Se precisas sapatos para um casamento, segue os mandamientos da desenhadora Maribel Nicolás
A especialista de miMaO recorda os envolvimentos de comprar em "plataformas de venda em massa pouco éticas onde os preços são realmente ilógicos e surpreendentes"

A marca espanhola calçado miMaO nasceu faz quase uma década com uma aposta forte pelo made in Spain em forma de modelos que "revolucionam o clássico com um toque moderno", explicam em seu site. Com esse particular tesón luminoso, próprio de Elche, que é ao mesmo tempo obstinado e otimista, deram "um giro ao negócio do calçado" e se especializaram "na venda de um produto de alta qualidade, máxima comodidade, com as melhores peles e sempre sem perder de vista as tendências e as cores".
Agora têm elaborado uma encuesta para dar resposta a uma série de perguntas que surgem a cada primavera: quanto tempo dura uma convidada numa comunión com sapatos de salto, que é o que mais se valoriza à hora de eleger sapatos, se faz sentido se calçar umas alpargatas às três da manhã num casamento… Falamos com Maribel Nicolás, desenhadora da assinatura.
-Um dos dados mais llamativos do estudo é que, à hora de eleger calçado para eventos, o 69% das interrogadas diz priorizar a comodidade à estética. Que lição extrai disto?
-O verdadeiro é que levamos um tempo nos dando conta de que a preferência de consumo das mulheres espanholas está a mudar: a cada vez somos mais responsáveis com nossa saúde podal. A cada vez somos, também, mais conscientes da importância do cuidado em general. Por isso, em verdadeiro sentido, nos estamos desempolvando ou nos tirando essa ideia de que pára presumir há que sofrer. Já se ficou antiquada. A cada vez somos mais conscientes de que a beleza não tem por que ir em contraposição com a sensação de comodidade. Podem-se aunar ambas facetas e é algo que em miMaO fazemos desde nossa origem. De facto, é no que nos especializámos e no que investimos muitas horas de estudo técnico com maestros horneros, com artesãos, com tecnologia… A priori, ambas esferas parecem contraditórias, mas realmente têm que confluir para que o calçado seja o idôneo.

-Ao respeito dessa ideia de que pára presumir há que sofrer, poderia se pensar que essa máxima se desterra já na adultez, mas seu estudo reflete que não é exactamente assim.
-De facto, são as novas gerações e as mulheres jovens as que têm fomentado a mudança de mentalidade. Há que ter em conta que os jovens têm crescido e vivido no dia a dia com sapatilhas, pelo que se lhes conhece como integrantes da geração sneaker. É um dos reptos aos que nos enfrentamos as empresas de calçado: estas consumidoras que se incorporam ao mercado tendem a ter um pé no que o metatarso está aberto, já que se acostumou durante muito tempo a um calçado largo.
Para elas, agora mesmo é quase inviable introduzir o pé num stiletto, numa ponta demasiado afiada… Seu pé já está feito a um tipo de calçado desportivo. E são estas mulheres as que nos estão a dar muitas lições às mulheres mais maduras que vimos de outros conceitos, que são produto, a sua vez, de uma herança sociocultural.
-O estudo indica que em mais de 37% dos casamentos os noivos não presenteiam sapatos de altero para as convidadas. Os noivos têm que se pôr as pilhas?
- [Ri.] Posso-te contestar como assistente a casamentos. Acho que é um dia muito bonito para desfrutá-lo, vivê-lo e não estar de etiqueta, sina realmente te relaxar e compartilhar com os noivos esse momento especial. Ao final o calçado limita-te muito, e normalmente elegem-se sapatos de salto muito alto, plataforma… Isto é assim porque, quando uma mulher se põe um sapato mais elevado, parece mais delgada, a perna se estiliza, visualmente é mais longa, e ademais tem um impacto a nível psicológico: algumas mulheres sentem-se mais empoderadas.

Mas a realidade é que, se ademais não estás habituada a esse tipo de sapato e de salto, tua pele e tuas costas se resentirán, mais ainda se te pões a dançar e a desfrutar para valer. Ultimamente, em alguns casamentos estava-se popularizando presentear aos convidados esse calçado de reposto, porque estava muito assimilado que, a uma determinada hora, a maioria de mulheres não podem mais com seus pés. Era algo socialmente aceitado. Acho que optar por um calçado que, como opção 1, seja cómodo, é algo que a cada vez se propõem mais mulheres.
-A encuesta reflete que o 70% das interrogadas está disposta a gastar 50 euros ou mais em seus sapatos para estes eventos, enquanto quase um 30% não o está. Que opina ao respeito?
-As percentagens não estão desagregadas por faixa de idade, mas provavelmente seja o público mais jovem o que tem um poder adquisitivo menor e o que decide gastar menos. Também são os jovens os que estão acostumados a plataformas de venda em massa pouco éticas, onde os preços são realmente ilógicos e surpreendentes. As mulheres com mais idade, que têm mais experiência vital, valorizam mais a qualidade. Creio, com tudo, que desde a pandemia se valoriza mais o slow-fashion e que há quem preferem comprar um artigo que seja bom a 7 que sejam maus e sem percurso. Quando os custos se abaratan muito, se recorta a qualidade dos materiais, o pagamento à mão de obra, a responsabilidade no processo de produção…

-Considera que essas plataformas (penso em Temu ou Shein) um perigo, num sentido amplo?
-A resposta é difícil. Incentivam compra-a compulsiva, com essa dopamina que gera o consumo instantâneo; utilizam fotos que em ocasiões estão um pouco trucadas… Estão numa linha um pouco difusa. Para um target de consumidor jovem, mais fácil de impactar ou de convencer, quiçá sim rozan pontos que não são éticos. Mas o que está claro é que são legais.
-Como se viram os valores de miMaO no desenho de um sapato?
- miMaO nasceu em 2016, e nesse momento rompemos muitos moldes. Agora temos protocolos estabelecidos e caminhos abertos. Temos fábricas que estão sócias, muito em sintonia, e o desafio que nos propomos é nos superar a nós mesmos. Ademais, estamos muito arropados por maestros horneros, tenerías, provedores… E temos conseguido criar uma comunidade ou um enxame de pessoas alinhadas em torno da ideia de não renunciar à moda, não renunciar a que o sapato seja bonito (porque fazer um sapato cómodo que não seja agradável aos olhos é relativamente singelo) nem a que seja muito feminino ou a que tenha um uso formal.

-Como valoriza o momento atual do sector do calçado espanhol?
-A partir da pandemia teve um crescimento, mas depois temos vivido momentos maus, especialmente a partir de 2023. A nível de vendas, miMaO está a desfrutar de um crescimento de 15%, que é um dado bastante superior à média, e estamos muito contentes por isso. Mas a realidade é que o sector calçado de Espanha não é alentadora. Está a baixar a taxa de produções e de fábricas, há muita crise… As empresas que têm sabido acompanhar a mudança nos padrões de consumo e estar em sintonia com os novos pensamentos são as que recolhem os frutos de todo o trabalho investido.
-Que conselhos dar-lhe-ia a uma convidada que tivesse que eleger seu calçado para um evento?
-Que não renuncie a nada. Que eleja o modelo com o que ela se senta maravilhosa, com o que se senta feliz como mulher e que ademais seja consciente de que, com ele, vai poder desfrutar da velada todas as horas que façam falta.