Picualia, a cooperativa andaluza que produz um dos melhores azeites de Espanha

Juan Antonio Grelha reivindica que o AOVE é saudável, sustentável e que devem se pagar preços dignos aos agricultores

Botellas de Picualia (1)
Botellas de Picualia (1)

Numa data tão temporã como 1890, um jornal andaluz assegurava que os olivareros da região conheciam muito bem "o modo de extrair azeites superiores, e assim que o permitem as circunstâncias apresentam parte deles nos mercados durante os dois ou três primeiros meses de elaborar". Passado este tempo, lamentava o redactor decimonónico, os pequenos e médios olivicultores andaluces careciam da infra-estrutura necessária para colectar e alojar o fruto nas condições adequadas.

"Se a posição dos médios e pequenos olivicultores fosse mais desafogada, já poderia se adiantar algo, estabelecendo a cada qual artefactos económicos com os que, feitas em tempo oportuno e boas condições todas as lidas, apresentariam à venda azeites tão bons como os de outros pontos de Espanha e ainda de Itália", expressava. 130 anos depois, muitos azeites andaluces podem proclamar com orgulho que figuram sem dúvida na listagem dos melhores do mundo.

Picualia, melhor frutado verde doce

Neste sentido, o Ministério de Agricultura, Pesca e Alimentação anunciou recentemente os ganhadores dos Prêmios Alimentos de Espanha aos Melhores Azeites de Oliva Virgen Extra para a campanha 2024-2025. E, na categoria de frutado Verde Doce, a coroa tem sido pára Picualia, uma empresa de Bailén (Jaén) para a que o sucesso não é algo novo. Por exemplo, faz nove anos obteve o galardão à Melhor Almazara de Espanha entregado pela Associação Espanhola de Municípios da Oliveira (AEMO).

Productos de la marca / PICUALIA
Produtos da marca / PICUALIA
 

"Com mais de 50 prêmios nacionais e internacionais, Picualia ocupa um posto destacado no ranking dos melhores zumos de azeitona cosechados ano após ano", proclama a companhia em sua página site.

Soma de duas cooperativas

"Picualia é uma cooperativa que nasceu em 2009 fruto da fusão de Agrícola de Bailén e Virgen de Zocueca, duas cooperativas formadas décadas atrás. A fusão procurava gestar um projecto vinculado à qualidade que tivesse em conta o oleoturismo e as tendências do momento, que apontavam para o valor gastronómico do produto", conta a este medeio Juan Antonio Grelha, assessor científico-técnico de Picualia.

Recolección de la aceituna / PICUALIA
Coleta da azeitona / PICUALIA

Para a empresa, assegura, este reconhecimento supõe um impulso e certifica o esforço "de tantísimos anos". E não representa a consecução de um objectivo final, senão um galardão que indica que o caminho que se está a seguir é o correto. "Reforça aposta-a pela qualidade: somos uma cooperativa de 1.000 sócios que agora recebem um reconhecimento que lhes impulsiona a seguir trabalhando", valoriza.

Da faixa premium à familiar

Picualia é sinônimo de excelência, mas não comercializa sozinho produtos premium. Os consumidores mais exigentes podem desfrutar, por exemplo, de um estuche Picualia Premium Reserva de 500 ml (18,50 euros), enquanto a faixa familiar (idônea para a cozinha regular e para elaborar frituras) inclui, entre outros produtos, um pack de oito garrafas de 2 litros de Picualia Familiar Arbequina que custa 128 euros, de modo que o litro sai a 8 euros.

Garrafa de Arbequina / PICUALIA
Garrafa de azeite de oliva virgen extra / PICUALIA

A assinatura jiennense presume de elaborar um AOVE "equilibrado, complexo e muito harmônico". Isto significa, em palavras de Grelha, que as proporções de amargor (que vem dos polifenoles, os "antioxidantes naturais"), de picante (contribuído pelo oleocantal, o composto que possui grande poder antiinflamatorio, "como uma sorte de ibuprofeno natural") e de frutado ("esse cheiro tão agradável, intenso, a verde, a erva, a tomate") aparecem numa medida "áurea, quase perfeita".

"Fazer um bom azeite é muito difícil"

"Quando falamos de uma produção temporã de AOVE como a nossa, cosechada em outubro, falamos de que um azeite o pode fazer qualquer. Mas fazer um bom azeite é muito difícil", reivindica este experiente.

Este reconhecimento chega num momento no que, desde algumas entidades, como a OCU, se alerta de que o descenso de consumo de azeite de oliva nos últimos anos por culpa do preço se relaciona com a erosão da dieta mediterránea, da que, diz Grelha, o AOVE é o "elemento central".

Una persona cocina con aceite / PEXELS
Uma pessoa cozinha com azeite / PEXELS

Triplo dimensão

Por tanto, o especialista de Picualia acha que as reivindicações sobre o ouro líquido devem ter em conta uma triplo dimensão. A primeira é a do carácter social do azeite de oliva: "O 70% do azeite que se produz em Espanha está elaborado por cooperativas", aponta.

A segunda dimensão é a da saúde. É um alimento cujo consumo está relacionado com a saúde cardiovascular, óssea e digestiva, além de com a prevenção de algumas doenças. No entanto, "a dia de hoje representa só o 1,46% do total de gorduras que se consomem no mundo", uma cifra que, a julgamento de Grelha, valeria a pena incrementar. O terceiro pilar seria a sustentabilidade: "Jaén é o olivar do mundo. É um bosque artificial, plantado pelo homem, mas que poderíamos equiparar ao Amazonas. Isto permite reter população, preservar a biodiversidade, não consumir demasiada água… É um cultivo sustentável", remarca.

Importância do oleoturismo

Neste processo de reivindicação, Grelha enfatiza o papel do oleoturismo. "Todo o que fazemos se dirige a um consumidor, e o consumidor de hoje em dia não é um actor que está sentado esperando a receber informação. Há que lhe envolver. Picualia orientou-se ao oleoturismo para mostrar aos visitantes como o fazemos: como transformamos as azeitonas em azeite, em que se diferencia um azeite temporão de qualidade de um já mais maduro, as variedades que há…", relata.

Un olivar / EUROPA PRESS
Um olivar / EUROPA PRESS

A experiência termina com uma prova em Aureum, o primeiro restaurante espanhol localizado dentro de uma cooperativa oleícola. "Estamos, ademais, reconhecidos pela Guia Michelin como Bib Gourmand, isto é, que se oferece uma experiência de alto nível a um preço asequible", asevera.

Poder da prescrição

"Não se trata só de que teu consumidor compre teu produto, sina que fale dele. E pode-se falar dele depois do adquirir em grandes superfícies, como O Corte Inglês, com os que trabalhamos estreitamente com uma faixa específica, ou em outras correntes e restaurantes", lista Grelha.

Face ao futuro, não nega que o sector do azeite enfrentará uma série de ameaças, como a mudança climática ou os impostos. "Temos que ter um plano e um projecto. Se uma pessoa que vai num velero não sabe ajustar as velas, não saberá para onde vai. Nosso barco é um plano estratégico". Destaca, ademais, sua colaboração com entidades como a Universidade de Jaén ou o Instituto de Investigação e Formação Agrária e Pesqueira (IFAPA), e assegura que já estão mais que preparados para enfrentar alguns dos reptos que propõe a UE em matéria de sustentabilidade.

Un aceite de la marca / AUREUM
Um azeite da marca / AUREUM

Custos do azeite

Um dos aspectos que mais dores de cabeça tem dado aos consumidores nos últimos tempos tem sido a evolução do preço do azeite. As últimas baixadas dão um respiro à economia de muitos lares, mas o experiente de Picualia recomenda fixar na foto completa. Assim, afirma que a produção deve vender a "uns preços dignos para nossos agricultores".

"A produção de azeite de oliva oscila em torno de uns 3 milhões de toneladas no mundo, e o consumo ronda os 3 milhões de toneladas em todo mundo. Isto é que, no sector do azeite, se se produz uma merma da produção e a demanda não baixa, há um desajuste que se compensa subindo os preços", resume.

Margens dignas

Agora mesmo, os produtores estão a vender o azeite a uns 3,50 euros o quilo. "Eu penso que numa forquilha dentre 4 e 5 euros o virgen extra, os produtores pagam seus custos de produção, o consumidor paga um preço digno (uma garrafa por 20 ou 25 euros) e o revendedor tem uma margem que também é digno. Os três actores asseguram-se que, durante toda a corrente, o preço é justo".

Para Grelha, as diferentes qualidades devem ir de 3 aos 5 euros o litro. "Se baixamos dessa linha, o consumidor verá o azeite muito barato e também não será bom, porque não o vai entender. Na corrente de valor há que procurar o equilíbrio", sublinha.