Adeus pechinchas Shein: os impostos de Trump desmantelam a atividade do gigante chinês
A plataforma asiática enfrenta um dos maiores desafios desde a sua fundação, na sequência do endurecimento das políticas comerciais dos EUA.

A sombra das novas tarifas impostas pelos Estados Unidos paira sobre a Shein, numa altura em que a empresa se prepara para a sua tão esperada IPO em Londres.
A plataforma asiática de moda ultra-rápida enfrenta um dos maiores desafios desde a sua fundação em 2012, uma vez que o endurecimento das políticas comerciais sob a nova administração de Donald Trump ameaça desequilibrar o seu modelo de negócio e abrandar o seu crescimento meteórico.
Impostos de 145%
Até agora, a Shein - tal como outras plataformas chinesas como a Temu ou o AliExpress - beneficiava de uma isenção tarifária que permitia que as encomendas inferiores a 800 dólares (704,80 euros) fossem enviadas diretamente da China para os consumidores norte-americanos sem pagar impostos.

Este sistema foi fundamental para manter preços ultra-competitivos em relação a gigantes ocidentais como a Inditex ou a H&M. No entanto, a nova política americana põe fim a esta vantagem: a partir de maio, será aplicada uma taxa fixa de 75 dólares (66,08 euros) por encomenda, que passará para 150 dólares (132,15 euros) em junho. Além disso, certos produtos serão sujeitos a novas tarifas que atingirão 145%, um valor sem precedentes na história recente do comércio entre a China e os Estados Unidos.
Um golpe no pior momento
O golpe não podia vir em pior altura. Os Estados Unidos representam 28,2% do volume de negócios da Shein, sendo o seu mercado mais importante, com vendas no ano passado que atingiram 14,1 mil milhões de dólares (cerca de 12,5 mil milhões de euros), segundo o El Economista. No total, estima-se que a Shein feche 2024 com uma faturação de 50 mil milhões de dólares, mais do dobro do que em 2022.
Ao contrário dos seus concorrentes ocidentais, a Shein baseou o seu crescimento num modelo de exportações diretas da China, sem centros de distribuição regionais, o que se torna agora o seu calcanhar de Aquiles face às novas tarifas. O banco de investimento Nomura estima que as plataformas chinesas geram até 46 mil milhões de dólares por ano com este modelo, que poderá desmoronar-se com as novas políticas fiscais.
Entrada na Bolsa
Paralelamente a esta tempestade comercial, a Shein acaba de obter a aprovação da Autoridade de Conduta Financeira do Reino Unido (FCA) para a sua OPI em Londres, depois de ter sido rejeitada pelas autoridades da bolsa dos EUA. No entanto, a empresa precisa ainda da aprovação da Comissão Reguladora do Mercado de Valores Mobiliários da China para concluir a sua estreia na bolsa de Londres.
A plataforma, fundada por Chris Xu em Guangzhou e presente em mais de 150 países, gere o seu negócio europeu a partir da Irlanda e está presente na Polónia e Itália. Ainda que não opere dentro do mercado chinês, conta com uma sólida base de consumidores em países como Alemanha (6,6% da sua facturação), Reino Unido (6%), França (5,4%) e Japão (4,3%). Espanha também figura entre os seus dez principais mercados, com 3,6% das suas vendas globais, o que equivale a 1.580 milhões de euros.