Enrique Lastras (Humpier): "Dizer que te copia Inditex é como dizer que te copia o vizinho"

O fundador desta jovem assinatura de origem madrilena, que produz as prendas maioritariamente em Portugal, fala sobre as atiradas de suas colecções e assegura que aspiram a chegar a Estados Unidos

Quique Lastras, cofundador de Humpier   CEDIDA
Quique Lastras, cofundador de Humpier CEDIDA

Lhes apasiona a aventura, ainda que é uma ideia de aventura desafogada vinculada com o desejo de deixar impressão e de viver razoavelmente bem; comprometidos, mas ao mesmo tempo sempre dispostos a lançar à estrada e sentir o vento na cara. Têm algo de nostalgia de um mundo extinto e também algo de Patagonia ou Napapijri, mas desde uma óptica bem mais disfrutona. "Num mundo a cada vez mais acelerado, onde a moda parece perder o rumo entre temporadas e algoritmos, Humpier surge como um manifesto de autenticidad", proclamam.

Foram uma das primeiras empresas têxteis em obter o certificado Carbon Neutro, "reflexo de nosso compromisso e responsabilidade como marca". Têm lançado colaborações com oficinas de motos ou com fabricantes de tabelas de surf, com marcas especializadas em roupa técnica de bicicleta ou inclusive com actores da indústria da restauração. Muito cedo fará um ano da abertura de sua primeira loja no bairro madrileno de Justiça. "E se Deus quer, será a primeira de muitas", diz Enrique Lastras, seu fundador. Falamos com ele.

--Que entende por autenticidad?

--Por autenticidad, o que entendemos no âmbito têxtil e dentro de Humpier é que a empresa sempre tem tido muito claros seus valores e daí era o que nos motivava a ser diferentes. Desde o nascimento tivemos dois propósitos, ambos relacionados com a sustentabilidade: tentar que todo o que fizéssemos dentro da empresa se elaborasse com processos sustentáveis; e trabalhar baixo um modelo de negócio slow fashion, de maneira que assumíssemos colecções limitadas e um conceito de moda atemporal para não ter mermas de produção. Tentamos que todo o que produzimos se venda, para combater, desde nossa posição, o facto de que o sector têxtil seja o segundo que mais contamina no mundo.

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T-shirt da marca / HUMPIER

--Sempre soube que queria dedicar ao mundo da moda?

--Era algo bastante vocacional e, digamos, pasional. Sempre gostei do sector têxtil e o da moda, ainda que sinceramente nunca tenho sabido como traduzir-se-ia isso, quando ou por que: não sabia se ia ser uma marca de moda masculina, de acessórios… Mas, desde que sou pequeno, tenho sentido interesse pelos diferentes tecidos, os diferentes padrões, as possibilidades de produção…

--Quanto ao slow fashion e o ênfase na traçabilidade, como se cuadran as atiradas para ajustar aos parâmetros de sustentabilidade estabelecidos?

--Evidentemente, ao começar e ao fazer as primeiras produções isto era mediamente impossível porque não tínhamos nenhum tipo de data métrica na que nos basear. Quando começamos fazíamos muitas encuestas e falávamos com muita gente para ver que opinavam dos modelos. Baseando-nos em isso, íamos sacando unidades. Inicialmente pecávamos de sacar muito poucas, e a dia de hoje baseamos-nos em muitíssimas métricas, ratios e dados de inventário. A dia de hoje temos uns 50 pontos de venda aos que se soma o canal site, e isso também o consideramos, por suposto.

--Quantas t-shirts sacam em cada atirada?

--Depende do modelo, mas mais ou menos estamos a sacar umas 500 unidades por modelo de uma t-shirt, digamos, básica. De uma que pode tender a ser best-seller, estamos a sacar entre 500 e 1.000. E de uma t-shirt sobre a que quiçá temos mais dúvidas, por embaixo das 500 unidades. Geralmente, aquelas com as que temos mais dúvidas quanto a vendas são essas nas que apostamos por mais cor. É mais uma questão de cor que de desenho.

Una imagen de Humpier / CEDIDA
Uma imagem de Humpier / CEDIDA

--Qual é o país no que mais fabrica a empresa?

--Portugal.

--E quantos trabalhadores há ao todo em Humpier?

--Somos seis pessoas. Somos uma grande equipa.

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T-shirt da assinatura / HUMPIER

--Recentemente conversei com a gerente de Althaia, que é uma marca de cerveja artesanal de Alicante. Ela argumentava que "nada que seja realmente sustentável será macro", isto é, que o volume sempre terá que estar conteúdo e sempre terá que assumir uma proposta local e de pequena escala. Que pensa ao respeito?

--Estou 100% de acordo. O mundo não está preparado para a sustentabilidade, e, ao não o estar, é impossível que o macro seja sustentável. Tendemos a confundir o significado real da palavra sustentabilidade. Em Humpier, por exemplo, temos um dilema: tentamos demonstrar que somos sustentáveis e que podemos fazer moda sustentável e, no entanto, nossa comunicação está muito baseada no mundo do motor, os carros, a aventura em general… A sustentabilidade não só tem que ver com fazer prendas reciclables ou elaboradas com materiais reciclados ou orgânicos. Uma empresa é sustentável quando essas condições se assumem em todos e a cada um dos eslabões da corrente: o produto está na cabeça do departamento de produção, e desde aí até que chega a casa do cliente, passando pelo envio, os escritórios onde se trabalha ou as oficinas onde se elabora. Ademais, realmente e sendo honestos, não há nenhum tipo de ajuda para ter uma produção mais sustentável.

@humpier Baleares séries🙂‍↕️ #fyp #spanishsummer #ibizaoutfits #baleares #humpier #spanishbrand ♬ Afro House Type Beat x Adam Pory 'Move' x Hugle 'I Adore You' - Type beats to the world

--Por que o crê?

--Foi uma das complexidades maiores que nós temos encontrado no sector. Humpier nasce aproximadamente faz 5 anos, a empresa nasceu faz 3, mas a marca fazer dantes; e desde o dia um temos sido sustentáveis. E, ainda que hoje nota-se menos, anteriormente tinha aproximadamente um 50% de diferença em preço-custo al produzir baixo critérios de sustentabilidade.

--Também está relacionado com educar ao consumidor ou ao menos em dedicar esforços para que entenda que implica realmente este tipo de produção, não?

--Desde depois. De facto, é algo que nós trabalhamos e no que devemos melhorar cada dia. Educar ao cliente em algo é tremendamente complicado, e mais no sector têxtil e da moda, onde as compras são geralmente impulsivas, muito emocionais.

--Diga-me três marcas que lhe inspirem. Não faz falta que sejam do mundo da moda.

--Tudo depende de como compreendamos a inspiração, mas diria, pelo que são e o que têm conseguido, Porsche em termos automobilísticos; IWC, em termos de relojería e, por levar ao âmbito têxtil, gosto muito o que tem conseguido em de pouco tempo uma empresa como Jacquemus.

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--Onde vê Humpier dentro de cinco anos?

--Muito posicionada no âmbito nacional, como uma marca referente em moda sustentável, atemporal e autêntica; e, se todo vai bem, abrindo e nos posicionando em mercados como Estados Unidos. Pela filosofia da marca, consideramos que temos um público objectivo muito amplo ali.

--Que sente quando vê pela rua a uma pessoa com uma prenda de sua marca?

--É como a guinda de pastel a todo um trabalho e a um esforço. A maior exposição de felicidade, porque supõe ver que o que fazes cada dia está presente à rua, em restaurantes, em eventos…

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--De quando em quando, uma marca emergente acusa a Inditex de lhe ter copiado um desenho. Ocorreu-lhes?

--Nunca o soube, mas minha opinião pessoal é que dizer que te copia Inditex é tão singelo como dizer que te copia o vizinho. Afinal de contas, na moda está todo inventando, a cada um vai pondo sua contribuição, sua inovação, sua criatividade na esfera do desenho, no percurso ou na corrente de produção. Na moda, todos se copiam entre todos, não te vou mentir. Mas quiçá, mais que de copiar, teria que falar de que algumas coisas servem de inspiração a outros. Evidentemente, se grandes como Inditex vêem que algo está a funcionar bem numa empresa mais pequena e entendem que o podem recrear com um custo de produção 10.000 vezes inferior e com umas facilidades tremendamente superiores, posso chegar ao entender.

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T-shirt manga curta Devir-lhe / HUMPIER

--Humpier é uma marca jovem, mas assentada. Faz parte de uma constelação de marcas espanholas emergentes, e poderia pensar-se que nos últimos anos tem tido verdadeiro boom: Nude Project, Eme Studios, Yuxus, Becay… Este ecossistema tão povoado resistirá, ou sofrerá uma reestruturação?

--Acho que há que honrar ao mapa nacional em termos têxteis, e há que felicitar a todos e a cada um deles por conseguir chegar onde têm chegado. Aqueles que tens mencionado e outros muitos. É tremendamente honorable que tenhamos este mapa nacional tão prestigioso. Faz-se-me muito difícil ver um país europeu que compita conosco neste âmbito criativo ou empreendedor no sector da moda. Falamos de marcas que já são referentes e que já têm números em Europa muito positivos. É um boom, sim, mas é um boom que está a ocorrer por algo: há gente muito criativa e muito trabalhadora por trás disto, e é por isso pelo que tem ocorrido. Temos a alguém que é um referente, que se chama Amancio Ortega, e ele tem marcado um dantes e um depois. O que se está a fazer agora é significativo e apasionante. A partir daí, se a pergunta é se terá uma limpeza rápida que implique o desaparecimento de alguma marca… Pois sim, suponho que sim. Acho que no mapa nacional há demasiada oferta e não há tanta demanda. Mas há milhares de casos de empresas que depois se deram conta das circunstâncias, têm decidido apostar pelo crescimento e a expansão internacional, e lhes deu certo.