Não o sabias: o motivo pelo que triunfa a dieta antiinflamatoria que todo mundo aplica

Depois da tendência de pensar que todo a causa intoxicación no organismo, certos criadores de conteúdo fitness têm conseguido popularizar a chamada alimentação antiinflamatoria, impulsionada pela ideia de que se não tens um abdomen plano depende disto

Encabezado (15)
Encabezado (15)

Faz não muito e em meus não tão saudáveis sessões de scroll de dedo a última hora do dia, saltou a meu retina o vídeo de um musculoso criador de conteúdo que fazia as vezes de gurú, da alimentação e do desporto. Enquanto, vivia numa ilha fazendo surf ou levantando-se —segundo ele— às 5 da manhã para tomar água morna com sementes de papaya: "não as atires, são muito potente para desparasitarte de forma natural".

Como embrujada por tal revelação decidi adentrarse em seu perfil para me levar a surpresa de como seu conteúdo se baseava em jogar em cara ao cidadão médio ocidental —mais familiarizado a comer Doritos que a enjuagarse com azeite de coco e se comer um alho em ayunas— que estava cheio de parasitas e que comia os alimentos que vendia uma sociedade pensada mais para inflamarse que para se nutrir.

"Os parasitas são seres vivos que se hospedam dentro de um organismo para poder viver e cuja presença pode resultar perjudicial para a saúde.", comentava sobre o tema. "Felizmente, a natureza proporciona-nos alimentos contra estes invasores como são o alho, as sementes de calabaza, a papaya, o chá de epazote, o azeite de coco e o jengibre", li num site qualquer quando Googleé sobre o tema, não sem certa sensação de asco e incredulidad. Estaria eu cheia de pequenos microorganismos enquanto assegurava que de ter alguns em meu corpo seriam os do kéfir?

A "inflamación" conquista as redes: a nova obsesión alimentar do verão

Depois do boom das dietas detox e a febre por comer jengibre com sementes de calabaza para as "acabar com as lombrices do intestino", agora é a "inflamación" a que enche a boca —ou os posts e vídeos em redes sociais— destes influencers de estilo de vida saudável e por que não o dizer, cuerpazo de escândalo.

Parece mentira, mas a dieta antiinflamatoria é uma realidade. Provavelmente, seja o regime mais procurado em internet deste 2025; atrás ficaram a dieta keto ou a dissociada se o que se procura é um abdomen apolíneo e compacto para este verão. Como ocorre com muitas modas, vem acompanhada de livros, recetarios, conselhos personalizados… e puro marketing.

 

Só há que se dar uma volta por Instagram ou TikTok para ver que o tema está em pleno apogeo. "Sentes-te inchada?Arrastas cansaço sem motivo? Não, se sentir pesada todo o dia não é normal. Ajudo-te a livrar-te da molesta inflamación que sofres", te prometem estes treinadores pessoais e health coach, não sem dantes inocularte a dúvida de se vives com inflamación crónica ou não. Surpreendi-me a mim mesma me olhando o ventre, pensando se eu também seria vítima deste inimigo a combater.

Inflamación: entre o mito e a realidade científica

A inflamación é, em esencia, uma resposta natural do organismo em frente a agressões externas ou internas. O problema aparece quando esse processo defensivo se cronifica, máxime quando nos autodiagnosticamos como alérgicos e susceptíveis de inflamarnos a praticamente todos os alimentos que dantes comíamos a carrillos cheios.

O professor emérito Abel Mariné explicava o enganoso desta moda da dieta inflamatoria de seguinte modo: "A chave não está em procurar alimentos milagrosos, sina em levar uma dieta equilibrada, rica em vegetais e baixa em carnes processadas". Em outras palavras, comer são de forma constante —sem necessidade de recorrer a superalimentos exóticos nem suplementos de moda— já é uma forma efetiva de nos proteger em frente a processos inflamatorios.

Críticas à demonización de alimentos comuns

O também nutricionista Julio Basulto tem criticado publicamente como muitas destas correntes alimentares culpam injustamente a produtos básicos como o trigo, os legumes ou os cereais. "Esquecem-se de que os integrais protegem contra certos tipos de cancro, e que os legumes se relacionam com uma maior longevidade...Restringir o gluten, por exemplo, só faz sentido se há uma razão médica clara", sublinha.

Enquanto, a rede enche-se de receitas rocambolescas: desde zumos em ayunas com apio, maçã e cenoura até pasteles que prometem aliviar a dor articular. Todo aderezado com promessas de bem-estar exprés que, segundo os experientes, não têm respaldo científico.

Uma dieta saudável com outro nome

O dietista-nutricionista Eduard Baladia resume-o sem rodeos: "Uma dieta antiinflamatoria não é outra coisa que uma alimentação saudável de toda a vida: frutas e verduras, legumes, cereais integrais, gorduras de qualidade como o azeite de oliva, menos produtos ultraprocesados, pouco açúcar, e hábitos de vida como dormir bem, fazer exercício e manejar o estrés".

Baladia, que encabeça a Rede de Nutrição Baseada na Evidência, faz questão de que não existem atalhos milagrosos. Não se podem reverter anos de maus hábitos com três semanas de smoothies, nem com pós mágicos de cúrcuma ou pasteles "antiinflamatorios".