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O perigo dos alimentos ultraprocessados à base de plantas: “Não presumir que são saudáveis”.

A procura destes produtos tem vindo a aumentar, mas ainda se discute se têm verdadeiros benefícios para a saúde: estudos recentes alertaram para os riscos que representam os ingredientes adicionados, como os aromatizantes, os corantes e os emulsionantes.

Rocío Antón

Alimentos ultra-processados de origem vegetal / PEXELS

Durante anos, a ideia de que um menu composto unicamente por alimentos de origem vegetal é sinónimo de saúde óptima estendeu-se sem nuances. No entanto, um recente estudo publicado no The Lancet Regional Health – Europe dá a conhecer uma faceta menos conhecida: os ultraprocessados vegetais, longe de melhorar o nosso bem-estar, poderiam aumentar o risco de doenças cardíacas e inclusive de morte prematura.

Ultraprocessados de origem vegetal: amigos ou inimigos?

Quando falamos de "produtos vegetais" nos supermercados, muitas vezes pensamos em hortaliças, legumes ou frutas frescas. Mas a indústria alimentar inclui nessa categoria um leque de produtos com altos níveis de processamento: margarinas, bolachas, pastelaria, refrigerantes, batatas fritas, iogurtes açucarados, pães embalados, sucedâneos de carne, leite vegetal e cereais açucarados, entre outros. Para conseguir a sua cor, textura e sabor "irresistíveis", recorre-se a aditivos como aromatizantes, os corantes e os emulsionantes..

A equipa liderada por Renata Levy, da Universidade de São Paulo (Nupens/USP), examinou mais de 118 000 britânicos do Biobank e cruzou os seus hábitos alimentares com dados de hospitalização e mortalidade. O resultado revelou que uma maior ingestão destes ultraprocessados vegetais se associa com:

  • 5% mais risco de desenvolver doenças cardiovasculares.

  • 13% mais probabilidade de morte prematura.

Pelo contrário, por cada 10% de ultraprocessados substituído por alimentos vegetais frescos, congelados ou minimamente processados, observou-se:

  • 7% de redução no risco de problemas cardíacos.

  • 13% de diminuição na mortalidade por causas cardiovasculares.

Nem todo o "vegetal" é sinónimo de saúde

Duane Mellor, dietista da Aston Medical School, sublinha um ponto essencial: "O açúcar, no final, também é vegetal". Com esta frase lembra que muitos produtos livres de componentes animais (bolachas, snacks, refrigerantes) não têm nutrientes de qualidade. O seu alto teor em açúcares livres, gorduras trans e sais converte estes ultraprocessados em "calorías vazias" que não só não nutrem, como podem danificar a nossa saúde.

Processamento e os seus efeitos

Os ultraprocessados passam por processos industriais intensivos: fraccionamiento de nutrientes, misturas complexas, adição de químicos para intensificar o sabor e prolongar a sua vida útil. Isso torna-os práticos, mas hiperpalanques e com escasso valor nutritivo. Ademais, alguns dos aditivos e poluentes industriais podem:

  • Gerar stress oxidativo.

  • Disparar inflamação crónica.

  • Alterar a microbiota intestinal.

Todos eles factores que incrementam o risco de doenças cardiovasculares.

A outra cara do "plant-based"

Face os ultraprocesados, os alimentos não processados (frutas, verduras, legumes, ovos, lacticínios) e os minimamente processados (verduras congeladas, conservas ao natural, óleos, sal, ervas) oferecem nutrientes essenciais, fibra e antioxidantes que protegem o coração e melhoram a saúde geral.

Por exemplo, substituir um pequeno-almoço de cereais açucarados por um à base de aveia integral, frutas frescas e frutos secos não só dá energia mais estável, como reduz marcadores de inflamação e melhora o perfil lipídico.

OCU Ranking: Quais são as “carnes” vegetais que estão na liderança?

A Organização de Consumidores e Utilizadores (OCU) avaliou as principais alternativas vegetais ao bife e à salsicha. Estes foram os produtos mais bem classificados no seu último relatório:

  1. Ahimsa BioBurger Vegetal (Tofu e algas)

  2. My Best Veggie (Lidl) – Rulo vegetal (Tofu e algas)

  3. O Granero Integral – Hambúrguer de soja Bio

  4. GERBLÉ – Hambúrguer (Tofu e cogumelos)

  5. Kioene (Mercadona) – Hambúrgueres vegetais com beringela

Embora tenham uma pegada de carbono inferior à da carne, a OCU salienta que continuam a ser ultra-processados e que devem ser consumidos com moderação.

Impacto ambiental dos ultraprocessados vegetais

Para além da saúde, os alimentos ultraprocessados também geram um importante custo ambiental:

  • Consumo de energia e água: as etapas industriais de processamento, embalado e transporte requerem grandes quantidades de recursos.

  • Resíduos plásticos: grande parte destes produtos vendem-se em embalagens não recicláveis ou de um só uso.

  • Impressão de carbono: apesar de usar ingredientes vegetais, o seu processamento intensivo pode elevar as suas emissões até aproximá-las às da carne processada.

Para diminuir este impacto, é essencial priorizar produtos locais e de época, bem como reduzir o uso de embalagens plásticas.

Leguminosas: a chave para a sustentabilidade e a saúde

Uma das soluções mais eficazes tanto a nível nutricional como ambiental é incrementar o cultivo e consumo de leguminosas (lentejas,(lentilhas, grão-de-bico, feijão, ervilhas):

  • Nutricionalmente: Dão proteína de qualidade, fibra, vitaminas do grupo B e minerais como ferro e magnésio.

  • Meio ambientalmente: Fixam nitrogênio no solo, melhoram a fertilidade e requerem menos água que muitos cultivos.

  • Económicas e sociais: Fomentam a agricultura local e reduzem a dependência de importações.

Em Espanha, o aumento da produção de leguminosas indígenas não só melhora a dieta, como também contribui para a resiliência climática e a conservação dos solos.

Como comer "plant-based" de forma saudável e sustentável?

  1. Prioriza o fresco ou minimamente processado: frutas, verduras, legumes, cereais integrais e frutos secos.

  2. Lee as etiquetas: evita produtos com mais de cinco aditivos desconhecidos.

  3. Cozinha em casa: reduz o consumo de pratos preparados.

  4. Varia as fontes de proteína vegetal: leguminosas, tofu, tempeh, frutos secos e sementes.

  5. Controla açúcares e gorduras acrescentadas: modera sumos, bebidas açucaradas e snacks ultraprocessados.

  6. Apoia a produção local de leguminosas: procura variedades tradicionais e de proximidade.

Uma dieta baseada em plantas pode ser excelente para a saúde e o planeta se fundamenta-se em alimentos naturais e minimiza os ultraprocessados. Este estudo e a evidência ambiental recordam-nos que não basta eliminar a carne; é crucial escolher sabiamente que vegetais levamos ao prato e fomentar sistemas agrícolas sustentáveis, com as leguminosas como protagonistas.