Sandra Vañes (Linde Médica): "A doença crónica EPOC tem um infradiagnóstico de 75%"

Entrevistamos à neumóloga e médico de família no Dia Mundial Sem Fumo para conhecer o alcance e a gravidade das doenças respiratórias em Espanha

La neumóloga y directora médica de Linde Sandra Vañes CEDIDA
La neumóloga y directora médica de Linde Sandra Vañes CEDIDA

Mais de 78.000 pessoas morrem a cada ano em Espanha por causa de doenças do sistema respiratório, segundo dados da Sociedade Espanhola de Médicos Gerais e de Família.

Neste palco, entrevistamos à diretora médica da delegação de Linde Médica em Espanha, Sandra Vañes.

--Quantas pessoas sofrem problemas respiratórios em Espanha?

--Há mais de 10 milhões de pessoas que têm alguma doença respiratória. Muitas delas são crónicas. Uma das mais frequentes é a EPOC, uma doença pulmonar obstructiva crónica que afecta a mais de 2 milhões de pessoas, o que significa quase o 12% de pessoas adultas entre 40 e 80 anos, e a maior parte está relacionada com o tabaquismo. Por isso é tão importante fazer campanhas, tanto para detectar a doença e começar à tratar, como para evitar que o consumo acabe se desenvolvendo. E um grande problema desta doença é que está muito infradiagnosticada. Têm feito diversos estudos em Espanha, como o EPI-SCAN, e se tem visto que tem um infradiagnóstico de quase o 75%. E supõe um grande impacto por todo o que implica esta doença de discapacidade.

--Que outras doenças respiratórias destacaria?

--Outra muito frequente, e também com infradiagnóstico, é a amnea obstructiva do sonho. É uma doença que está muito relacionada com a obesidad. Por causa da epidemia de obesidad que se está a dar, a cada vez há mais pessoas afectadas com a amnea obstructiva do sonho, que provoca doenças como a hipertensión e também lha tem relacionado com doenças cardiovasculares. A gente normaliza o descansar mau, o roncar, o ter dormido toda a noite e sentir como que não tem dormido nada, e têm que ir a consulta, porque podem ter esta doença e há tratamentos para ela.

--Alguma menos frequente?

--Outras doenças que são menos frequentes, mas que têm um grande impacto, são as neuromusculares, como a esclerosis lateral amiotrófica (ELA). Em Espanha diagnosticam-se anualmente 900 casos novos e há, mais ou menos, umas 4.000 pessoas com esta doença que habitualmente se diagnostica entre os 55 e 65 anos e tem um grande impacto, porque tem uma esperança de vida de três a cinco anos e se estão a estudar tratamentos, mas ainda fica muito por fazer. Outra doença pouco frequente é a fibrosis quística, uma doença genética que afecta a um da cada 5.000 nascimentos. Em Espanha, mais ou menos, há entre 1.500 e 2.000 pessoas afectadas. Tem tido avanços recentes em tratamentos farmacológicos que têm mudado brutalmente a esperança de vida, e também têm muito impacto as terapias respiratórias domiciliárias pelo suporte que lhes damos.

--Como afecta a doença pulmonar obstructiva crónica (EPOC) à qualidade de vida de quem a padecem?

--Nas actividades diárias, se uma pessoa saía a caminhar com amigos, deixa de caminhar porque não pode seguir o passo dos demais, e pouco a pouco vai mudando sua vida. A sociedade tem padrão o toser pelas manhãs, o ter essa fadiga, e não vão a consulta.

--Falta educação ao respeito?

--É importantíssimo sensibilizar à sociedade da importância de perguntar a seus médicos de atenção primária, que são a base do sistema sanitário, por esses sintomas. Do mesmo modo, também há que sensibilizar aos médicos de atenção primária. Quando há pacientes fumadores que apresentam os sintomas da EPOC, lhes dão uma prova que se chama espirometría, que mede a capacidade pulmonar e permite diagnosticar esta doença. Isto permite iniciar tratamentos que vão melhorar sua qualidade de vida. E o mais importante de tudo: incidir na deshabituación tabáquica. Não só se trata de pôr inhaladores, de pôr oxigénio, o mais importante é que o paciente deixe de fumar.

--Há um grande volume de pacientes afectados de doenças respiratórias. A quantos atende Linde Médica?

--Desde Linde atendemos a mais de 250.000 pacientes. Alguns deles levam várias terapias, o que chamamos multiterapia. E estes pacientes são atendidos tanto em domicílio como nos centros de atenção ao paciente que chamamos Caider, que é nossa senha de identidade.

--Que serviços oferecem vossos centros Caider?

--São centros onde não só damos dispositivos aos pacientes, já sejam para tratar a amnea do sonho, etcétera, sina que também fazemos educação para a saúde. Formamos-lhes. Fazemos terapias múltiplas e o mais importante é fazer esse acompanhamento ao paciente, essa formação, e conseguir um paciente empoderado. Fomentamos essa deshabituación tabáquica, hábitos saudáveis, oferecemos conselhos nutricionais. Tudo isto também faz parte dos tratamentos respiratórios.

--Em que consistem as terapias respiratórias domiciliárias?

--As terapias respiratórias domiciliárias são tratamentos que melhoram a qualidade de vida dos pacientes enquanto podem continuar estando ao lado de sua família, em seu lar, sem necessidade de ingressar num centro hospitalar. Ao princípio, as entradas de terapia respiratória dedicavam-se unicamente a administrar estas equipas, mas com o passo dos anos tem ido evoluindo até atingir uma abordagem integral onde também se prestam serviços. Educação para a saúde, fazer um rastreamento, criar um vínculo com o paciente através de uma equipa formada por enfermeiras e fisioterapeutas especializados nestas terapias respiratórias. Todo isso com o objectivo de conseguir um paciente empoderado que se adira a seu tratamento, porque a aderencia é a que demonstra a melhoria de resultados em saúde, e isso se traduz numa melhor qualidade de vida e menos rendimentos sanitários. Tendo em conta que as doenças crónicas a cada vez são mais prevalentes, isto é de grande ajuda para o sistema sanitário.

--Que inovações tecnológicas ajudam ao rastreamento em remoto dos pacientes?

--Por um lado, temos a inteligência artificial, que agora está em auge, mas já faz 50 anos que se começou a falar de inteligência artificial. Estamos a ver todos os aplicativos que tem na previdência. O volume de dados que se manejam de pacientes é muito grande e a inteligência artificial tem um papel crucial em isso. Ao final, é uma ferramenta necessária para conseguir melhores resultados. Em nosso caso, temos uma inteligência artificial telefonema Airgenious, que nasceu no França e se transladou a outros países como Portugal. Actualmente estamos a fazer um estudo em Espanha para mostrar como a inteligência artificial permite predizer o cumprimento dos pacientes ao CPAP, que é um dispositivo que administra ar de forma contínua aos pacientes que têm uma apnea obstructiva do sonho e, através dos dados que vai recolhendo destas máquinas, faz uma predição do cumprimento que vai ter o paciente. Segundo esse cumprimento, estabelece que tipo de intervenções tem que fazer nosso pessoal sanitário para que o paciente melhore seu cumprimento. Se tem que lhe chamar por telefone, se tem que assistir ao domicílio, se tem que ir a um de nossos centros Caider para poder ver qual o motivo que está a provocar esta falta de cumprimento e melhorar os resultados.

--Ajuda a personalizar o rastreamento do paciente, não?

--Exato. Até o momento, seguiam protocolos onde todos os pacientes tinham o mesmo tipo de rastreamento. Com esta inteligência artificial, não todos os pacientes têm o mesmo rastreamento. É a inteligência artificial a que estabelece o tipo de rastreamento que precisa o paciente, personalizando segundo suas necessidades, para que tenha uma aderencia óptima.

--Interessante… Alguma outra inovação a destacar?

--A telemonitorización. Através de equipas de última geração recolhem-se os dados, levam-se a uma plataforma e, através de nosso centro de gestão clínica onde temos pessoal de enfermaria especializado neste rastreamento, podemos avaliar os indicadores que vão enviando e estabelecer o rastreamento dos pacientes. Ver se existe algum tipo de alarme e actuar proactivamente, de forma precoz, para evitar rendimentos hospitalarios. A telemedicina, nosso aplicativo Liso, que permite aos pacientes fazer um rastreamento de sua terapia, ver seu cumprimento, gerir as citas que têm com nosso pessoal sanitário, já seja em domicílio ou em algum de nossos 50 centros. Um paciente que se autogestiona em sua doença vai conseguir uma boa aderencia, e isso leva a bons resultados de saúde e de qualidade de vida.

--A inovação é muito útil, mas o vínculo com o paciente é chave, não?

--O vínculo com o paciente, que nosso pessoal sanitário possa detectar estados de solidão, estados de ansiedade ou depressão, que possa intervir nosso psicólogo, que é outra das peças que Linde Médica considera essencial para conseguir bons resultados de saúde, nos permite fazer programas asistenciales em coordenação com os médicos prescriptores e toda a parte de educação para a saúde.

--Não queria terminar esta entrevista sem perguntar por seu papel no grupo de trabalho contra o tabaquismo na Sociedade Valenciana de Neumología… Que avanços há neste campo?

--Até faz pouco, tenho sido a coordenadora do grupo de fumo. No grupo temos várias funções. Por um lado, a formação a pessoal sanitário. Cursos para neumólogos, médicos de família e enfermeiros para formar no tratamento do tabaquismo. Uma das partes mais importantes é formar ao pessoal sanitário, porque, ao final, qualquer paciente pode ir a seu médico de atenção primária. Pode consultar por um tema, e dentro da entrevista pode sair do tabaquismo, por isso ter a um pessoal formado é o primeiro passo para ajudar ao paciente. Quanto aos tratamentos farmacológicos: a vareniclina, a citisina e a terapia sustitutiva com nicotina.

--Quais são os resultados?

--Estes tratamentos têm muito bons resultados. A cada um tem uma série de indicações. Daí a importância de formar-se para a cada perfil de paciente e saber qual é o que mais probabilidade de sucesso vai ter. Ainda que a terapia sustitutiva com nicotina não está financiada actualmente. Todo isso, acompanhado de um apoio psicológico. Por que? Porque é importantíssimo saber o por que fuma, se é um paciente que está com problemas e utiliza o fumo como uma forma de se relaxar. Se não abordamos essa parte psicológica, de pouco vai servir o tratamento farmacológico.

--Uma abordagem integral…

--Deve ser uma abordagem integral e sobretudo criar um vínculo com o paciente para ver suas motivações. Deixar claro ao paciente que a recaída não é um falhanço. A recaída não é mais que um processo no deixar de fumar. E podem ter várias recaídas, e depois volta-se a tentar. O importante é não fazer sentir ao paciente culpado por isso e encontrar as motivações para o conseguir. Também aplicativos móveis que podem ajudar, mas a base é esse tratamento farmacológico, esse apoio psicológico e sobretudo as vontades do paciente de deixar de fumar.

--Desde quando se sabe que é tão nocivo fumar? Faz muitos anos, não?

--Sim, sabe-se desde faz muitos anos e sabe-se que há uma latencia de uns 20 anos em que começa a fazer efeitos. E depois a capacidade pulmonar máxima chega aos 25 anos e a partir de 25 anos chega o envejecimiento da mesma. Vai diminuindo essa capacidade pulmonar progressivamente a todas as pessoas. Mas, consumindo fumo, essa diminuição da capacidade pulmonar ainda diminui de forma mais abrupta. Então, já só por essa perda de capacidade pulmonar que vai levar a maior fadiga e a deixar de fazer coisas ou a doenças como a doença pulmonar obstructiva crónica, pois já deve de ser um motivo para não iniciar seu consumo, e, no caso de ser fumador, o abandonar. Por isso vamos a diversos institutos e colégios a dar palestras a adolescentes. Há que ir à base. A base é o adolescente que ainda não tem começado a fumar e está em risco.

--Em 2050 seguiremos matando com o fumo?

--O objectivo é que se proíba uma substância que sabemos as consequências que tem e que se estão a fazer múltiplas legislações para evitar consumos em lugares públicos que afectam a pessoas não fumadoras. Mas todas estas medidas são mais lentas do que gostaríamos.