O café é a bebida que mais sobe de preço em Espanha: este é o motivo

Analisamos as chaves de uma subida que afecta ao bolso de milhões de consumidores, tanto em casa como na hotelaria

Una máquina de café   GRUPO ABADES   EP
Una máquina de café GRUPO ABADES EP

O preço do café não deixa de subir em Espanha, convertendo no produto que mais se tem encarecido até a data. Segundo os dados oficiais do Instituto Nacional de Estatística (INE), o custo desta bebida tem experimentado um aumento a mais de 15% nos primeiros sete meses do ano, uma cifra que supera com cresces à de outros alimentos básicos.

Este incremento não distingue entre o tomar em casa ou num bar. A subida notou-se em todos os âmbitos, transformando um gesto quotidiano num pequeno luxo diário.

Um gesto quotidiano, a cada vez mais caro

Recordas quando um café num bar custava pouco mais de um euro? Faz mal cinco anos, era habitual encontrar preços que oscilavam entre 1,20 euros e 1,60 euros nas cidades. Hoje, essas cifras são história. Desfrutar de uma xícara de café numa cafeteria custa entre 10 e 50 céntimos mais, um sobrecoste que o consumidor final assume directamente.

Una persona prepara un café / FREEPIK
Uma pessoa prepara um café / FREEPIK

A situação nos supermercados é similar, mas com um duplo desafio: a inflação e a reduflación. Não só as etiquetas marcam preços mais altos, sina que muitos fabricantes têm reduzido a quantidade de produto em seus pacotes. Assim, um pacote de café de 250 gramas que em 2020 custava uns 2,50 euros, agora se acerca ou supera os 3 euros, uma barreira que se pulveriza se optamos por marcas mais reconhecidas.

As chaves da subida

Mas, por que está a passar isto? Não há uma única causa, sina uma combinação de factores a nível mundial que têm criado a tormenta perfeita. Ademais, não se prevê uma mudança de tendência em curto prazo.

1. A crise climática golpeia as colheitas

O principal culpado é o clima. Brasil, o maior produtor de café do mundo, tem sofrido secas devastadoras que têm mermado gravemente sua produção. A isto se somam geladas inesperadas em outras regiões produtoras, causando danos com frequência irreversíveis nos cafetales. Com menos grão disponível no mercado mundial, a pressão sobre os preços é inevitável.

2. Custos de produção, logística e concorrência

Produzir café é hoje bem mais caro. O encarecimiento dos fertilizantes, uma consequência direta da guerra em Ucrânia, tem disparado os custos para os agricultores. A isto se somam as crises logísticas globais, que dificultam e encarecen o transporte e a distribuição do grão desde sua origem até nossas xícaras. Ademais, outros cultivos mais rentáveis estão a ganhar terreno, reduzindo a superfície dedicada ao café.

3. A nova (e polémica) regulação européia

Um factor burocrático acrescenta mais pressão. A União Européia aprovou em 2023 um regulamento para frear a desflorestação que, ainda que bienintencionada, tem sido criticada pelo sector por sua falta de clareza. Ainda que sua entrada em vigor pospôs-se a 2026, a incerteza sobre seu aplicativo final já está a ser interpretada pelo mercado como uma futura pressão ao alça sobre os preços.

Granos de café / PEXELS
Grãos de café / PEXELS

4. Enquanto a oferta sofre, a demanda dispara-se

E por se fosse pouco, enquanto a produção se resiente, o mundo quer mais café que nunca. A demanda global tem atingido niveles recorde. Em Estados Unidos encontra-se em máximos de 20 anos e Europa já consome o 24% do café mundial. À festa somaram-se novos gigantes como Chinesa e outros países asiáticos, onde o consumo, dantes minoritário, cresce de forma exponencial.

O café, um novo produto de luxo?

O resumo é singelo e preocupante: uma produção mermada pela crise climática e os altos custos choca com uma demanda global desbocada. Este é o caldo de cultivo perfeito para que o preço não deixe de subir.

Um palco que ameaça com converter um hábito tão nosso, esse pequeno prazer que marca o início do dia para milhões de pessoas, num luxo ao alcance de menos bolsos.