O povo ideal para uma escapada em Halloween: castelo medieval e lendas rodeado de natureza
Conheces a lenda do único povo excomulgado de Espanha? Em Consumidor Global contamos-te a maldição que rodeia a este povo de Zaragoza que já se converteu na visita oficial da noite dos mortos viventes

Nas saias do majestuoso Moncayo esconde-se Trasmoz, um pequeno município zaragozano que não chega à centena de habitantes, mas que guarda uma história tão escura como fascinante. É, nada menos, que o único povo oficialmente excomulgado de Espanha.
Seu passado entre a realidade e a lenda converteu-o num dos destinos mais singulares —e magnéticos— para quem procuram uma escapada diferente, especialmente em torno de Halloween, pué a localidade rende uma homenagem do mais especial a sua lenda nestas datas. Algo que o faz perfeito para receber as visitas de todos os amantes desta noite de Todos os Santos.
Trasmoz: um conflito eclesiástico que acabou em maldição
A história da excomunión de Trasmoz remonta-se ao ano 1255, quando um confronto pelos recursos naturais —água e lenha— entre os vizinhos do povo e o próximo Monasterio de Veruela acabou em tragédia espiritual. O conflito prolongou-se durante séculos e, em 1511, o abad do monasterio decidiu ir para além: lançou uma maldição sobretudo o povo, com o beneplácito do papa Julio II. Desde então, nenhuma autoridade eclesiástica tem levantado essa condenação, e Trasmoz segue, sete séculos depois, oficialmente maldito.
Longe de ocultar sua fama, os habitantes deste rincão aragonés têm aprendido a conviver com ela e inclusive à converter em sua melhor carta de apresentação. Hoje, o que em seu dia foi uma maldição se transformou numa poderosa atração turística.
O castelo das bruxas
O principal emblema do município é seu castelo medieval, uma fortaleza do século XII que domina a paisagem e alimenta as lendas. Diz-se que em seus muros se reuniam as bruxas do Moncayo para preparar pócimas, pronunciar conjuros e tramar feitiços baixo a lua cheia.
Estas histórias inspiraram a Gustavo Adolfo Bécquer, quem, durante sua estadia no monasterio de Veruela, dedicou ao castelo três de suas célebres Cartas desde minha cela (1864). Desde então, o nome de Trasmoz ficou unido para sempre ao mistério e a magia.
Hoje o castelo pode-se visitar. Em seu interior alberga o Museu da Torre, o Caballero e a Brujería, onde se expõem peças achadas em escavações e objetos relacionados com a tradição esotérica do povo. É um espaço que combina história, lenda e uma cuidada posta em cena para fazer as delícias dos amantes do turismo misterioso.
Um Halloween único: a Luz das Ánimas
A cada 31 de outubro, Trasmoz viste-se de sombras e luz ténue para celebrar um dos eventos mais esperados do ano: a Luz das Ánimas. A noite de Todos os Santos se converte numa experiência coletiva, na que os vizinhos percorrem as ruas com tochas numa procissão silenciosa que rende homenagem aos difuntos. A mistura de silêncio, fogo e pedra antiga cria uma atmosfera única, entre o ritual e o teatral.
O resto do ano, o povo mantém seu esencia tranquila e acolhedora, ideal para passear por suas ruas empedradas, descobrir olhadores naturais ou acercar-se ao próximo Parque Natural do Moncayo, um enclave perfeito para o senderismo e a observação de fauna.
O atractivo do maldito
O sucesso da feira e o renovado interesse por Trasmoz devem-se, em grande parte, à fascinación que acorda o mundo da brujería. "Tem mais encanto e curiosidade que outros temas históricos", confessa Lola Ruiz, uma das organizadoras do evento. No entanto, quem acercam-se atraídos pelo esotérico descobrem também um rico património histórico e natural, desde o Monasterio de Veruela até as próximas localidades de Borja e Tarazona, sem esquecer as múltiplas rotas senderistas do Moncayo.
O caso de Trasmoz demonstra que, com imaginación e bom fazer, a história local pode se converter em motor de cultura e desenvolvimento rural. O que em outro tempo foi uma condenação espiritual é hoje uma fonte de orgulho e de visitantes.
De povo maldito a ícone cultural
A fama de Trasmoz tem traspassado fronteiras. Programas como Quarto Milénio, a BBC, Onda Zero ou o Heraldo de Aragón têm dedicado reportagens a sua exclusividade. E é que resulta difícil se resistir ao magnetismo de um povo que segue oficialmente excomulgado, onde a magia se mistura com a história e onde a cada pedra parece ter algo que contar.
De modo que se este outono procuras um plano diferente, entre o mágico e o histórico, aponta o nome de Trasmoz em tua lista. Pode que não levantes a maldição do lugar, mas sem dúvida cairás baixo seu feitiço.
Não te percas a Feira de Brujería: um verão com encanto aragonés
Se há um momento em que Trasmoz se enche até os topos, é em julho, quando se celebra a Feira de Brujería, Magia e Plantas Medicinales do Moncayo. O que começou como uma iniciativa modesta da Prefeitura se converteu numa Festa de Interesse Turístico em Aragón, capaz de atrair a milhares de visitantes (em algumas edições, mais de 6.000) a um povo que habitualmente mal tem 60 vizinhos.
Durante todo um fim de semana, as ruas se transformam num mercado medieval repleto de postos de artesanato, ervas curativas, amuletos e pócimas mágicas. Não faltam os pasacalles encabeçados pelas "bruxas" do povo e "O yerbero de Trasmoz", acompanhado de música, dança e teatro ao ar livre. Entre os momentos mais esperados figuram a caça de bruxas, o julgamento público e a maldição do povo, recreaciones históricas que combinam humor, dramatismo e uma boa dose de folclore.
Também há exibições de cetrería, espectáculos de magia, combates medievales no castelo e degustaciones gastronómicas com produtos locais. Todo isso enquadrado num meio de conto, aos pés do Moncayo, onde o tempo parece se ter detento.