Não é México: este museu de Almería inaugura a exposição 'Cidade de Mortos'
A mostra rende homenagem a duas eruditos e supõe um percurso pelas origens da arqueologia moderna e os inícios do turismo

Carmona (Sevilla) é um município com mais de 4.000 anos de História. Por ali passaram fenicios, cartagineses (desta etapa conservam-se alguns restos de muralha no Alcázar da Porta de Sevilla), romanos (quando a cidade se converteu numa das mais importantes da província Bética), muçulmanos e cristãos. Uma das melhores mostras de sua riqueza patrimonial é a Igreja de Santa María, um espaço singular no que o carácter sagrado se perpetuou durante mais de 10 séculos.
"A soma de estruturas de diferentes épocas forma hoje um conjunto excepcional no que a igreja gótica assimila, usa e integra parte da mesquita muçulmana, e esta a sua vez utiliza elementos mais antigos, como o fuste com a inscrição de um calendário visigodo", explicam desde a página da Universidade Pablo de Olavide.
Cidade de Mortos
Carmona é, em definitiva, um lugar onde o passado aparece robusto, palpable, regio. Agora, o Museu de Almería tem inaugurado a exposição 'Cidade de Mortos', uma mostra procedente do Conjunto Arqueológico de Carmona que comemora os 140 anos da abertura ao público da necrópolis romana desta localidade, o 24 de maio de 1885.

A abertura deste espaço sentou as bases da museografía arqueológica em Espanha e "marcou toda uma meta ao ser o primeiro yacimiento musealizado do país, e um dos primeiros de Europa", segundo tem indicado a Administração autonómica.
Melhorar o conhecimento do património arqueológico
A diretora geral de Museus e Conjuntos Culturais, Aurora Villalobos, tem destacado que "se trata do primeiro projecto expositivo realizado conjuntamente entre o Museu de Almería e o Conjunto Arqueológico de Carmona, duas instituições que põem em diálogo o legado de Siret e Bonsor para melhorar nosso conhecimento do património arqueológico andaluz".
Comisariada por Ignacio Rodríguez Temiño, José Ildefonso Ruiz e Tanía Fábrega, a mostra, que poderá se visitar até o próximo 16 de novembro, se divide em quatro grandes secções: '24 de maio de 1885, uma data para recordar', 'Uma casa para as musas', 'Um museu a céu aberto' e 'Uma de romanos'.

Experiência inmersiva
Estas secções combinam cenografias, peças originais de ajuares funerarios, documentos históricos, fotografias e planos, muitos deles inéditos ou raramente expostos, "para oferecer ao visitante uma experiência inmersiva".
Além de render homenagem à cidade de Carmona e sua necrópolis, a exposição destaca a figura de duas eruditos: Juan Fernández López e George Edward Bonsor. Ambos levaram a cabo um projecto pioneiro com a compra dos terrenos para realizar escavações durante mais de 20 anos, a abertura à visita do museu de lugar e a gestão turística que conseguiu incluir ao yacimiento carmonense nos incipientes circuitos turísticos europeus.
Homenagem à memória
Em 1925 morre Fernández López, e em 1930 Bonsor doa o conjunto ao Estado, que o declara Monumento Histórico-Artístico. Passa então a depender do Museu Arqueológico de Sevilla até 1992, quando se converte no atual Conjunto Arqueológico de Carmona. Por isso, 'Cidade de Mortos' "não só é uma exposição sobre a morte em Roma, senão uma homenagem à memória, a investigação, o património e a museografía".
Trata-se, por tanto, de "um percurso pelas origens da arqueologia moderna, os inícios do turismo e a tutela do património arqueológico".