Cristóbal Cano, secretário geral da UPA: "A alimentação dos europeus está em risco"
A organização agrícola sublinha que “a PAC não pode ser uma fonte de desigualdade, como tem sido até agora”.

Os trabalhadores do campo voltaram a sair à rua para manifestar-se: várias centenas de agricultores e pecuaristas de toda a Espanha concentraram-se na terça-feira 20 de maio em Madrid, convocados pela União de Pequenos Agricultores e Pecuaristas (UPA), sob o lema "Por uma PAC forte e com orçamento".
O protesto, coordenado, fazia parte de uma série de concentrações que tiveram lugar em toda Europa convocadas pelo COPA-Cogeca, o organismo que aglutina as organizações agrárias e cooperativas do continente.
Orçamento da UE
A UPA realizou o seu protesto num ambiente festivo e reivindicativo. Assim, entoaram-se cânticos em defesa da PAC, do meio rural e dos agricultores e criadores de gado como garantes da soberania alimentar. Neste sentido, a concentração coincidiu com a celebração em Bruxelas da conferência sobre o orçamento da União Europeia para os próximos cinco anos.

O secretário geral de UPA, Cristóbal Cano, reclamou no seu discurso diante de centena de assistentes que a próxima PAC não se desintegre em sobres nacionais, o que, na sua opinião, "difuminaria a estratégia comum europeia" e traria "mais desigualdade".
"A alimentação dos europeus está em risco"
Ademais, Cano exigiu um orçamento suficiente para os desafios que terão que enfrentar os agricultores e pecuaristas nos próximos anos, como uma situação geopolítica complicada, dificuldades comerciais ou a crise climática. "A alimentação dos europeus está em risco. Não teremos assegurada a soberania alimentar se não se aposta firmemente pelos agricultores e pecuaristas", declarou.
Nesse sentido, várias organizações vêm denunciando há algum tempo que a independência alimentar está gravemente comprometida em Espanha. Por exemplo, a SOS Rural previu em 2024 que, com a política atual «que abandona trabalhadores, criadores de gado, agricultores, comércios e outras atividades do mundo rural», em 10 anos a alimentação dos espanhóis dependerá de países terceiros, como Marrocos.

Saúde, emprego e riqueza
Na mesma linha, a Coordenadora de Organizações de Agricultores e Ganadeiros -COAG- de Andaluzia arguyó em abril que a União Européia devia responder com determinação à imposição de impostos anunciada por Donald Trump, "defendendo e pondo em valor seu tecido produtivo e o modelo profissional de agricultura, que produz saúde, cria emprego e riqueza nas zonas rurais, é sustentável, cuida o meio ambiente e fixa a população ao território".
"Este modelo, baseado na produção de alimentos saudáveis, garante a segurança e soberania alimentar de Europa num contexto de crescentes tensões comerciais globais", agregaram.
Incremento do orçamento
UPA, por sua vez, destaca agora que a PAC tem ido perdendo orçamento na cada uma das sucessivas reformas que se produziram nas últimas décadas. "Já é hora de que se incremente o orçamento da PAC, o ajustando ademais à inflação", tem reclamado o líder nacional da entidade, Cristóbal Cano.

UPA aboga por uma partilha mais justa e mais social dos apoios: "A PAC não pode ser uma fonte de desigualdade, como o veio sendo até agora", tem remarcado Cano, quem aposta por medidas como os tetos máximos de ajudas, o pagamento redistributivo, as ajudas associadas a mais sectores em crises ou uns ecorregímenes que têm que ser eficazes, flexíveis "e que nos permitam trabalhar ao mesmo tempo em que protegemos o meio ambiente".
Sem restar importância
No próximo mês de julho conhecer-se-ão mais detalhes do próximo orçamento da UE para o período 2028-2034. Os agricultores reclamam que as novas prioridades da União em matéria de defesa ou repto migratorio não restem "nem um ápice de importância nem um euro de orçamento" à PAC.
"Além do orçamento, pedimos uma partilha diferente, mais justo e mais social, e focado às explorações familiares, que somos as que temos mais dificuldades", tem assegurado o secretário geral de UPA.