Este é o dineral que têm poupado os espanhóis em comboios desde a chegada de Ouigo e Iryo
Um relatório da Comissão Nacional dos Mercados e a Concorrência (CNMC) reflete que a liberalização tem permitido poupanças superiores aos 400 milhões de euros
Até faz não tanto, Renfe tinha o monopólio do tráfico ferroviário em Espanha. Em maio de 2021 produziu-se a entrada do primeiro operador privado, Ouigo, conquanto a chegada da concorrência à Alta Velocidade, impulsionada por regulamentos da UE, gerou um intenso debate. De facto, em 2016, Podemos opôs-se ao Plano da UE para a liberalização do caminho-de-ferro.
O próprio Iñígo Da Serna, então Ministro de Alavancagem do Partido Popular, pospôs o progresso da abertura do mercado que tinha proposto sua antecessora, Ana Pastor. "Quiçá muito próximo de 2020 é preferível preparar bem a rede e o mercado e abordar todo o processo de liberalização de uma vez nessa data, em vez de dar entrada agora a um só operador privado numa só linha", disse então Da Serna.
Poupança a mais de 400 milhões de euros
Mais tarde, em novembro de 2022, chegou Iryo, e a partir desse momento o preço dos bilhetes caiu simultaneamente que os viajantes se multiplicaram. Neste sentido, segundo a Comissão Nacional dos Mercados e a Concorrência (CNMC), a liberalização "tem permitido poupar aos consumidores mais de 400 milhões de euros em 2024 em comparação com 2019".

"Segundo um estudo encarregado pela Comissão Européia, a abertura da concorrência em Espanha a três operadores e quatro marcas comerciais (os AVE e AVLO de Renfe, além de Ouigo e Iryo) tem dado lugar a uma maior queda de preços que em outros países onde só há dois operadores competindo", detalham.
Aumento dos viajantes
Ademais, a CNMC estima que 49 milhões de viajantes se montaram num comboio em 2024, dos que 39,6 milhões foram em alta velocidade, 1 milhão em rotas internacionais e 9,2 em longa distância convencional.
Desde 2019, o número de viajantes em alta velocidade tem crescido em 17,2 milhões (+77,2%).
Quedas significativas de preço
Segundo um estudo de Trainline publicado em 2023, a chegada de novos operadores ferroviários a Espanha tinha provocado descensos nos preços médios de todas as rotas abertas à concorrência, especialmente no caso dos comboios que ligam Madri e Barcelona, nos que o custo dos bilhetes tinha caído um 65% desde 2019.

Neste meio competitivo, inclusive Renfe chegou a rebajar seus preços em alguns corredores até um 25% para competir com os novos operadores.
Perdas de Renfe
No entanto, nesta equação também se tem em conta que Renfe tem passado de um benefício pela alta velocidade em 2019 de 133 milhões de euros a umas perdas de 27 milhões em 2024, às que há que somar os 'números vermelhos' de 31,5 milhões de Iryo e de 40,5 milhões de Ouigo, ambas controladas por empresas públicas de Itália e França, respectivamente.
Ao todo, a CNMC calcula que Renfe acumula umas perdas de 842 milhões de euros nestes últimos cinco anos (devido também em parte ao impacto do Covid e do incremento dos preços energéticos), às que se somam as perdas acumuladas de 170 milhões de Iryo e de 191 milhões de Ouigo. Ao todo, as três têm perdido 1.203,5 milhões desde 2020.