Ametller Origem oculta a procedência israelita de seus cabos

Enquanto em outros produtos sim menciona-se o país, a corrente catalã identifica a localidade sem aludir directamente a Israel, num contexto marcado pela crise humanitária em Gaza

El consejero delegado y cofundador del Grup Ametller Origen, Josep Ametller   EP
El consejero delegado y cofundador del Grup Ametller Origen, Josep Ametller EP

Ametller Origem, uma das correntes de supermercados mais conhecidas de Cataluña, vende cabos de origem israelita sem identificar claramente o país de procedência. Em lugar de mencionar Israel, a empresa tem optado por indicar em etiqueta-a la localidade de Shoham, situada entre Tel Aviv e Jerusalém.

A polémica surge num momento delicado, no meio de uma fome extrema que golpeia à população da Faixa de Gaza. Conquanto as autoridades israelitas têm afirmado ter permitido o acesso de ajuda humanitária, a Organização das Nações Unidas (ONU) tem advertido que a situação alimentar "nunca tinha sido tão grave", com dezenas de mortes reportadas por desnutrición.

Um etiquetado "diferente"

Segundo a informação de Crónica Global, tanto nas lojas físicas como na página site de Ametller, os cabos se apresentam com a origem Shoham. Isto chama a atenção, já que em produtos como o aguacate ou o limão, Ametller sim inclui o país, mencionando a Peru e África do Sul, por exemplo.

Mangos de Israel en Ametller Origen Crónica Global
Cabos de Israel em Ametller Origem / Crónica Global

Esta diferença no etiquetado resulta llamativa, sobretudo se considera-se que o código ético de Ametller estabelece o compromisso de "actuar com absoluto e constante respeito aos direitos humanos proclamados na Declaração Universal dos Direitos Humanos, adoptando as medidas necessárias para assegurar não ser cúmplice de nenhuma vulneración dos mesmos", como se extrai no documento.

Precedentes com dátiles de territórios ocupados

Não é a primeira vez que a corrente catalã se vê salpicada pela comercialização de produtos israelitas. Em 2024, um relatório da ONG Justiça Alimentar revelou que Ametller vendia dátiles medjool de Israel, procedentes em muitos casos de assentamentos ilegais em territórios palestinianos ocupados, como Cisjordânia e os Altos do Golán.

Segundo dados oficiais, cerca do 15% dos dátiles que se vendem em Espanha provem/provêm de Israel. Empresas exportadoras como Mehadrin, Carmel-Agrexco ou Hadiklaim costumam utilizar marcas brancas ou nomes neutros como "Ilha Bonita", "Carmel", "King Solomon" ou "O Monaguillo" para evitar a rejeição dos consumidores que apoiam campanhas de boicote a produtos israelitas.

Agricultura em contexto de ocupação

Israel, pese a suas limitações hídricas e seu clima desértico, tem convertido a agricultura –sobretudo o cultivo de dátiles– num potente motor de exportação. Em 2022, o país foi o maior exportador mundial de dátiles, com vendas superiores aos 285 milhões de euros.

O problema é que boa parte desta produção se leva a cabo em territórios ocupados, conceituados ilegais pelo direito internacional. O benefício económico destes cultivos, segundo a Rede Solidária Contra a Ocupação Palestiniana, alimenta o sistema de apartheid, deslocações forçadas e repressão da população local.