Manuel Vilas, escritor: "No cérebro de Donald Trump está a obra de Kafka"

O autor aragonés apresenta, junto a Espido Freire e Sergio do Molino, a nova colecção de Aliança Editorial para promover a leitura dos clássicos

El escritor Manuel Vilas sentado en una terraza EDITORIAL DESTINO
El escritor Manuel Vilas sentado en una terraza EDITORIAL DESTINO

Aliança Editorial quer acercar e promover a leitura de autores clássicos, como Jane Austen, Franz Kafka ou Joseph Roth, através de sua nova colecção Duas tardes com.

Para isso, tem contado com o conhecimento e a criatividade dos escritores Espido Freire, Sergio do Molino e Manuel Vilas, que assinam três ensaios breves sobre os autores de Orgulho e preconceito, A metamorfosis e Fuga sem fim, entre outras obras mestres da literatura.

O dicionário kafkiano de Manuel Vilas

Vilas tem criado um dicionário kafkiano para poder compreender o "abrumador" e "inabarcable" trabalho do célebre escritor praguense.

El libro 'Dos tardes con Franz Kafka', de Manuel Vilas / ALIANZA EDITORIAL
O livro 'Duas tardes com Franz Kafka', de Manuel Vilas / ALIANÇA EDITORIAL

"Eu não sou um leitor de Franz Kafka, eu sou seu apaixonado", tem confessado o escritor aragonés na apresentação de Duas tardes com Franz Kafka.

"No cérebro de Trump está a obra de Kafka"

"A obra de Kafka segue vigente. Dantes dizia a um jornalista que no cérebro de Putin está a obra de Kafka, no cérebro de Donald Trump está a obra de Kafka, no cérebro da inteligência artificial está a obra de Kafka. Todas as angústias que vivemos em frente ao Estado, em frente à burocracia, seguem alentando toda a obra de Kafka. Quando um homem ou uma mulher se sentem atoxicados por uma burocracia, perseguidos pela lei ou pelo Estado, pela administração ou por Fazenda, está Kafka detrás", explica Manuel Vilas.

As recomendações do autor

"Com muita probabilidade, eu não ter-me-ia convertido em escritor se não tivesse lido a Franz Kafka, ou se a obra de Franz Kafka não existisse. Se tento apagar a obra de Kafka de minha alma, fico sem vocação literária", se sincera Vilas.

"Minha primeira recomendação é ler, como primeiro plato, as três narrações longas de Kafka: América, O processo e O castelo, por esta ordem", aconselha o escritor, quem acrescenta: "E depois o diário, os contos, a carta ao pai, os epistolarios, em fim, a obra completa. Kafka manda-te amorosamente que te leias sua obra completa. Não to manda. Tu sentes essa necessidade, por uma razão bem simples: qualquer frase de Kafka é um prodígio da vida. Por isso acabas te lendo não só a obra completa, sina todo quanto se escreveu sobre ele".

'Duas tardes com Jane Austen'

Por sua vez, Espido Freire assina um ensaio a respeito de Jane Austen, uma escritora que já tem estado presente a dois de seus livros. "Tivesse-me sentido quase ofendida se dentro da atribuição destes autores a mim não me tivessem escolhido para Jane Austen. Levo falando de Jane Austen mais de 20 anos, de uma forma ou de outra", aponta a autora caçoando.

Precisamente, Freire explica que com este breve livro pretende chegar a "muitos leitores homens", que não é o público habitual da britânica, e "desmitificar" a figura de Austen.

As chamadas novelas de regencia

"É conhecida a nível universal mas muito desconhecida a nível privado. Portanto há muita margem para acercar a sua obra (...) Há todo um mundo gerado em torno de sua vida, a seu universo, as chamadas novelas de regencia que em muitos casos manifestam qual é o poder de atração e de influência que continua tendo esta autora, mas que também se apartam às vezes, se centrando unicamente em aspectos pontuas como podem ser as relações sentimentais, as relações amorosas. E esquecem aspectos menos atraentes mas igualmente interessantes na obra de Jane Austen. A ironía, por exemplo, a sátira", tem recordado Freire.

O alcoholismo de Josep Roth

O autor dA Espanha vazia, Sergio do Molino, estreia-se na nova colecção de Aliança Editorial com um retrato dedicado ao alcoholismo de Joseph Roth.

Portada de 'Dos tardes con Joseph Roth', de Sergio del Molino / ALIANZA EDITORIAL
Capa de 'Duas tardes com Joseph Roth', de Sergio do Molino / ALIANÇA EDITORIAL

"A Joseph Roth tenho-o por um de meus melhores amigos literários, uma presença íntima e constante que me aliviou noites escuras", assegura Do Molino sobre o grande novelista austríaco de origem judia. "Assim sou realmente: maligno, bêbado, mas lúcido. Joseph Roth", escreveu na dedicatoria de um autorretrato que se fez em Paris em novembro de 1938, seis meses dantes de sua morte.