Os electrodomésticos baratos de Cecotec, às vezes, saem caros: defeitos, explosões e 'ghosting'
A empresa valenciana vende robôs de cozinha, freidoras, aparelhos de limpeza e até fornos, mas os compradores advertem de que muitos artigos têm uma vida útil demasiado curta

Segundo Bill Gates, um cliente insatisfeito é, para uma marca, "sua melhor fonte de aprendizagem". Os de Cecotec, uma companhia valenciana que comercializa electrodomésticos inteligentes, são legión. Para comprová-lo só há que entrar em Facebook, onde há um grupo com quase 3.000 consumidores afectados aos que a empresa não tem dado soluções. Ou em Twitter, onde as queixas a Cecotec e seus produtos estrela, como a Conga, são quase diárias.
O lema da marca é "inovação para fazer tua vida mais fácil em teu lar", mas, para muitos utentes, é todo o contrário. A gravidade dos problemas varia: desde dinheiro que não se devolveu, até queimaduras, passando por um serviço de reparo com muitas lagoas.
O serviço técnico de Cecotec não contenta aos consumidores
Joby conta a Consumidor Global que comprou um robô aspirador, a Conga 4090, em janeiro de 2020. Por então, esse produto valia quase 400 euros. "Escolhi comprar um produto espanhol em vez de um de fora por gerar o trabalho e a riqueza aqui", explica. E, segundo o fabricante, a Conga "passa a mopa e friega o solo graças a seu tanque misto para sólidos e líquidos".

Não obstante, Joby puntualiza que a sua nunca tem fregado. Ademais, segundo relata, o serviço técnico deixa muito que desejar. "Não consegues contactar com ninguém, se te pões a chamar não te apanham o telefone, ao correio te contestam quando querem…" Depois de muito insistir, Joby pôde mandar seu Conga solicitando que se arranjasse a falha. "Enviaram-ma de novo dizendo que fregaba perfeitamente, mas não era assim", lamenta.
Electrodomésticos baratos que falham dantes de cumprir no ano
Outra característica das Congas é o mapeo laser, que permite programar percursos pela superfície que vá limpar o aparelho. A segunda vez que Joby enviou a sua ao serviço técnico foi porque "não fazia bem os mapas, se parava, se perdia…". Contestaram-lhe "exactamente o mesmo correio", alegando que o produto funcionava sem problemas. A dia de hoje tem-a num sítio, infrautilizada.
A Beatriz passou-lhe algo parecido, neste caso com um patinete elétrico. "Em setembro de 2020 presentearam-me um Scooter Bongo A. Não tinha cumprido um ano e começou a lhe falhar a bateria. Ia a tirones até que um dia se parou", explica indignada a este meio. Pôs-se em contacto com o serviço técnico, já que o produto estava em garantia, e pediram-lhe que o enviasse.
"Tentar comunicar com a companhia é uma odisea"
Quando recebeu o patinete de volta, para Beatriz ficou claro que o arranjo não tinha sido eficaz: ao mês seguinte voltava a falhar. "A partir desse momento, tentar comunicar-me com Cecotec foi toda uma odisea. Por telefone impossível, e ao e-mail contestaram-me vários dias depois", assegura. Finalmente, levou o aparelho a uma oficina colaborador de sua cidade, onde, depois de um novo reparo, descobriu que não lhe tinham mudado a bateria. "Tinha-a marcado previamente para comprová-lo", revela.

Passada uma semana desse segundo reparo, os problemas do patinete regressaram. "Estando em garantia, o único que fazem é chapucearla até que se termina o período, para assim lhes comprar uma bateria nova", opina Beatriz. Segundo ela, "só lhes interessa vender, uma vez que te venderam o produto, tudo são longas". Ela se teve que comer este Scooter de "quase 500 euros".
Cecotec responde às queixas
Desde Cecotec reconhecem a Consumidor Global que têm muitas críticas em redes sociais, mas alegam que se deve a que estão em todas e que as utilizam para estar para perto de os clientes. "Nossa estratégia é escutar ao consumidor, e todas as reclamações que chegam por essas vias se gerem", explicam. Ademais, apontam a que a gente faz um mau uso de seus aparelhos: "O 80 % das avarias apresentadas devem-se a não saber usar o produto ou a uma manutenção inadequada", assinalam.
Assim mesmo, reconhecem que têm margem de melhora, mas também que agora há mais ruído porque seu crescimento tem sido descomunal nos últimos cinco anos. "O serviço pós-venta requer que o vás formando", expressam. Este serviço está integrado, afirmam, por 250 pessoas, de modo que se às vezes as centrais "se colapsan" é porque chegam-lhes consultas "de todo o tipo". Ademais, põem em valor seu esforço comunicativo, com um vídeo tutorial para a cada produto, e apelam a que os consumidores correspondam. "Há gente que não se lê os manuais", remarcan.

Problemas com a freidora de ar
A Juancho também lhe custou comunicar com a empresa. Narra que comprou uma freidora de ar e às duas semanas já lhe dava problemas. Pôr-se em contacto com a marca foi arduo: "Terei chamado 70 ou 80 vezes, das quais mo têm apanhado três", especifica. Mas nem com essas. As três vezes que conseguiu falar com eles obteve "respostas diferentes", como que não tinham filtros ou que já iam gerir o reparo. O que mais lhe acendeu foi quando lhe disseram que limpasse ele os filtros.
E há casos ainda mais flagrantes que o de Juancho. Em Twitter, os compradores de Cecotec têm denunciado incidentes que não se comunicam ao cliente, cobranças de 10 euros por despesas de envio em conceito de devoluções, produtos que chegam destroçados e, sobretudo, "um péssimo serviço de atenção ao cliente".
Desenho em Espanha, mas com peças de fora
Desde Cecotec alegam que o desenho dos produtos se realiza de maneira íntegra em Espanha, mas que, ao igual que muitas outras empresas, trazem componentes de outros países, como Chinesa.

Quanto ao reparo, o objectivo da empresa é agilizar os prazos. Agora têm estabelecido acordos com outras empresas e possuem 135 pontos de serviço técnico aos que os compradores podem ir para levar seus electrodomésticos avariados. Não obstante, a julgamento das críticas, não parecem suficientes.
Fornos e robôs de cozinha explosivos
Nos grupos de afectados de Facebook, o que mais sobrecoge é ver as fotos de queimaduras provocadas por falhas em produtos de Cecotec: a Mambo 6090, um potente robô de cozinha multifunción, tem causado vários acidentes. Segundo detalha uma afectada neste foro, "ao pôr o triturado ao 5, a tampa saiu disparada". Estes acidentes generalizaram-se porque as tampas não eram seguras. A assinatura respondeu e envio umas novas para substituir as voladoras.
A marca publicou um comunicado no que explicava que "um potencial mau uso da tampa" poderia gerar um problema de segurança. "Antecipando-nos a todo isso, temos desenvolvido uma tampa declarada a prova de erros com a que eliminar possíveis riscos que se possam derivar de um descuido ou potencial mau uso da equipa", disseram então.
Garantias e desconexões
Não é a única vez que Cecotec teve que assumir responsabilidades. Em junho de 2021, centos de Congas desligaram-se da rede, pelo que só puderam ser usadas manualmente. A empresa publicou uma escueta nota na que agradecia pela paciência a seus clientes. "Estamos a trabalhar para melhorar o serviço. É possível que durante umas horas, na App, Conga apareça fosse de linha", detalhavam.

Faz dois anos, os afectados estavam tão hartos que chegaram a abrir uma página em Change.org para pedir que a empresa cumprisse com a lei de garantias e não excedesse os prazos estipulados. A dia de hoje somam mais 2.500 assinaturas.