Antonio Lavado, presidente da Federação Espanhola de Diabetes: "Comam comida e não produtos"

O diretor da associação recalca a necessidade de melhorar o etiquetado dos produtos com o objectivo de que seja mais claro para as pessoas que padecem esta patologia

Sin título 1 (1)
Sin título 1 (1)

Este fim de semana (3-4 de outubro) celebra-se o IX Congresso da Federação Espanhola de Diabetes (FEDE) em Barcelona. Trata-se de cita-a anual mais importante para as associações de pessoas com diabetes em Espanha.

A entidade, que trabalha por "melhorar a qualidade de vida dos pacientes", trata de concienciar e sensibilizar à sociedade para conseguir um maior conhecimento e entendimento da realidade da diabetes, uma patologia que se caracteriza pela presença de uma quantidade elevada de glucosa no sangue das pessoas que a padecem em consequência da falta de insulina ou o mau funcionamento de dita hormona. Falamos com Antonio Lavado Castilla, seu presidente.

--Que esperam do Congresso?

--Em primeiro lugar, juntar a toda nossa gente. FEDE tem 18 federações que, a sua vez, têm 123 associações. Este congresso é para reunir a todos e lhe dar visibilidade ao que é a diabetes, por uma parte, e o mundo associativo por outra. Pretendemos expor a problemática que temos as pessoas com diabetes e as que levamos associações. Estamos a olhar os novos regulamentos europeus que se avecinan, e temos feito uma série de petições à Ministra de Previdência, de modo que isso é algo que também queremos abordar aqui para que a gente conheça que se está cociendo a nível político em Espanha e em Europa.

Una persona recibe un diagnóstico médico / FREEPIK - pressfoto
Uma pessoa recebe um diagnóstico médico / FREEPIK - pressfoto

--Considera que a oferta de produtos aptos para diabéticos nos supermercados espanhóis é de boa qualidade e suficientemente ampla?

--Sim que o é, o que ocorre é que aqui temos inequidades de pessoas que não chegam aos preços desses produtos bons. A cada dia há mais gente que consome ultraprocesados, que não são os melhores alimentos para a saúde, já não para a diabetes, que desde depois, sina para qualquer pessoa. A cesta de compra-a está-se encareciendo a cada vez mais e os ultraprocesados são os que se abaratan, de maneira que a cada dia a gente come pior.

--Tendo isto em conta, quanto diriam vocês que pode encarecerse a cesta da compra para uma pessoa diabética com respeito a uma que não o é?

--Não deveria de encarecerse nada, não estamos a falar de celiaquía. A diabetes não tem nada que ver, e nós não aconselhamos às pessoas associadas que comprem produtos especiais para a diabetes. Simplesmente dizemos que consumam produtos normais, o único que há que valorizar os açúcares que leva a cada coisa. O que tenho que saber é quantos hidratos de carbono me estou a comer e daí tipo de hidratos de carbono são. De maneira que não se encarece per se.

--Desde depois, não falamos de produtos específicos para diabéticos, mas anteriormente lhe perguntava pela oferta nos supermercados, e entendo que se pode argüir que os diabéticos não podem aceder a certos produtos económicos e pouco saudáveis que sim são habituais nas dietas de um consumidor regular…

--Bom, o que lho possa permitir permitir-lho-á. Não sou eu uma pessoa que vá aos supermercados e faça a compra semanal ou diária. Mas, desde depois, se queres comer bem, sim que se encarece. Quando faço oficinas ou dou alguma palestra, sempre convido à gente a comer comida e não produtos.

Una persona hace una compra / FREEPIK
Uma pessoa faz uma compra / FREEPIK

--Consideram que o etiquetado dos produtos é suficientemente claro? Acham que poderia ter alguma melhora no mesmo?

--Sim, por suposto. Está bem explicado, mas nós precisamos saber os hidratos de carbono e de que tipo são: se são simples ou compostos. Isso, actualmente, não aparece na etiqueta. Aparece 'dos quais açúcares', mas nós precisamos saber seu tipo. Dependendo de se é um ou outro, temos que nos pôr uma quantidade de insulina ou outra, de modo que aí temos um problema. Outro dos problemas é que os açúcares aparecem especificados por unidade ou pela cada 100 gramas de importância, quando nós comemos por porções, que é diferente. Quando vamos aos diferentes lugares, as pessoas diabéticas levamos uma pequena báscula para comer, porque precisamos saber o peso e é algo que devemos averiguar. Depois temos, por suposto, o problema das gorduras.

--Em que consiste?

--Indica-se 'gorduras saturadas', e nós sempre nos perguntamos se são das saturadas boas ou das saturadas más. O grande problema dos ultraprocesados não são as gorduras saturadas, sina as gorduras saturadas hidrogenadas. Essas são as más, mas isso ninguém o diz, na etiqueta não se comenta.

--Estas melhoras no etiquetado, de produzir-se, teriam que vir da mão da União Européia ou poderia se fazer a nível nacional?

--Se cremos na União Européia e queremos estar nela, eu acho que as leis têm que ser pára todos. Bastantees inequidades temos já neste país com as 17 comunidades autónomas, que a cada uma tem traspassadas as concorrências sanitárias, como pára que agora implementemos nós uma medida, Portugal outra… Acho que deveria vir da UE.

Una persona revisa la etiqueta de un alimento / FREEPIK
Uma pessoa revisa a etiqueta de um alimento / FREEPIK

--A prevalencia da diabetes em Espanha ronda o 14,5%. Afecta a um da cada sete adultos e é a segunda taxa mais alta de Europa. Você acha que, em general, em Espanha somos conscientes destes dados e dos envolvimentos que têm?

--Em Espanha somos conscientes dos agentes que estamos ao redor da diabetes, os que a tratamos. A sociedade em general não sabe o que é a diabetes nem conhece a problemática que implica.

--Ao respeito, quase um terço das pessoas que vive com diabetes em Espanha não está diagnosticada. Que problemas pode implicar isto?

--A diabetes tipo 2 é asintomática primeiramente. Os sintomas manifestam-se quando a diabetes está já muito metida, digamos, no corpo. Posso falar de meu caso a modo de exemplo: eu estive 27 anos com diabetes até que tive uma parada cardiorrespiratoria provocada por minha diabetes. Anteriormente, não tinha tido nenhum sinal. Num momento determinado, estando num hospital, fazendo-me uma prova para o coração, descobri este facto. E isso pode ocorrer com outras derivadas: problemas cardiovasculares, problemas renales, de visão… Há muitos órgãos que a diabetes pode atacar sem que o afectado se esteja a dar conta.

Una médica realiza unos análisis / FREEPIK - DC Studio
Uma médica realiza umas análises / FREEPIK - DC Studio

No entanto, a diabetes tipo 1 sim que se nota rapidamente. Os que a padecem se preocupam bem mais, porque sim produz sintomas. Nós dizemos que com a diabetes tipo 2 temos uma vantagem, que é que não dói, mas também uma desvantagem, que é que não nos avisa.

--Face ao futuro, em que posição acha que estará a Federação dentro de duas ou três anos? E a situação da diabetes em Espanha?

--A diabetes vai incrementado pouco a pouco, e por muitas coisas que façamos, sempre nos ganha a partida. De modo que a diabetes vai estar a cada vez mais alta. Quanto à Federação, achamos que será o paraguas que representará a todas as pessoas que padecem diabetes em Espanha, que são aproximadamente 6 milhões. Aí é onde a queremos levar.