Aline Neumann, fundadora de Método R, sobre os cremes antiedad: "O único antiaging é a morte"
Consumidor Global entrevista à fundadora da marca cosmética para analisar as rotinas de 'skincare' mais demandadas e entender as necessidades da cada dermis

Num mercado saturado de rotinas faciais infinitas e produtos com promessas milagrosas, surge uma voz que aposta pela sensatez e a ciência. Método R, a assinatura de alta cosmética fundada por Aline Neumann, reivindica que o verdadeiro cuidado da pele não precisa artificios nem excessos. Mais bem eficácia, singeleza e expectativas realistas.
Baixo a filosofia do slow aging, esta marca espanhola propõe simplificar o ritual diário e desterrar os mitos que rodeiam à beleza. Com fórmulas que concentram vários ativos num sozinho produto, Método R procura devolver ao consumidor uma relação mais consciente com sua pele. Consumidor Global entrevista a Neumann para analisar algumas destas questões.
--Em que consiste Método R?
--A primeira rotina que criámos foi a slow aging porque não cremos no antiaging, o único antiaging é a morte. Queríamos transmitir à gente uma mensagem razoável e criar expectativas realistas do que se pode conseguir com cosmética.
--Conte-me…
--Tu sobes um primeiro degrau com a cosmética, mas, se queres melhorar mais, tens que ir ao seguinte degrau, que é a medicina estética. Se queres mais, tens que subir ao degrau da cirurgia. As mensagens que víamos eram "tiro arrugas em dois dias". Os clientes compravam os cosméticos com a ilusão de que lhes ia melhorar mais do que realmente se consegue melhorar com cosméticos. Passa até com a mais alta concentração e com o melhor cosmético do mundo. O que podes chegar a conseguir com cosmética tem um limite.
--E como é sua rotina?
--Começamos a falar de slow aging em lugar de antiaging. Há duas rotinas, uma para peles normais e secas e outra para peles gorduras ou mistas. Ambas incluem quatro produtos. Temos misturado ingredientes de forma muito inteligente para que uns potencien aos outros e que todos os serums estejam num só. A função principal da pele é ser barreira. Se tu te pões dez produtos, chega um momento que a dermis diz: 'Basta!'. Todo o que te ponhas depois, estás a atirar o dinheiro.
--Leva vinculada ao sector cosmético 25 anos, temos agora maior consciência sobre o cuidado facial?
--Eu acho que o sector tem evoluído de algo muito aspiracional e sensorial a algo bem mais técnico e cientista. De facto, quando falo com as jornalistas de beleza, me surpreende a informação técnica que têm. Isso é muito positivo, mas há que aprofundar na informação técnica.
--Por exemplo?
--O tema das concentrações dos ingredientes. Falou-se muito disso. Uma vitamina C por embaixo do 8% não tem nenhuma eficácia. Tem uma concentração óptima que é de 8 ao 15%. Mas a partir de 15% demonstrou-se que não tem maiores benefícios e irrita mais. Há que procurar a concentração óptima, não a máxima concentração. Falar tanto de concentrações também tem levado aos consumidores a achar que quanta mais melhor e não sempre é assim.
--Com que novidade ides surpreender ao público esta temporada?
--A inspiração para fazer este novo produto tem sido meu filho. Sendo filho de dermatólogo e formuladora cosmética não se punha nada para seu acné. Não lhe preocupava tanto e lhe dava muita pereza se pôr qualquer coisa. Tentamos procurar algo que fora muito fácil e temos feito hidroxiácidos, que são exfoliantes químicos, num formato mais singelo, a bruma. Não tens que tocar a pele. São três puffs na cara e também se pode utilizar em braços. Funciona muito bem também porque tem niacinamida e ácido azelaico, além dos hidroxiácidos mais conhecidos, que são o ácido glicólico e o salicílico.
--Ou seja, que o novo produto é uma bruma antiacné para jovens.
--Sim, mas não gostamos de metê-lo na lacuna de antiacné. Preferimos dizer purificadora porque realmente o que faz o ácido acelaico é purificar, limpar o poro e tirar os pontos negros. Está formulado para pele gordura, com poros grandes e dilatados, é para uma pele jovem com tendência ao acné, ainda que qualquer pessoa com pele gordura pode-se beneficiar.
--Muitos de seus produtos contêm ingredientes amplamente utilizados como a vitamina C, o retinol, o ácido hialurónico ou a niacinamida, em que se diferenciam do resto?
--Nós não queríamos inventar a roda, queríamos encontrar as melhores formas da utilizar. Temos ingredientes ativos buenísimos que funcionam de maravilha e que têm uma evidencia científica detrás muito ampla. Temos revolucionado pondo muitos ingredientes em muito poucos produtos. Por exemplo, nosso creme de noite com retinol tem, além de retinol liposomado, niacinamida, pantenol e ácido hialurónico liposomados para melhorar a eficácia. É um creme com muitos ativos num sozinho produto. Fizemo-lo para simplificar a vida de nossos clientes.
--Tendo em conta a grande variedade de marcas que existem no sector cosmético, está justificado o elevado preço da alta cosmética?
--O preço não está vinculado à qualidade. Que um creme custe 500 ou 1.000 euros não quer dizer que seja melhor que um creme que custa 60 euros na farmácia. Formular nosso creme Confort é carísimo. Utilizamos cosméticos que são mais cinco vezes caros que outros da concorrência, cujo creme custa cinco vezes mais que a nossa. É verdade que não é o mesmo um creme com muita ciência detrás que um creme de 4 euros. Um creme de 4 ou 10 euros… Sozinho o suco de meu creme custa mais que isso. E depois há que acrescentar o packaging, o transporte… Nossos cremes são muito caros de formular. Têm uma relação qualidade-aprecio excepcional, mas não há ingrediente cosmético no mundo que justifique uns preços desorbitados.
--A que achas que se deve o sucesso de marcas brancas como Deliplus?
--Eu acho que num momento dado o consumidor começou a se dar conta de que o marketing na cosmética estava a enviar mensagens que não eram realistas e tem começado a perder credibilidade. Estas marcas têm surgido com um marketing muito bom de que uma cosmética de qualidade não tem que ser muito cara, que também é verdadeiro. Mas nem tanto nem tão pouco.
--Marcas como L'Oréal destacam especialmente por suas mensagens de cosmética antiaging, como se deve enfrentar o envejecimiento desde um ponto de vista cosmético?
--Tens que procurar a melhor versão possível de tua pele a tua idade. Equivocámos-nos muito na busca de parecer mais jovens. Temos que procurar saúde. A pele é o órgão maior do corpo humano e está em contacto com todo nosso ser. Tem a mesma origem embrionario que o cérebro. Mantê-la saudável tem que ser o objectivo e não parecer mais jovem.
--A cosmética coreana arrasa entre os jovens e em TikTok, que opinião lhe merece?
--Mais que opinião é um facto. Viu-se muito nas clínicas de dermatología a jovens com problemas cutáneos a raiz dessas rotinas que não são adequadas para eles. Não quero dizer que em cosmética coreana não tenha produtos bons, há produtos que individualmente sim o são, mas essa febre de se pôr um montão de produtos que, às vezes, não são compatíveis entre eles… Nossa pele é permeable.
--A cada vez começamos dantes a cuidar-nos a dermis.
--Se desde os 11 anos estás a pôr-te cosméticos em tua pele… Hoje em dia começou-se a falar de possíveis efeitos endocrinos do uso excessivo de cosméticos. Se a cada vez os jovens começam dantes, o cúmulo ao longo dos anos pode ter efeitos em nossa saúde que ainda não sabemos. Nós desenvolvemos nossa linha de pele jovem com poucos ingredientes, mas muito bons. Nosso creme tem oito ingredientes, incluído o água. Há que ser muito cautos com a pele dos jovens e não a estragar, porque eles já têm uma pele que funciona bem e que é, em general, maravilhosa. Se têm uma doença como o acné, há que ir ao médico, não há que procurar produtos cosméticos nas perfumarias.