Tomeu Caldentey, o chef que renunciou a sua estrela Michelin: "Não me arrependo em absoluto"

Foi o primeiro cocinero mallorquín em conseguir o prestigioso galardão, mas faz quase cinco anos anunciou a perda do prêmio

El chef Tomeu Caldentey   TOMEU CALDENTEY
El chef Tomeu Caldentey TOMEU CALDENTEY

Em 2004, Tomeu Caldentey (Sant Llorenç, 1972), convertia-se no primeiro cocinero mallorquín em conseguir uma estrela Michelin com seu restaurante Molí d'em Bou, localizado no norte da ilha. Após 15 anos consecutivos, o chef anunciou que fechava aquele estabelecimento, renunciando assim ao prestigioso galardão.

Caldentey decidiu reinventarse em novo conceito e com um novo restaurante que se localiza exactamente no mesmo local: Tomeu Caldentey Cuiner. Agora, o cocinero conta a Consumidor Global os motivos que lhe levaram a perder sua estrela e quais são seus principais objectivos.

--Como e por que se adentra no mundo da cozinha?

--Quando terminei os estudos primários, tinha poucas opções naquele momento. Não tinha a oferta educativa de hoje em dia e a mim não me apetecia muito as opções que tinha tão pouco atraentes. Um dia, não sê por que, lhes comentei a meus pais que queria ser cocinero e começamos a indagar. Descobrimos que tinha uma escola em Palma de Mallorca e comecei meus estudos de cozinha aos 14 anos, no ano 1986. Não tinha nem tradição familiar, foi um tema muito meu.

Uno de los platos cocinado por el chef Tomeu Caldentey FOTO CEDIDA
Um dos platos cozinhado pelo chef Tomeu Caldentey / FOTO CEDIDA

--Por que renunciou à estrela Michelin?

--Tínhamos tentado procurar outras vias com outros restaurantes aparte do principal onde tínhamos a estrela. Num momento determinado, desmontou-se todo o que era a estrutura organizativa de chefes dos diferentes estabelecimentos. Tentei rentabilizar o que era o restaurante com estrela Michelin e tentei remontar esta equipa, mas era complexo tudo a nível económico. Durante todo este processo eu ia reflexionando que aquilo era inviable tanto a nível económico como a nível emocional. Não me enchia, não desfrutava do trabalho e, por tanto, era mais um sofrimento. Desta maneira, mudei o conceito para chegar a mais gente e que se possa gerir com muito poquito equipa. A esencia da cozinha segue sendo a mesma, mas renunciando à estrela Michelin.

--Arrepende-se disso?

--Não, ao invés. Estou no momento mais doce e mais feliz a nível profissional dos últimos 20 e 25 anos. Não me arrependo em absoluto. De facto, anos atrás, quando me faziam alguma entrevista, dizia que este passo tê-lo-ia que ter dado faz 10 anos. Evidentemente, isto também não não é verdadeiro porque ao final chegas às coisas por uma experiência e por um bagaje. Estou muito satisfeito e acho que as coisas passam quando têm que passar. Após cinco anos desde que mudamos o conceito, estamos muito contentes do passo que demos.

--Como lhe mudou a estrela Michelin?

--A estrela Michelin parte de uma satisfação profissional. Eu acho que a estrela não te condiciona, o que te condiciona é onde tu queres ir. Ao final entras num bucle de querer fazê-lo melhor. Pensas que a gente vem aqui e espera umas coisas, pelo que te autoexiges melhorar, evoluir, ir a mais, etc. Tudo isto faz que se gere um distanciamiento do objectivo porque tu vais aumentando o preço ao dar mais prestações e te vais afastando a mais público. A cada vez era mais complexo e mais difícil rentabilizar o negócio Michelin. Não é uma pressão que te mete a Michelin, é uma pressão que te metes tu mesmo por querer o fazer melhor e para não defraudar a um cliente que paga um verdadeiro preço.

--Ainda que já não a tenha, o facto de lhe ter sido outorgada uma estrela Michelin já supõe um dantes e um depois em sua trajectória? Isto é, sua freguesia e nível tanto faz que dantes da ter e renunciar a ela?

--O perfil do cliente é diferente. Já não temos a uma grande parte de clientes que procuram a excelência gastronómica. É verdade que uma parte deste tipo de cliente o mantivemos, mas temos ampliado a outro público que quer desfrutar da gastronomia sem ter que viver uma experiência que lhe suponha um preço determinado. Ao final temos captado outro tipo de público perdendo a outro.

--A Guia Michelin Espanha tem celebrado sua edição 2026 este 25 de novembro, incorporando cinco novos restaurantes com duas estrelas e 25 que obtêm pela primeira vez uma. Que passaria se no futuro lhe propusessem conseguir outra estrela?

--Não queremos este galardão, o respeitando muitíssimo e o agradecendo muitíssimo. Estamos em outra história, em outra une, em outro jogo.

--Diria que o objectivo principal de um cocinero não é conseguir a estrela Michelin?

--Há muita gente que estuda cozinha e não o faz com intenção de ser um cocinero com estrela Michelin. O importante é desfrutar do oficio. Um oficio que não deixa de ser duro. O fundamental é desfrutar de cozinhar para os demais, ser generosos e dar o melhor de ti através da cozinha. Por tanto, não acho que seja o objectivo número um de qualquer cocinero. Respeito muito que seja uma meta para alguns cocineros. É verdade que há que enfatizar que uma estrela Michelin é a consequência de um trabalho bem facto e com uns regulares de qualidade.

--Qual é seu plato estrela?

--É um plato que a gente o fez a estrela. Nosso cliente decidiu-o assim. Este plato fizemo-lo no ano 2001. Por aquele momento, fazia um ano que tínhamos o restaurante aberto. Trata-se de um canelón de porco e pato com setas. Este é o único plato que eu mantenho sempre nestes menus e que o fazemos ininterruptamente desde o ano 2001.

--Quanto custa comer em seu restaurante?

--Temos um escalado de preços que vai desde 22 euros o menu de meio dia que fazemos na zona do bar. Depois está o restaurante onde fazemos os menus degustación. Há um de cinco platos a 39 euros, um de oito platos a 49 euros e um de dez platos a 69 euros. Por tanto, a gente pode vir a comer um menu de meio dia por 25 ou 28 euros, ou pode vir a fazer um grande menu de degustación de 10 platos que se pode ir a 80 e bico de euros ao lhe acrescentar as bebidas. Nosso leque é assim de amplo nestes momentos, partindo de uma base de uma cozinha muito honesta.

El chef Tomeu Caldentey / FOTO CEDIDA
O chef Tomeu Caldentey / FOTO CEDIDA

--Para comer com qualidade e luxo é necessário sempre pagar um custo alto?

--Evidentemente, há uns produtos gourmet, uns produtos que são caros, portanto, isto se tem que pagar. Mas para mim o luxo hoje em dia não é isto. Para mim o luxo é que te cozinhem com cariño um bom produto muito fresco, e que to sirvam com toda a amabilidad do mundo. Para mim isto é o luxo.

--Que significa e daí requer para Tomeu Caldentey um bom plato?

--Para mim um bom plato é aquele cozinhado com matéria prima de primeira qualidade e que seja tratado com muitíssimo respeito.