Esta é a postura dos experientes sobre a tecnologia nos colégios: "Não é a solução"
Ecrãs na escola: como educar aos menores no uso responsável do móvel sem cair na proibição total

Em Espanha, segundo o INE (Instituto Nacional de Estatística), mais de 69% dos menores de 12 anos já tem um móvel próprio, e a percentagem sobe rapidamente a partir dessa idade.
Em poucas décadas, os ecrãs têm deixado de ser uma promessa futurista para converter numa extensão de nossa cotidianidad. Estão nos bolsos, nas mochilas escolares, no lugar de trabalho, no lazer e até na forma de socializar. Tão arraigadas estão, que pensar numa vida sem elas soa mais a ciência ficção que a nostalgia.

Pela primeira vez na história recente, dá-se um investimento generacional sem precedentes: os filhos dominam melhor que seus pais uma tecnologia omnipresente, algo que tem tomado por surpresa a muitas famílias. Esta brecha digital, mais emocional que técnica, deixa ao mundo adulto com uma sensação de desamparo em frente à educação e protecção dos menores. O verdadeiro dilema não gira tanto meio à existência dos ecrãs, sina a como —e para que— as usamos.
Escolas no centro do debate: o repto real de educar em era-a dos ecrãs
Cataluña tem acendido o estopim do debate educativo depois de sua proposta de limitar o uso do móvel nos centros escoares até os 16 anos. A medida, impulsionada pelo Departament d'Educació, pretende frear o isolamento digital, melhorar o rendimento académico e proteger o bem-estar emocional do alumnado. Mas a pergunta persiste: Eliminar os dispositivos é avançar ou retroceder?

Para o psicólogo e educador Jaume Funes, conhecido por seu trabalho com adolescentes, o assunto não se resolve com uma ordem tajante. Numa recente intervenção no programa A Selva (no canal 3 Cat), foi claro: "Proibir não educa. Não é a solução, o fazes mais atraente...", revela. E vai para além: "Temos uma distância enorme entre o universo adolescente e o sistema oficial de aprendizagem".
Funes adverte que centrar o debate no objeto —o móvel— é um erro de base. O verdadeiro desafio está em ensinar a pensar, a questionar, a discernir. O dispositivo é só o palco; o que importa é o guion que lhe damos.
Que sentem os estudantes ante a proibição?
Desde a mirada do alumnado, as restrições podem ser incomprendidas ou inclusive hostis. Funes põe o foco na desconexão emocional que sentem muitos jovens para a escola: "Já custa os motivar a assistir, e ainda mais se se lhes impede usar o único dispositivo com o que realmente se vinculam ao mundo", explica.

O panorama complica-se quando o que se lhes oferece em classe se limita a visualizar PDFs, o qual não compete com o dinamismo e a interatividade à que estão acostumados fora do sala. Em palavras do experiente: "O que temos não é só uma crise pedagógica, sina um desajuste profundo entre as formas juvenis de aprender e as estruturas educativas herdadas do século passado".
Para além do veto: uma alfabetización crítica e urgente
A tecnologia não desaparecerá. O que sim pode mudar —e deve o fazer— é a maneira em que a integramos na vida dos mais jovens. A chave não está em eliminar ecrãs, sina em construir critérios para as usar com inteligência. Funes faz questão de que o foco deve se deslocar: do controle do aparelho à formação do pensamento. Em lugar de regular dispositivos, há que cultivar mentes capazes de filtrar informação, de formular perguntas relevantes, de usar a tecnologia como ferramenta, não como vício.

Do sala ao lar: um problema que também interpela às famílias
Boa parte do mal-estar social ante os ecrãs vem do lar. Muitos progenitores sentem-se superados por uma tecnologia que não dominam, mas que seus filhos consomem a diário. E com razão: as plataformas digitais estão desenhadas para reter nossa atenção a toda a costa, activando mecanismos cerebrais similares aos de substâncias adictivas.
O fenómeno tem sido definido como "economia da atenção", um sistema baseado em captar e monetizar o tempo que passamos em frente a um ecrã. Notificações constantes, scroll infinito, algoritmos que nos mostram só o que queremos ver... Tudo está pensado para que não soltemos o dispositivo.
Esta realidade tem motivado ao Colégio Oficial de Médicos de Barcelona a emitir um documento titulado A protecção digital de menores e adolescentes, onde se insta às instituições a responsabilizar também às grandes empresas tecnológicas, não só às famílias, no cuidado da saúde digital da infância.
A outra cara do dispositivo: riscos invisíveis, consequências reais
Não todo o uso do ecrã é negativo, mas o mau uso —abusivo, descontrolado, sem supervisão— sim pode deixar impressões profundas. Desde alterações do sonho e a alimentação, até transtornos emocionais, dificuldades de concentração ou sintomas de ansiedade, os indicadores são muitos e diversos.

A psiquiatra infantil Rosa Calvo resume-o com clareza: "Pensamos que a nossos filhos não tocar-lhes-á. Mas quando ocorre, as consequências podem ser graves, e difíceis de reverter". Isolamento social, perda de interesse por actividades que dantes desfrutavam, mudanças bruscas de humor ou dependência extrema do móvel são sinais de alarme que não devem se ignorar.
Para um pacto educativo e social em torno da tecnologia
O desafio que enfrentamos não é tecnológico, é humano. Implica que lares, escolas, instituições e empresas assumam sua quota de responsabilidade. Que se fomente o pensamento crítico desde a infância. Que se ensine a viver no mundo digital sem ser arrastados por ele.
O smartphone, a tableta ou o portátil não são o inimigo. O preocupante é um sistema que converte o tempo dos menores em moeda de mudança. E o urgente, formar gerações que não só usem tecnologia, sina que compreendam suas lógicas, seus riscos e suas oportunidades. Porque, em definitiva, não se trata de eleger entre ecrãs sim ou não, sina de saber quando, como, para que... e com que consequências.