Valladolid inaugura a primeira casa museu do escritor Miguel Delibes
Um espaço permanente e gratuito que recreia seu universo mais íntimo e literário do autor de 'O caminho', ainda que a família confessa a "tristeza" de desmantelar seu lar original

Miguel Delibes já tem um novo lar em Valladolid. A cidade que o viu nascer tem aberto a primeira casa museu dedicada ao escritor, um esperado projecto expositivo localizado no emblemático Palácio do Licenciado Buraco. Desde hoje, os leitores e admiradores poderão adentrarse na vida e obra de um dos gigantes da literatura espanhola do século XX.
"Estamos persuadidos de que Miguel Delibes deve ser de todos. Sua casa deve estar a disposição da gente que o admira e quer", afirmava seu filho, Miguel Delibes de Castro. Este novo lar não é só o do escritor, sina também o de suas imortais personagens como o de Cecilio Rubes e seu filho Sisí, o de Lorenzo o caçador, ou o de Menchu Sotillo e Mario, protagonistas de Cinco horas com Mario.
O triste desta inauguração
No entanto, a inauguração do espaço, concebido como a "sexta casa" do escritor, tem estado teñida de uma agridulce emoção. Delibes de Castro tem confessado o "verdadeiro desconsuelo, rayando a tristeza" que tem suposto para a família esvaziar a casa original do autor.

"Durante quinze longos anos a casa de Miguel Delibes tem permanecido como ele a tinha deixado, e desmantelar suas habitações tem sido como arrancar a costilla de uma ferida que tem voltado a sangrar", tem relatado.
Delibes em três espaços
O presidente da Junta, Alfonso Fernández Mañueco, tem descrito o projecto como "um tributo devido" que se apresenta de maneira "moderna e atraente". Casa-a museu estrutura-se em três áreas temáticas desenhadas para submergir ao visitante no mundo Delibes:
- O lar íntimo: aqui recreiam-se com um realismo surpreendente o salão, o despacho e o dormitório do escritor, utilizando seus muebles e enseres pessoais. Um reflexo de sua vida quotidiana, onde foi "escritor, jornalista, desenhista, caçador, pescador e um paseante impenitente".
- O alma de Castilla e a natureza: este segundo espaço explora sua profunda conexão com o meio rural e sua terra. Uma homenagem a sua faceta de "ecologista dantes de que se difundisse esse conceito", que soube capturar como ninguém o alma de Castilla e León e a vida de suas gentes.
- El escritor e suas criaturas: a terceira sala está dedicada a sua obra, sua memória e suas personagens. Através de livros, documentos originais, fotografias, prêmios e outros objetos, o visitante pode percorrer a monumental carreira literária de um autor que, como ele mesmo dizia, "escrevia como falava", com o castelhano mais puro e autêntico.
Um novo foco cultural e turístico para Valladolid
Tanto o presidente da Junta como o prefeito de Valladolid, Jesús Julio Carnero, têm coincidido em assinalar este novo espaço como um "grande recurso turístico" e um "escaparate formidable" para a cidade e a comunidade. Mañueco tem destacado que "hoje oferecemos um projecto expositivo, atrayente, gratuito e aberto a todos", que se converte numa referência indispensável para conhecer em profundidade a figura do autor.
Carnero tem qualificado no dia como a culminación de "um sonho perseguido durante muitos anos" e tem aproveitado a ocasião para lançar uma reivindicação direta ao Governo de Espanha: que o aeroporto de Valladolid seja rebaptizado com o nome do escritor. "Por que os granadinos podem ter em seu aeroporto o nome de Federico García Lorca? Ou por que os alicantinos o de Miguel Hernández?", perguntou-se. "É uma reivindicação que seguimos mantendo. Quem tenham que dar o passo, que o dêem, faz favor".