A patronal da moda saca músculo e planta cara a Shein: "Queremos um consumidor consciente"
O sector, que emprega a mais de 240.000 pessoas, exibe seus bons números macro e lume a evitar o consumo impulsivo de roupa

A moda em Espanha é cultura, personalidade, economia e até "ciência" e "saúde". Assim o reivindicou a Associação Retail Têxtil Espanha (ARTE), a patronal do sector, em seu relatório anual apresentado nesta terça-feira no campus da Universidade de Navarra de Madri. Fazer orgulhosa e num encontro no que têm estado presentes deputados, senadores, empresários, membros de sindicatos e de organizações de consumidores.
Entre a cascata de dados económicos recolhidos nA contribuição do Retail Têxtil à economia espanhola e sua liderança em digitalização destaca o facto de que o sector contribui já o 0,8% do PIB espanhol (que se eleva ao 1,7% se se consideram os efeitos diretos e indiretos) e que emprega a mais de 240.000 pessoas, cifra que sobe até 370.000 ao somar os postos de trabalho que gera de forma direta, indireta e induzida. Ademais, fá-lo com uma destacadísima presença feminina.
Um sector líder
ARTE agrupa a marcas como Inditex, Bimba e Lola, Cabo, Mayoral, Kiabi, Parfois ou Tendam; e sua presidenta, Ana López-Caseiro, fala com a paixão e a autoridade que lhe confere a responsabilidade de liderar a grande aliança de companhias de tal envergadura. Assim, durante a apresentação do relatório, esta experiente tem recalcado a relevância estratégica do sector da moda e seu efeito tractor sobre o resto da economia espanhola.

Trata-se, a seu julgamento, de uma indústria "comprometida" com um modelo de desenvolvimento que mantenha "a saúde de nosso planeta e a biodiversidade". Ademais, o retail têxtil anota-se o tanto de ter impulsionado a adaptação de seus trabalhadores ao novo e exigente contexto digital.
Da beleza à saúde
Por isso, a moda não é sozinho para López-Caseiro "uma aspiração à beleza" ou "um diálogo único, pessoal e íntimo", sina um instrumento capaz de cuidar a saúde física, mental e social das pessoas. "Cuida de nossa saúde mental porque ajuda a ver-nos bem. O que nos pomos influi em nosso estado de ânimo" e nos permite "atingir maior segurança pessoal", tem argumentado esta experiente durante seu discurso.
Também tem intervindo no acto Enrique López García, porta-voz da Organização de Consumidores e Utentes (OCU), quem tem reflexionado sobre a digitalização (no ano 2024, 14,2 milhões de consumidores compraram moda no canal on-line em Espanha) e tem recordado que o preço segue sendo fundamental para os consumidores.

Problemas em compra-a on-line
Ademais, o porta-voz, sem chegar a rebajar a euforia, tem desvelado que o 13% dos compradores de moda experimenta problemas em seu compra on-line (que não necessariamente se traduzem em reclamações, sina em mostras de insatisfação por atrasos ou danos de produto, entre outras). Por isso, tem recomendado prestar mais atenção a este assunto e andar com os olhos bem abertos ante as novas pautas de consumo dos mais jovens, que, impulsionados às vezes pelos "padrões escuros", tendem a realizar compras "impulsivas".
"Não se podem comprar uma casa, mas fazem um consumo muito intensivo de roupa", tem resumido o representante da OCU. Na mesma linha, Anna Sáez de Tejada, professora de ISEM e experiente em sustentabilidade e economia circular em moda, tem reconhecido que "a moda ultrarrápida segue avançando".
Shein e Temu
De facto, Shein e Temu são palavras amenazantes que não se nomearam em nenhum momento, mas que têm planeado durante a apresentação do relatório. Com tudo, ARTE tem conseguido projectar uma imagem de robustez e segurança, se mostrando como uma entidade que parece achar que, se todos competem em igualdade de condições, a influência destas plataformas reduzir-se-á de forma significativa. Mas as autoridades devem tomar cartas no assunto.

Baixo esta óptica, e depois da apresentação do relatório, a presidenta de ARTE tem afirmado a perguntas de Consumidor Global que a indústria aposta por "um modelo de consumo responsável, sustentável, que não induza à compra por impulso".
Consumidores co-criadores
"Acho que a moda está ao serviço do consumidor. De facto, no relatório, e o que dizemos todo o momento, é que todas as ferramentas tecnológicas que se estão a desenvolver, como a IA, focar-se-ão precisamente em conhecer melhor ao consumidor, em saber que é o que lhe preocupa e daí é o que quer. Eu gosto de dizer que os consumidores são os co-criadores do sector, porque é nessa conversa na que vai se definindo o mesmo", tem agregado.
López-Caseiro, otimista mas contundente, também opina que a arquitectura legislativa atual (que regula, por exemplo, o uso de materiais tóxicos e estabelece uma série de controles que devem passar todas as prendas) garante "a saúde e a segurança do consumidor".

Protecção ante más práticas
Por isso, sem mencionar às plataformas asiáticas, detalha que o que se pede "é que qualquer operador que queira vender em Europa respeite estas políticas de consumo para que possamos proteger ao comprador de más práticas, de falsificações ou de produtos sem controles, independentemente de sua origem ou de seu modelo de negócio".
E é muito, mas não basta com isso. López-Caseiro alude à importância de contar com informação veraz que não induza a engano, por exemplo, quando se fale de sustentabilidade e meio ambiente. "Queremos um consumidor consciente, formado e informado", reivindica, conquanto será sempre um consumidor "livre e soberano de tomar suas decisões".
Segunda mão e roupa de aluguer
Prosseguindo com a questão da economia circular, o relatório não faz finca-pé na segunda mão, mas a perguntas deste meio Ana López-Caseiro reconhece que sim compra roupa usada à que se lhe outorga uma segunda vida, e pronostica que a roupa de aluguer é outra tendência que "de aqui a um tempo vão incorporar a maioria das grandes lojas de moda".
Assim, um sector que em 2023 já moveu mais de 5.600 milhões de euros em vendas on-line seguirá se definindo e para seguir pele com pele junto ao consumidor.