; envio ordinário, por 3,17 euros, ou certificado, por uns cinco euros. "Se manda-lo como ordinário, não tem rastreamento, mas se não cabe no buzón, deixamos um aviso para que o recolham no escritório", lhe disseram. Em mudança, com o certificado, o pacote teria um número para rastrearlo, seria entregue em mãos e o receptor teria que assinar ao o receber.

O pacote não chegou

Apesar destas diferenças, a jovem optou pelo ordinário, confiando em que, ainda que não tivesse traçabilidade, o pacote chegaria sem problemas, como já lhe tinha ocorrido em ocasiões anteriores. "Disseram-me que demoraria entre 3 e 5 dias hábeis, ainda que com possíveis atrasos pela acumulação da campanha de Natal", explica González.

Una mujer llega a una oficina de Correos Rober Solsona EP
Uma mulher chega a um escritório de Correios / Rober Solsona - EP

Com essa expectativa, o 22 de janeiro, seis dias depois, perguntou ao destinatário se tinha recebido o pacote. A resposta foi um rotundo "não".

A resposta de Correios

González, preocupada, decidiu contactar com o serviço de atenção ao cliente de Correios. Facilitou-lhes os dados do ticket, esperando que pudessem localizar seu envio. Mas a resposta da empresa foi tajante:

"Ao tratar de um envio ordinário, não dispomos de rastreamento nem garantia de entrega. Se existe uma incidência, como direcção incorreta, o pacote se devolve ao remitente. Distribuímos mais de 14 milhões de envios ao dia, pelo que é difícil realizar uma investigação sem código identificador."

Em poucas palavras, se o envio ordinário perde-se, não há forma do recuperar. E não é reclamable.

Indignada, González respondeu:

"Estais a dizer-me que o serviço ordinário, que também se paga, não assegura nada? Não sabeis que fazeis com os envios? Não peço que pesquiseis 14 milhões de cartas, peço que não percais os pacotes. Que cheguem a seu destino é o mínimo que se pode pedir a uma empresa que se dedica a isso."

Mas Correios fez questão de que o serviço ordinário não garante a entrega, sugerindo que, para evitar problemas, sempre deveria optar pelo certificado. "Este tipo de envios, não dispõem de reclamação por perda ou extravio, ao não precisar assinatura para sua entrega", comentam desde a empresa.

É um serviço que pagas

"É como se pagas um café e não to servem, mas te vais porque o bar funciona assim", resume González. Depois de várias mensagens trocadas, ficou claro que o pacote não apareceria. A única resposta que recebeu foi o convite a usar serviços certificados no futuro. "O pacote não tem chegado, pelo que o dou por perdido. Mas suponho, que como não há provas de que esteja perdido, não há delito", assinala a utente, que cataloga esta prática de vergonzosa.

"No escritório de Correios dizem-me que não me devolvem o custo do envio (3,10 euros) porque não posso demonstrar que o pacote não se tenha entregado. Seguem considerando que, ainda que o pacote não tem sido entregado, em nenhum caso o dão como perdido", destaca a jovem. "Estás a pagar por um serviço que não te garante nada. Em que outro negócio ocorre isto? Que segundo pagues mais ou menos se comprometam a fazer seu trabalho? E a tudo isto, sendo Vos corram uma empresa pública", reflexiona. De facto, não é a única pessoa indignada com o serviço de Correios.

Clientes indignados com Correios

Marta P. não entende como é possível que, ainda que se pague pelo serviço, seja necessário gastar mais num envio certificado para garantir que chegue. "Pagas pelo ordinário, mas lavam-se as mãos se passa algo", comenta indignada. Amaia E. critica duramente a política de Correios: "Esse discurso de 'paga mais se não queres que se perca' reflete uma falta total de compromisso com o serviço básico. Dás por facto que o ordinário não vai chegar? É absurdo".

Reis S. sugere eliminar directamente o envio ordinário se não são capazes de garantir seu funcionamento. "Nem os pacotes chegam, nem devolvem-nos, nem deixam aviso. Ainda que não seja certificado, estamos a pagar por um serviço que não está a funcionar", assinala Eva Almécija. Carlos Ou. é tajante: "Jamais envies algo valioso por envio ordinário, é como atirar ao lixo. Sempre certificado, ainda que a cada vez seja mais caro".

Os preços de um envio ordinário e certificado

O debate intensifica-se ao analisar os preços. Por um lado, um envio ordinário pode custar tão só 0,80 euros para cartas de até 20 gramas. Em contraste, o preço do envio certificado, com rastreamento e seguro básico, ascende a 5,29 euros para o mesmo peso. A diferença, ainda que parece pequena, supõe um aumento a mais de 500% para quem enviam pacotes ou cartas de maneira frequente.

CCOO ya alertó la extrema situación de unidades de reparto de Correos, algunas con la mitad de la
Pacotes no escritório de Correios / FOTO DE ARQUIVO

"Se o preço do ordinário é mais baixo, não deveria ser desculpa para que os envios se percam. É um serviço público e deveria cumprir com o básico: entregar o que se paga", assinala Berta.

Consumidor Global pôs-se em contacto com Correios para conhecer sua postura oficial ao respeito. Não obstante, ao termo desta reportagem não se obteve resposta alguma.